Famílias de Pedro Leopoldo pedem volta de escola integral
Comissão de Educação quer garantir retorno do ensino integral na E. E. Dr. Roberto Belisário o mais breve possível.
07/06/2019 - 16:22A decisão do Governo do Estado de interromper o programa de educação integral em mais de mil escolas mineiras afetou diretamente o município de Pedro Leopoldo (Região Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH) e deixou mais de 100 famílias em situação extremamente difícil.
A Escola Estadual Dr. Roberto Belisário Viana, que fica no bairro Doutor Lund, era a única escola pública da cidade a oferecer o tempo integral nas séries iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano), até o final de 2018. O projeto funcionava ali há 12 anos, mas foi interrompido este ano.
Na manhã desta sexta-feira (7/6/19), a Comissão de Educação da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) visitou a instituição, para conhecer sua estrutura e funcionamento. A presidenta da comissão, deputada Beatriz Cerqueira (PT), ouviu apelos emocionados de professores, pais e avós de alunos que temem que a escola acabe sendo fechada, com o fim do ensino de tempo integral.
Ao final da visita, a deputada disse que o objetivo da comissão é mostrar aos demais parlamentares e a toda a sociedade a importância da educação integral, para as famílias e para as crianças. “Se queremos aumentar qualidade de vida, reduzir violência, tratar da formação integral dos indivíduos, essa interrupção da educação integral é injustificável. Educação é uma política pública que precisa de continuidade”, disse Beatriz Cerqueira.
A ação da Comissão de Educação da Assembleia, após a paralisação do ensino integral, já fez com que o governador Romeu Zema se comprometesse a retornar com as vagas cortadas, gradativamente. Mas para a comunidade escolar da E.E. Dr. Roberto Belisário ainda não chegou nenhuma informação sobre como se dará esse retorno. “Não atendemos somente ao bairro Doutor Lund, temos alunos de toda a cidade. E os pais não podem esperar até o ano que vem!", disse a coordenadora do projeto naquela instituição, Maria Cristina Ribeiro.
A deputada Beatriz Cerqueira destacou que é preciso que o governo se comprometa também a ampliar a oferta de vagas. "Não basta voltarem com as 80 mil vagas que foram cortadas, nosso trabalho é para que haja um planejamento para aumentar essas vagas", afirmou.
Crianças saem das ruas e aprendem mais
Na escola, que fica a 6 km do centro de Pedro Leopoldo, estudam hoje 160 alunos vindos de vários bairros da cidade, como Vila São João e Vila Brasilinha, e muitos também da zona rural. Segundo a professora Riane Aparecida Aguiar, há muito tempo há uma lista de espera de famílias que querem matricular seus filhos ali.
De acordo com os pais que acompanharam a visita da comissão, a maioria não têm com quem deixar as crianças na parte da tarde. Sem a escola, elas acabam indo para a rua, em áreas de grande vulnerabilidade social, conforme relatou Rayana Silva, mãe do menino Thayler, de oito anos.
Segundo a coordenadora Maria Cristina Ribeiro, a maioria das famílias, mesmo muito carentes, pagam R$ 100,00 ou R$ 150,00 por mês, para uma van particular levar as crianças até a escola, para que os pais possam trabalhar. “Os pais estão desesperados, porque, se não for para ficar aqui o dia inteiro, não compensa”, afirmou a coordenadora.
Segundo pais, professores e alunos, entre os benefícios do tempo integral, está o fato de os professores acompanharem os alunos no dever de casa, esclarecendo dúvidas fora do horário regular das aulas, o que, pelo menos naquela escola, resultava em um melhor desempenho das crianças.
Após as aulas do ensino regular, os alunos do tempo integral tinham várias atividades relacionadas com cultura, arte, esportes, lazer e oficinas para orientação ao estudo.
A ex-aluna da escola, Brenda Almeira, de 15 anos, conta que as crianças que saiam de lá e iam para a Escola Estadual Imaculada Conceição, como ela, no 6º ano, se destacavam, porque chegavam melhor preparadas. A estudante conta que, no tempo integral, teve noções de computação, aulas de música, esportes e muito reforço nas matérias regulares.
Alimentação – Na escola, as crianças faziam três refeições bem reforçadas por dia, outra coisa que ajudava muito as famílias. Em 2018, com o corte de verbas, já no governo anterior, a diretora Maria Aparecida de Oliveira Carvalhaes disse que foi preciso reduzir todos gastos e até simplificar a alimentação, mas as refeições estavam mantidas.
Projeto estimula potencial artístico das crianças
Com o funcionamento da educação em tempo integral, foi formado na Escola Dr. Belisário um coral de 60 crianças, que já chegaram a se apresentar em eventos e empresas da região. Mesmo com a interrupção do projeto, as aulas de flauta e canto coral estão sendo mantidas, segundo Maria Cristina Ribeiro, por causa do compromisso e dedicação dos professores.
Algumas aulas especializadas como as de percussão, atividades lúdicas e esportivas, no entanto, tiveram que ser interrompidas, porque os professores que as ministravam não foram designados para continuar o trabalho este ano.
Maria José Moreira Aguiar, avó e tia de alunos, garante que a escola ajuda a despertar o talento das crianças para a música, o que pode ajudá-las pelo resto da vida. "Minha neta e minhas sobrinhas hoje tocam flauta e cantam até fora daqui. As crianças adoram e se desenvolvem muito aqui. Não podemos perder isso", disse ela.
A E.E. Dr. Belisário Viana funciona hoje com apenas 15 funcionários. No Estado inteiro, segundo a coordenadora geral do Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação (Sind-UTE), Denise de Paula Romano, nove mil professores deixaram de ser contratados, com os cortes na educação integral.