Deputados pretendiam ouvir o presidente afastado da Vale, Fábio Schvarstman, que não compareceu
Reunião foi assistida por familiares de mortos e desaparecidos
Segundo Paulo César Masson, a Vale optou por não divulgar os problemas
Especialista revela excesso de água na barragem antes do desastre

Barragem que rompeu por liquefação já estava coberta de água

Imagens demonstram que fotos apresentadas pela Vale com gramado em cima da estrutura não correspondem à realidade.

06/06/2019 - 15:15

Imagens de satélite comparadas da área da barragem da Minas do Feijão, em Brumadinho (Região Central), de 2012 a 2019, indicam a presença de água na superfície da estrutura ao longo de todos esses anos, ao contrário do que representantes da Vale têm afirmado para os órgãos responsáveis pela investigação da tragédia do dia 25 de janeiro.

As imagens fazem parte do estudo de Paulo Cesar Masson, apresentado na manhã desta quinta-feira (6/6/19) em reunião da CPI da Barragem de Brumadinho da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

A audiência pública em que o estudo foi apresentado destinava-se originalmente a ouvir o depoimento de Fábio Schvarstman, presidente da Vale no momento do rompimento da barragem. Porém, ele não compareceu. A ausência se deu sob a proteção de um habeas corpus, concedido pelo Tribunal de Justiça, que determinou que a convocação não seria válida e a presença de Fábio Schvarstman deveria ser voluntária.

A deputada Beatriz Cerqueira (PT) registrou seu repúdio à recusa do ex-presidente da empresa, que ela qualificou como descaso com as quase 300 vidas perdidas por ação da empresa comandada por Fábio Schvarstman. O deputado Bartô (Novo) concordou com a colega.

Os familiares de pessoas mortas ou desaparecidas por causa do rompimento da barragem acompanharam a reunião, como têm feito em todos os encontros da CPI, e também repudiaram a ausência de Fábio Schvarstman.

Foi nesse contexto que Paulo Cesar Masson, técnico em Geoprocessamento, apresentou estudo que fez voluntariamente após a tragédia com o uso de imagens de satélite que várias empresas ao redor do mundo teriam disponibilizado gratuitamente após o rompimento da barragem. Ele mostrou a sequência de imagens que cobrem de 2012 a 2019.

Especialista questiona Vale por não publicizar problemas antigos

Paulo Masson chamou a atenção para dois fatos. O primeiro deles é que, durante todo esse tempo, havia uma superfície de água sobre a barragem, sendo alimentada claramente por canais d’água.

O segundo é que foram acrescentadas estruturas a essa realidade, como bombas e mangueiras d’água. “Ou seja, a Vale estava fazendo alguma coisa sobre isso, mas não disse a ninguém o que estava acontecendo, não publicizou os problemas que tentava resolver e, principalmente, não tirou as pessoas do lugar que sabiam que era perigoso”, disse Paulo Cesar Masson.

O deputado João Vítor Xavier (PSDB) destacou que as imagens destoam das apresentadas pela Vale, que em geral mostram um gramado no mesmo local onde o satélite mostrou água ao longo de vários anos.

A presença da água é uma informação importante porque as investigações têm apontado que o rompimento da barragem se deu em função de um processo de liquefação dos rejeitos. Outro especialista que esteve na reunião, Paulo Teixeira da Cruz, explicou que liquefação é um processo inesperado e que não pode ser monitorado – para evitar problemas, então, seria necessário prevení-lo.

Especialista em construção de barragens, Paulo Cruz mostrou várias estruturas brasileiras e possíveis problemas que elas podem apresentar. Informou, assim, que o Fator de Segurança, que no caso de Brumadinho estava abaixo do recomendado, não é a única medida importante.

“Os coeficientes de segurança se referem a determinados tipos de mecanismo de ruptura e há muitos outros mecanismos possíveis”, disse. Ele afirmou, ainda, que esses coeficientes não refletem exatamente nenhuma situação, já que se toma por base para os cálculos, por exemplo, o atrito de uma área muito pequena para representar grandes terrenos.

Reparação – No estudo, Paulo Masson também utilizou as imagens de satélite, cruzadas com dados de georreferenciamento do último censo rural do IBGE, em 2017, para apontar as construções e áreas de plantio da região atingida. Foram, de acordo com ele, 143 construções, 51 delas da Vale, e 113 áreas de cultivo que somam 250 mil metros quadrados de área.

As informações, segundo ele, podem ser úteis em casos de disputas por indenizações, por ajudarem a consolidar a existência e o tamanho das estruturas. Masson colocou todo o material à disposição e o deputado André Quintão (PT) agradeceu, ressaltando a importância dessa informação para as atividades de reparação dos danos causados.

Consulte o resultado da reunião.