O público presente criticou algumas medidas defendidas pelo governo, como a demissão de servidores da MGS
Secretário admitiu que estatais poderão ser privatizadas, o que gerou reação de alguns deputados
Parlamentares cobram concurso público para suprir carência de pessoal

Privatizações para retomada de investimentos são discutidas

No encontro do Assembleia Fiscaliza, deputados questionaram demissões na MGS e a nomeação de aprovados em concursos.

12/06/2019 - 16:01

A Privatização de rodovias e de hospitais é a principal proposta do Governo do Estado para a retomada dos investimentos em Minas Gerais. É o que foi informado durante reunião do Assembleia Fiscaliza realizada para ouvir o secretário de Estado de Planejamento e Gestão, Otto Alexandre Levy Reis.

No primeiro encontro desta quarta-feira (12/6/19), realizado pelas Comissões de Fiscalização Financeira e Orçamentária, de Administração Pública, de Participação Popular, de Educação, Ciência e Tecnologia, de Segurança Pública e de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), os deputados demonstraram preocupação com a situação dos serviços públicos diante das propostas.

O deficit fiscal do Estado mais uma vez foi o assunto central nas explanações do secretário, como tem acontecido nas demais reuniões do Assembleia Fiscaliza. Ao ser questionado pelos deputados Carlos Pimenta (PDT) e Hely Tarqüínio (PV) sobre a finalização das obras dos hospitais regionais, iniciadas na gestão anterior, o secretário afirmou que não vê solução para a questão sem que os serviços sejam, pelo menos em parte, privatizados.

Algumas dessas obras estão paralisadas na fase inicial, de terraplanagem; outras, estão 90% concluídas. Segundo Otto Levy, 25 entidades privadas já o procuraram para oferecer soluções para a conclusão das obras, mas o modelo para realização dessas parcerias ainda não está fechado.

Para se justificar, o secretário apresentou um gráfico com o crescimento das despesas referentes à área da saúde já contratadas, mas ainda não pagas, conhecidas como restos a pagar. De acordo com os dados, esse valor teria subido em mais de 1.000% entre janeiro de 2017 e dezembro de 2018. Assim, o governo estadual estaria tentando, por meio de cortes de gastos, pagar esses débitos, para só depois voltar a investir.

Outra solução que, conforme informou Otto Levy, tem sido estudada, é a possibilidade de entregar a gestão das unidades hospitalares a Oscips, entidades sem fins lucrativos.

A situação também se refletiria, por exemplo, no Instituto de Previdência dos Servidores de Minas Gerais (Ipsemg), que também tem vários credores. O secretário afirmou que os débitos estão sendo quitados e que, em breve, os atendimentos serão normalizados. Ele ponderou, no entanto, que o instituto não é autossustentável, sugerindo possibilidade futura de privatização.

Esses posicionamentos do Poder Executivo foram feitos diante de uma plateia cheia, que reivindicava que não houvesse privatização ou entrega de hospitais para entidades externas à gestão pública.

A tônica da privatização foi repetida em outras áreas, como os setores rodoviário e ferroviário. Otto Levy Reis disse que, só com a privatização de algumas rodovias, será possível conseguir recursos para investir nos trechos de menor interesse para o setor privado.

O deputado João Leite (PSDB) abordou a tentativa do governo federal de renovar a concessão de ferrovias mineiras e de aplicar o dinheiro conseguido com a medida em investimentos em outras regiões do País. Para o parlamentar, se faz necessária uma ação mais efetiva do Poder Executivo para evitar esse problema.

Durante a sua apresentação, o secretário também admitiu que empresas estatais poderão ser privatizadas. O líder da Minoria, deputado Ulysses Gomes (PT), questionou a venda de empresas públicas como saída para a crise, alegando que estatais como a Copasa e a Cemig são lucrativas.

Deputados questionam demissões e falta de concursos

As demissões da Minas Gerais Administração e Serviços (MGS), empresa que presta serviços a secretarias, órgãos e autarquias estaduais, também foram tratadas no encontro. Otto Levy Reis declarou que não há recursos para manter os contratos. Segundo ele, a empresa teria “financiado” o governo, ao prestar serviços sem receber os valores contratados desde 2005.

Nesse período, a MGS saiu de R$ 12 milhões em verbas a serem recebidas para R$ 160 milhões de crédito. “Estamos então ajudando a MGS a não falir”, disse. O secretário afirmou que tem feito tratativas com prefeituras e órgãos como o Ministério Público para que eles fechem contratos com MGS e, assim, impeçam que ela feche as portas.

Entre o público presente, muitas pessoas reivindicaram a reabertura do Posto UAI do Barro Preto e o retorno de funcionários demitidos do UAI Praça Sete, medidas que resultaram na dispensa de vários trabalhadores da MGS e na redução dos serviços oferecidos aos cidadãos, como discutido em audiências públicas anteriores da ALMG, e não gostaram do que ouviram.

Na sua explanação inicial, Otto Levy ressaltou o esforço do governo estadual para simplificar os procedimentos dos serviços prestados pelo Estado, digitalizar documentos e informatizar processos, para que os atendimento pessoais, que custariam cerca de R$ 18 reais cada, possam ser transformados em virtuais, com custos de 10 centavos.

Para a deputada Beatriz Cerqueira (PT), a medida pode reduzir a qualidade dos serviços públicos, já que certas questões precisam ser tratadas pessoalmente, o que seria inclusiva a preferência dos cidadãos em alguns casos. Ela defendeu também a manutenção dos empregos da MGS e disse que é preciso ouvir as demandas dos servidores públicos.

A parlamentar cobrou, ainda, a nomeação de aprovados em concursos já realizados da área da educação, uma vez que cerca de 60% dos professores estaduais ainda estariam com vínculos precários de emprego. No mesmo tom, o deptuado Sargento Rodrigues (PTB) questionou sobre os concursos em andamento da Polícia Militar e abordou o baixo efetivo da PM e da Polícia Civil.

Em resposta, o secretário disse que os aprovados em concursos já realizados serão chamados, mas que não há perspectiva de realização de novos processos seletivos. Otto Levy Reis relatou que o governo estadual está trabalhando no dimensionamento da força de trabalho nos órgãos e entidades do Poder Executivo, de forma a medir a produtividade e avaliar a real necessidade de aumento dos quadros.

No âmbito de pessoal, ele também citou o programa Transforma Minas, que já selecionou 117 pessoas para atuar em cargos de liderança, com a previsão de que seja alcançado o número de 300 ainda em 2019.

O deputado Ulysses Gomes contradisse também a fala do secretário sobre a MGS, argumentando que não faz sentido dizer que a empresa está quebrada, tendo em vista que o último balanço publicado registra lucro líquido de R$ 12 milhões. O secretário contrargumentou, alegando que o problema é de caixa e que o credor da empresa é o Estado, que está falido.

Agenda - O Assembleia Fiscaliza tem reuniões até o dia 19 de junho. Essa iniciativa, que busca fortalecer o papel fiscalizador do Legislativo, é resultado da promulgação, em março deste ano, da Emenda Constitucional 99, de 2019. A norma prevê a convocação dos secretários e dos principais dirigentes de estatais e outros órgãos do Estado a cada quatro meses para prestar contas de sua gestão aos parlamentares.

Consulte o resultado da reunião.