Comissão de Defesa da Pessoa com Deficiência recebeu dirigentes de associações que tratam do autismo
Maria Helena disse que carência na oferta dos serviços a esse público aumenta o custo social a ser pago por todos
Políticas públicas de cuidado destinadas aos autistas ainda são ineficientes

Valorização é chave para lidar com autistas

Participantes de audiência destacam linha de cuidados com pessoas com transtorno do espectro do autismo.

25/04/2019 - 20:23

Quem convive com as pessoas com transtorno do espectro do autismo (TEA) tem que valorizar mais cada um desses indivíduos com sua situação particular e enfatizar menos a deficiência. Para lidar com os autistas, são necessárias boas doses de delicadeza, respeito e capacidade de perceber o outro.

Essas diretrizes foram marcantes nas falas de diversos convidados que participaram de reunião da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, nesta quinta-feira (25/4/19). A comissão realiza, em parceria com entidades do setor, comemorações em torno do Mês de Conscientização do Autismo.

Solicitada pelo presidente da comissão, deputado Professor Wendel Mesquita (SD), a audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) abordou a linha de cuidados para lidar com pessoas com TEA.

Maria Helena de Azeredo Roscoe, presidenta da Associação dos Amigos dos Autistas de Minas Gerais (AMA), abriu as discussões, observando que todos que lidam com o público autista têm que questionar seu próprio comportamento, porque o tempo todo são retirados de sua zona de conforto.

Laços sociais - Mãe de dois rapazes autistas, não verbais e hiperativos, Maria Helena frisou que as pessoas com o transtorno não são de responsabilidade apenas da AMA ou da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), mas da sociedade como um todo. Na visão da presidenta da AMA, os cuidados com elas apontam para a ampliação dos laços sociais, o que vai de encontro à atitude tradicional de segregá-las, isolá-las.

Também psicóloga e psicanalista, Maria Helena deu um recado aos governos, ao enfatizar que a carência na oferta dos serviços necessários para atender a esse público aumenta o custo social a ser pago por todos, pois potencializa a deficiência. Nessa lógica, ela defendeu a capilarização das políticas públicas de atendimento e a divulgação do conhecimento acumulado na área.

A dirigente ainda considerou que houve progressos na legislação que atende a pessoa com deficiência, mas, quanto à execução dessas normas, falta avançar muito.

Entre os progressos na linha de cuidados com o segmento, Maria Helena destacou a inclusão, na Caderneta de Saúde da Criança, de orientações para permitir que os pais detectem distorções no desenvolvimento de habilidades sociais de seus filhos. As diferenças notadas no comportamento infantil, de acordo com a presidenta da AMA, podem apontar indícios de deficiências intelectuais e de outras naturezas.

De beneficiário de políticas públicas a contribuinte

Também pai de um autista de 30 anos, que trabalha e estuda, José Savietto Pereira Barbosa mostrou-se otimista quanto aos avanços alcançados no tratamento das pessoas com TEA. “Queremos transformar o autista, de beneficiário das políticas do Estado em contribuinte. Há poucos anos, isso era impensável”, observou ele, que é presidente da Associação da Síndrome de Asperger no Transtorno do Espectro do Autismo (Asatea-MG).

José Savietto falou ainda sobre aspectos da formação de profissionais para lidar com o autismo. De acordo com ele, a UFMG oferece, há um ano, uma especialização sobre o transtorno, no curso de Psicologia.

Ele valorizou também a experiência da Faculdade UNA, de Belo Horizonte, onde foi criada a função de coordenador de inclusão, tendo à frente Helder Rodrigo, que é deficiente visual. “Esse profissional prepara o plano de desenvolvimento da pessoa com deficiência que ingressa na faculdade. É um grande avanço que pode servir de exemplo para outras escolas", elogiou.

Por último, o dirigente enfatizou que a Asatea-MG tem enfocado as potencialidades da pessoa com autismo, deixando de lado queixas quanto às dificuldades. “Buscamos a inclusão do autista, o que favorece a educação e pode gerar bons resultados para as empresas”, concluiu.

Serviços são oferecidos em todo as regiões de Minas 

Representando a Secretaria de Estado de Saúde, a assessora da Superintendência de Redes de Atenção à Saúde, Cristina Guzmán Siácara, destacou que a pasta tem duas coordenações para atender às pessoas com deficiência: de Saúde Mental e de Pessoa com Deficiência. “São 147 serviços para reabilitação intelectual e autismo distribuídos nas 13 macrorregiões do Estado, em 240 centros de atenção psicossocial (Caps)", informou.

Ela declarou que, no planejamento da rede de cuidados para a pessoa com deficiência, incluindo o autista, o Estado estruturou uma equipe multidisciplinar, incluindo psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e outros profissionais.

Famílias - Já o gerente da Reabilitação Intelectual da Apae-BH, Jeyverson Mendes, afirmou que especialistas indicam, pelo menos, 15 horas de atendimento por semana para pessoas com TEA. “Como os atendimentos são de apenas 35 minutos, foi necessário trazer as famílias para executarem parte dos procedimentos”, declarou.

Na opinião de Jeyverson, atualmente, há uma sensibilidade maior das empresas para admitir pessoas com deficiência. “Precisamos cada vez mais dar autonomia e independência a essas pessoas. Vamos pensar em políticas públicas que aumentem a potencialidade delas para a funcionalidade”, finalizou.

Contramão - O deputado Professor Cleiton (DC) destacou que a UFMG vai também lançar seu curso, em nível de pós-graduação, de licenciatura em educação especial. Por outro lado, ele avaliou, em consonância com outros convidados, que a sociedade não está preparada para a convivência com o autista. E criticou a proposta do governo federal de extinguir o Conselho Nacional da Pessoa com Deficiência (Conade), na contramão de políticas para ampliar o atendimento a esse público.

Consulte o resultado da reunião.