Participantes da reunião destacaram necessidade de iniciar, desde já, planejamento para enfrentar a dengue em 2020
Para Dario Brock, prevenção e investimentos em pesquisa podem fazer a diferença
Epidemia de dengue resiste a esforços de combate pelo poder público

Combate eficaz à dengue depende de ação antecipada

Em audiência pública sobre o assunto, foi apresentada proposta de grupo de trabalho com gestores e pesquisadores.

16/05/2019 - 17:15

As ações de combate à dengue, para terem eficácia, devem ser desenvolvidas ao longo de todo o ano, e não só nos momentos de alarme quanto à epidemia. Esse alerta deu o tom de audiência pública realizada, nesta quinta-feira (16/5/19), pela Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Um dos resultados da reunião foi a apresentação da proposta de criação de um grupo de trabalho intersetorial para debater e articular as ações de prevenção e de controle da dengue no Estado.

O grupo deverá, desde agora, planejar ações para o controle da doença em 2020, sendo constituído por representantes das Secretarias de Estado de Saúde, de Educação e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; da ALMG; do Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems-MG) e do Conselho Estadual de Saúde.

A Fundação Ezequiel Dias (Funed) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também fariam parte do grupo, cuja criação foi objeto de requerimento aprovado na audiência e proposto pelo deputado Doutor Jean Freire (PT). “Lamento que todo ano a dengue tenha que ser discutida, quando o ideal é que tenhamos estratégias”, justificou o parlamentar, quanto à proposta de que seja enviado à Secretaria de Saúde pedido de providências para a instalação do grupo.

No mesmo sentido, foi aprovado outro requerimento do deputado para que a comissão volte a realizar audiência sobre a dengue ainda em novembro próximo, já para discutir com antecedência as diretrizes de controle para 2020.

O parlamentar também frisou que o presidente da ALMG, deputado Agostinho Patrus (PV), orientou a Casa a priorizar debates sobre a prevenção da dengue, que nesses primeiros meses de 2019 resultou em 38 mortes e mais de 247 mil casos registrados em Minas.

Gestor defende novos hábitos e relata ação piloto em BH

“Está claro que as ferramentas em uso não têm sido suficientes para fazer frente à dengue”, admitiu o subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde, Dario Brock Ramalho, sobre o fato de 2019 já estar caracterizado como um ano de epidemia da doença.

“Temos um grande estoque de insumos para testes e de medicamentos e sabemos algo do que pode ser feito para prevenir, mas como sociedade temos dificuldade de enfrentar o mosquito Aedes e assim evitar mais casos”, analisou o gestor, para quem atitudes preventivas por parte da população e investimentos em pesquisa podem fazer a diferença. “Mas esses investimentos são de longo prazo, por isso se não houver também mudança de hábitos em casa para controle do mosquito não teremos respostas diferentes à dengue”, alertou ele.

Como resultado de pesquisas feitas ao longo dos últimos anos, Dario informou que, ainda no final deste ano, espera-se iniciar em Belo Horizonte projeto piloto no Estado, para a soltura de mosquitos Aedes aegypti inoculados com a bactéria Wolbachia. Transmissor da dengue, o Aedes inoculado pela bactéria reduz o contágio dos vírus, conforme revelaram pesquisas da Fiocruz.

A outra ação seria a soltura desses mosquitos inoculados em 22 municípios ao longo do Rio Paraopeba, atingido pelo rompimento da barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho (Região Metropolitana de Belo Horizonte). Isto porque a alteração ambiental provocada pela lama que vazou interferiria na proliferação de vetores de doenças como a dengue, mas essa demanda, que segundo o subsecretário já foi apresentada pelo Governo do Estado à Vale, depende de posicionamento da mineradora.

Educação deve se unir à saúde

Além da garantia de que haverá continuidade das pesquisas, entre as sugestões mais mencionadas na audiência para conter a dengue está o engajamento da área da educação em campanhas contra a dengue desde a infância, e com apoio da rede escolar. 

Segundo mostrou o subsecretário de Promoção e Vigilância à Saúde da Prefeitura de Belo Horizonte, Fabiano Pimenta Júnior, pesquisa feita durante ação preventiva do Ministério da Saúde sobre o desafio da comunicação relacionada à doença revelou que 91% dos entrevistados sabiam como prevenir a dengue e 96% se lembravam de alguma campanha sobre a doença.

Apesar disso, 55% disseram não adotar nenhuma precaução para evitar a proliferação do mosquito. Entre estes, 88% apontaram como desculpa que isso não adiantaria porque o vizinho não faria nada a respeito.

Por razões como essas, o representante da prefeitura da Capital defendeu iniciativas educativas como as adotadas pelo Conselho Distrital Oeste de Saúde, que lançou a campanha Adote seu Quarteirão para mobilizar a comunidade a se engajar em mutirões de limpeza e vigilância contra o mosquito.

Outro exemplo de estratégia relacionada à educação veio do município de Carlos Chagas (Vale do Mucuri). Segundo o secretário de saúde do município e diretor do Cosems, Ricardo Viana, a campanha Pedalinho pela Dengue tem sorteado bicicletas entre crianças que ajudam no combate à doença, com o engajamento das escolas da cidade.

Para o presidente do Cosems, Eduardo da Silva, seria preciso, ainda, inverter a lógica que resulta em mais repasses de verbas às localidades que apresentam os piores indicadores da doença, quando na verdade não teriam feito o dever de casa para evitar a dengue. 

Requerimentos - Também foram aprovados na reunião requerimentos do deputado para realização de audiência pública sobre a falta de medicamentos para assistência farmacêutica no Estado e de visita à Fiocruz, para conhecer a estrutura e as linhas de pesquisa da fundação.

Consulte o resultado da reunião.