Participantes de audiência cobram políticas para os idosos
Comissão de Direitos Humanos debate formas de prevenir e combater a violência contra essa parcela da população.
25/06/2019 - 20:37A negligência e as violências psicológica e financeira estão à frente das agressões físicas no ranking de atos hostis contra idosos denunciados no disque 100, número que recebe anonimamente denúncias de violações de direitos humanos. Dados sobre o tema foram apresentados por Rodrigo Caetano Arantes, ex-presidente do Conselho Estadual da Pessoa Idosa, em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos realizada, nesta terça-feira (25/6/19), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
No último dia 15 de junho, foi celebrado o Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa. Lembrando a data, Rodrigo Arantes destacou que é obrigação de toda a sociedade denunciar atos contra idosos nas devidas instâncias: os Centros de Referência de Assistência Social (Cras), Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), o Ministério Público e as delegacias especializadas.
“Existem 3,5 milhões de idosos em Minas. Precisamos urgentemente de uma cultura de respeito e valorização desse segmento. Existe a agressão física, a verbal, o abuso psicológico e emocional, o abandono e a violência medicamentosa. Não podemos mais deixar de assumir nosso papel nessa realidade”, ressaltou.
O presidente da Associação dos Cuidadores de Idosos de Minas Gerais, Jorge Roberto Afonso, explicou que muito da violência, muitas vezes cometida por parentes e dentro da própria residência da vítima, deve-se à falta de conhecimento, informação e apoio a quem deveria cuidar dessas pessoas. “Nem sempre é maldade ou negligência. Apenas 20% dos familiares assumem o total cuidado direto dos idosos. Esse serviço sobra, em várias ocasiões, para uma pessoa, que não tem tempo para nada e ainda por cima é cobrada pelo resto da família”, advertiu.
Ele também cobrou políticas públicas voltadas aos idosos. “Muito se fala sobre políticas para os idosos robustos e saudáveis. Mas os acamados são invisíveis”, ponderou.
Acolhimento – Na mesma linha, o coordenador especial de Direitos da Pessoa Idosa da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), Rodrigo Costa, abordou a necessidade de se discutir iniciativas estaduais de acolhimento dos idosos. “Precisamos pensar conjuntamente, de maneira intersetorial, integrando educação, esporte e lazer. Mesmo sabendo que as condições financeiras não são ideais, precisamos de estratégias”, afirmou.
O presidente do Conselho Municipal dos Idosos de Belo Horizonte e coordenador do Centro de Referência da Pessoa Idosa, Leandro Campos, também salientou a importância de serviços de atendimento especializados para esse estrato da população. “Precisamos evoluir para espaços como abrigos e repúblicas, onde eles podem se alojar de forma autônoma. Manter um idoso no hospital é caro e não é a melhor alternativa, muitas das vezes. A pessoa precisa de espaço para movimentar, ter acolhimento e, principalmente, ser preservada na sua comunidade de origem, se possível”, frisou.
Deputado teme perda de direitos com a reforma da Previdência
Autor do requerimento para a realização da reunião, o deputado Marquinho Lemos (PT) manifestou sua preocupação com a reforma da Previdência, proposta pelo governo federal. “É importante não perder o que conquistamos com muita luta. Muito frequentemente pessoas são agredidas dentro de casa por familiares por causa de dinheiro”, reforçou.
Além de endurecer os critérios para a concessão de aposentadorias, o texto original da reforma prevê, em um de seus pontos mais polêmicos, cortes no Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda.
O presidente do Movimento de Luta Pró-Idoso de Minas Gerais, Felipe Abreu Júnior, corroborou a crítica do parlamentar, ao afirmar que a reforma da Previdência trata os idosos como um peso.
Ele também lamentou a falta da presença de jovens em debates sobre as dificuldades enfrentadas pelos idosos. “Os jovens não estão interessados, mas quem promove e provoca a violência?”, indagou. “Além disso, os filhos nunca são denunciados pelos pais, a afetividade não permite”, complementou.
Já a deputada Leninha (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos, relatou as carências do Estado no que se refere ao cuidado ao idoso. “No Norte de Minas, poucos municípios têm um conselho (de direitos do idoso). Programa específico não existe. Como fazer com que essas políticas cheguem ao interior? Precisamos pensar”, ressaltou.
Apresentação – Durante a reunião, o grupo do Centro de Referência da Pessoa Idosa apresentou parte da peça de teatro “Sete malas, sete vidas e uma poesia”, abordando problemas enfrentados pelas pessoas mais velhas no seu dia a dia.