Santos Dumont pede apoio para incentivar o turismo
Instituições públicas e privadas se reúnem em audiência para pensar estratégias de divulgação dos atrativos da cidade.
04/06/2019 - 16:55 - Atualizado em 04/06/2019 - 17:20O Museu de Cabangu, local onde nasceu o pai da aviação Alberto Santos Dumont, é o principal atrativo turístico da cidade que leva seu nome, na Zona da Mata. Mas não é o único. Represas, cachoeiras, o Caminho Novo da Estrada Real e o queijo do reino, que tem base no município, são outros produtos que podem ser explorados, com geração de emprego e renda para a região.
Nesta terça-feira (4/5/19), moradores e representantes de órgãos públicos e da iniciativa privada se reuniram na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para pensar alternativas e estratégias para o turismo em Santos Dumont. A discussão foi na Comissão Extraordinária de Turismo e Gastronomia, a requerimento do deputado Coronel Henrique (PSL).
Parcerias – A necessidade de articulação regional foi destacada pela superintendente de Gastronomia e Marketing Turístico da Secretaria de Estado de Turismo, Marina Pacheco Simião, sobretudo em relação ao Caminho Novo, que envolve sete municípios. Ela citou programas do Estado na área e reforçou que é preciso surpreender o turista com inovação e criatividade.
Marina também sugeriu atividades itinerantes com parte do acervo do Museu de Cabangu, sobretudo em aeroportos, como forma de atenuar as dificuldades financeiras da instituição e de divulgar a região. “Outra possibilidade é buscar a identificação geográfica e denominação de origem para o queijo do reino. Um processo demorado, mas que traz ganhos”, pontuou.
O coordenador-geral de Produtos Turísticos do Ministério do Turismo, Cristiano Araujo Borges, apresentou as ações do órgão e as linhas de financiamento da União para a área, mas ponderou que a fase de divulgação de um destino tem que ser precedida por sua organização. “Um produto turístico envolve cinco verbos: deslocar, visitar, comer, dormir e comprar”, sintetizou.
Ele também enfatizou a necessidade de articulação, não apenas dentro da cidade, como no entorno, uma vez que a regionalização faz com que o turista permaneça mais tempo na região “O poder público apoia, fomenta e regula, mas a iniciativa privada é que formata e comercializa o produto. Não há turismo sem essa articulação”, definiu.
Museu de Cabangu chegou a ser fechado
Mesmo com todo o potencial, Santos Dumont tem enormes desafios para a estruturação do turismo. O Museu de Cabangu, por exemplo, chegou a ser fechado no início deste ano, em função de dívidas, que foram sanadas pela prefeitura. Atualmente, o local está aberto à visitação, mas não conta, por exemplo, com lanchonetes.
“Há locais interditados pelos Bombeiros. A casa de Santos Dumont também precisa de reformas, como na parte elétrica. A comunidade quer abraçar o museu, mas não temos condições”, observou Frederico Kingma Orlando, secretário de Meio Ambiente, Turismo, Esporte e Lazer da cidade.
O presidente da Fundação Casa de Cabangu, Tomás Castello Branco, destacou que o museu precisa se profissionalizar. Segundo ele, a instituição tem o plano museológico e cinco projetos arquitetônicos, além de contrato com uma empresa de captação de recursos, ainda sem resultados concretos. “Estamos preparados, mas precisamos de um empurrão”, afirmou.
Mensalmente, o museu recebe da prefeitura cerca de R$ 10 mil, o suficiente apenas para pagar os funcionários. A segurança do local e a manutenção da área externa, que é um parque, são de responsabilidade da Aeronáutica, com sede em Barbacena.“Somos voluntários dessa causa por amor a ela”, sintetizou Tomás.
Ele contou que a casa de Santos Dumont foi invadida após sua morte e parte do acervo foi levada. “Coube a meu pai, à época funcionário da prefeitura, guardar o que restou e também recuperar outras peças. Minha família toma conta do acervo há 70 anos, antes mesmo da existência do museu, criado em 1973. Por 40 anos, o acervo ficou na minha casa. Eu fui criado em meio a isso”, afirmou.
Medalha – Entre os itens de maior valor do acervo, Tomás cita uma medalha de ouro feita pelo próprio Santos Dumont para homenagear autoridades de Paris, quando do voo ao redor da Torre Eiffel, em 1901. “Ele fez cinco medalhas, entregou quatro e guardou a de número cinco. Ela foi roubada da sua casa, mas recuperada por um comprador de ouro”, contou o presidente.
O diretor da Secretaria de Administração de Santos Dumont, José Geraldo de Almeida, admitiu que a prefeitura está sensível à demanda, mas, diante da crise financeira, não tem como ajudar o museu além dos R$ 10 mil mensais.
Aeronáutica cita falta de estrutura
O tenente-coronel Ronald José Pinto, comandante do Grupamento de Apoio da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar), enfatizou que a Aeronáutica se preocupa com a segurança e a manutenção do espaço do museu, mas que algumas obras serão necessárias caso esse produto turístico ganhe impulso.
Ele citou, por exemplo, um sistema de vigilância eletrônica, saneamento básico, novos banheiros e melhorias na casa que abriga os soldados da Aeronáutica. Até mesmo o gerador de energia que existe no local é da corporação.
Vereadores, comerciantes e outros moradores de Santos Dumont participaram da audiência e citaram as possibilidades que poderiam surgir com o turismo, entre elas um trem de passageiros entre Barbacena e Santos Dumont, passando pelo Museu de Cabangu.
Deputados destacam a figura de Santos Dumont
Para o Coronel Henrique, o Brasil vive um momento propício a essa discussão, porque antigos heróis nacionais, como Santos Dumont, estão tendo sua memória reverenciada. “Ele foi o pai da aviação e da inovação e é um dos homens mais importantes do mundo no século XX”, apontou.
Ele também citou as articulações que vem fazendo junto aos Ministérios do Turismo e da Defesa, no sentido de impulsionar o turismo local. Já o presidente da comissão, deputado Professor Irineu (PSL), destacou a importância do turismo e da cultura em Minas Gerais.
Para o deputado Betão (PT), toda a Zona da Mata precisa debater o tema, pois há vários produtos a serem ofertados. Também o deputado Cristiano Silveira (PT) frisou que Minas tem enorme potencial inexplorado, o que leva o turismo a responder por apenas 8% da economia do Estado. Segundo ele, a sociedade está voltando o olhar para o lazer, a riqueza local, a gastronomia e a economia criativa.
O deputado Professor Cleiton (DC) lamentou o fato de Santos Dumont ser mais conhecido na Europa do que no Brasil e enfatizou que o turismo é a solução no momento de crise. Ele citou a Casa Pelé, em Três Corações (Sul), e o queijo de Alagoa (Sul) como produtos turísticos que foram fomentados, com grandes resultados para essas cidades.