Programa oferece cursos livres nas áreas de Artes Visuais, Circo, Dança, Música e Teatro para alunos da rede estadual
A deputada Beatriz Cerqueira falou sobre a importante função social do programa

Alunos do Valores de Minas pedem transporte e continuidade

Programa mantido pelo Governo do Estado oferece cursos livres de artes a jovens da rede estadual.

05/07/2019 - 15:44

“A arte salva”. A frase, repetida diversas vezes por alunos e professores do núcleo Valores de Minas, do Centro Interescolar de Cultura, Arte, Linguagens e Tecnologias (Cicalt), dá a medida da importância que tem o programa para essa comunidade escolar, formada, em sua maioria, por jovens em situação de vulnerabilidade.

Vinculado à Secretaria de Estado de Educação, o programa funciona nas instalações do Plug Minas, o Centro de Formação e Experimentação Digital do Estado, no bairro Horto, em Belo Horizonte.

O Valores de Minas, que oferece cursos livres nas áreas de Artes Visuais, Circo, Dança, Música e Teatro para alunos da rede estadual, recebeu, nesta sexta-feira (5/7/19), a visita da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A comunidade reivindica a liberação de recursos do Governo do Estado para garantir transporte escolar gratuito. Outras demandas referem-se à melhoria na manutenção do espaço e à ampliação das vagas.

A visita foi um desdobramento de audiência pública realizada pela comissão em maio deste ano, quando alunos e professores pediram o apoio dos parlamentares visando a reabertura dos cursos, cujas atividades estavam suspensas desde o início do ano.

Com a mobilização, as aulas foram reiniciadas no dia 17 de junho, mas a comunidade apresenta outras demandas. A principal delas é a liberação de recursos para o transporte dos alunos, já que a maioria reside em locais distantes da Região Metropolitana de Belo Horizonte, como Sabará, Ibirité e Contagem, e pertence a famílias socialmente vulneráveis.

“Viemos conhecer de perto o trabalho desenvolvido pelo núcleo e ouvir as reivindicações dos alunos e professores”, afirmou a presidenta da comissão, deputada Beatriz Cerqueira (PT). Ela destacou a importância de garantir condições de acesso aos estudantes, por meio de transporte gratuito, ampliando assim a oferta de vagas, já que muitos jovens, por não disporem de recursos para o deslocamento, deixaram de se matricular, conforme relataram alunos e professores.

A deputada explicou que da visita resultará um relatório detalhado com propostas a serem encaminhadas a órgãos públicos do Estado, solicitando o restabelecimento de verbas para o transporte escolar e melhorias nas instalações.

A destinação de recursos oriundos de emenda parlamentar seria também uma das alternativas, afirmou Beatriz Cerqueira. “Vamos disputar orçamento e dar visibilidade a esse programa que funciona num espaço fantástico e cumpre uma função social muito importante”, destacou.

A gestora do Cicalt/Plug Minas, Gláucia Marília Ferreira da Silva, informou que o projeto deverá passar por melhorias, como a implantação de uma biblioteca, através de parcerias com instituições como o Senac e Sebrae, entidades do Sistema S. O objetivo do governo, disse, é profissionalizar os alunos e prepará-los para o mercado de trabalho. As informações foram confirmadas pela representante da Subsecretaria de Educação Básica, Juliana Vieira.

O programa Valores de Minas existe há 15 anos, sempre com a oferta de cursos livres e com foco na formação cidadã. Até 2014, era vinculado à Secretaria de Cultura, passando, a partir de então, para a estrutura da Secretaria de Educação. O núcleo atende a 250 alunos, em turnos pela manhã e à tarde, mas o espaço comporta um número bem maior.

Alunos e professores pedem continuidade do programa

A proposta do Valores de Minas é elogiada por alunos e professores. Contudo, a comunidade acredita que muita coisa pode melhorar. Além da principal reivindicação, que é a volta do transporte escolar, eles querem a garantia de que não haverá novas interrupções no programa, como ocorreu no início do ano.

Representante do grêmio estudantil, Laura Leste, ex-aluna de curso livre, hoje matriculada no curso técnico de teatro do Cicalt, disse que o Valores de Minas mudou sua vida. “Significa uma transformação na vida de muitos jovens que não têm acesso à arte e à cultura”, afirmou.

Kaique Augusto de Assis, aluno de teatro, confirmou. “A arte literalmente salvou minha vida. Eu vivia em depressão e hoje até deixei a terapia”, relatou.

“Eu acordo às cinco da manhã, moro longe, no Barreiro, pego metrô lotado todo dia. Mas a experiência aqui é maravilhosa. A arte salva. Se não fosse essa experiência aqui, eu não seria a pessoa que sou hoje”, disse Gabriel Sampaio, aluno de teatro.

O mesmo afirmou Suellen Ohana, aluna do curso livre de música, ressalvando, porém, que o governo precisa liberar recursos para o transporte. “Tem alunos aqui vendendo doces pra poder pagar o transporte”, lamentou.

O depoimento de Suellen é confirmado por Marcelo Augusto Santos Rocha, de Sabará, que desde a retomada do curso, em junho, tem gasto mais de R$ 30 por dia com passagens, garantindo, além do seu próprio transporte, o do colega Anderson Cândido. “Muita gente desistiu por falta de dinheiro pra passagem e conheço alunos que caminham seis quilômetros todo dia para chegar aqui”, relatou.

Jonata Vieira, ex-aluno de artes visuais do núcleo, atualmente professor de artes da rede estadual, afirmou que o Valores de Minas mudou sua vida, abrindo as portas para estudar na Escola Guignard e para a Faculdade de Artes Plásticas. “O curso livre, para mim, foi muito importante, ampliou minha visão de mundo e promoveu a minha autoafirmação. Por isso, acompanhamos com atenção tudo o que está acontecendo, para não haver retrocesso”, disse.

Natural de São Paulo, William Herrera, professor de artes circenses, destacou “o engajamento, o respeito e a troca de vivências” que o programa proporciona.