Parlamentares ouviram relatos de que a população vive com medo e em alerta de uma eventual tragédia

Moradores de Barão de Cocais reclamam de falta de informação

Direitos Humanos visita entorno da mina Gongo Soco e ouve comunidade do Socorro, próxima à mineração.

04/06/2019 - 19:32

A falta de informação sobre a situação real da cidade é o principal problema relatado pelos moradores de Barão de Cocais (Central). Essa foi a maior constatação da visita que a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou ao município, nesta terça-feira (4/6/19).

As deputadas Leninha (PT), presidenta da comissão, e Andreia de Jesus (PSOL) e os deputados Celinho Sintrocel (PCdoB) e Betão (PT) ouviram vereadores na Câmara Municipal, moradores e empresários, além de verificarem in loco o entorno da comunidade do Socorro e da mina Gongo Soco, da mineradora Vale.

Estado de alerta - A comissão não foi recebida pelo prefeito da cidade. O vereador João Batista Pereira disse que a população vive com medo, sendo que as famílias ribeirinhas e das comunidades próximas, como a de Socorro, foram evacuadas e vivem em alerta.

"Estamos preocupados com o psicológico das pessoas, que estão ficando mais nervosas, tristes e deprimidas. Precisamos de ajuda do Governo Estadual", reclamou o vereador.

Na opinião dele, a Vale está fazendo muito pouco e agindo de maneira suja, ao invadir terrenos antes de ter autorização e fazer obras sobre as quais pouco se sabe. "Eles poderiam resolver muitas questões, pois têm poder, mas não o fazem", explicou.

Já os comerciantes estão divididos. Parte deles reclama da queda nas vendas de até 70%. "Praticamente, não trabalhamos mais. Quatro meses sem saber, sem dormir direito. Vivemos de economias, não temos mais fonte de renda", protestou a cabeleireira Iriléia Machado. Ela disse que tem medo de andar pela cidade e, além disso, não tem nenhuma resposta da Vale quanto aos prejuízos do comércio e das empresas em geral. "E os boletos continuam chegando enquanto não sabemos se a barragem vai romper ou não", relatou.

"Lama teria que dar ré para chegar a Barão", diz morador aposentado

O morador e aposentado José Nereu Rodrigues duvida que a lama de um possível rompimento da barragem na mina Gongo Soco atinja a sede da cidade de Barão de Cocais. "São 22 quilômetros até a cidade e a lama teria de dar a volta em três montanhas e dar uma ré para chegar até Barão. Eu, particularmente, não acredito que vai atingir a cidade. Mas tudo é especulação porque a Vale não nos conta nada. E a imprensa sensacionalista criou um mal-estar, piorando a situação", avaliou. 

Outra denúncia é a de que os moradores removidos de suas casa estariam vivendo com cerca de R$ 400 por família, valor dado pela empresa e insuficiente para as despesas. Os moradores pediram, ainda, a reabertura de agência do banco Itaú, já que a maior parte dos servidores municipais recebem pela instituição.

Obra de contenção - No entorno da mina perto da barragem, chamou a atenção dos parlamentares a obra que seria para contenção dos resíduos em caso de rompimento, além de dreno do rio São João, que passa dentro da cidade. Além disso, num trecho do suposto trajeto dos resíduos, estaria sendo construído um muro de 35 metros de altura e dez metros de comprimento, para contenção.

A deputada Leninha relatou que vai solicitar do Ministério Público urgência na substituição do promotor da cidade, que foi transferido para a comarca de Mariana (Central) e que só atenderá o município até 28 de junho. "Nessa situação específica, a população precisa do órgão mais do que nunca e, por isso, a cidade não pode ficar desassistida", afirmou.