Secretaria nega, mas comunidade teme que, aos poucos, a escola seja fechada
Prédio que é grande, poderia ser usado também para centro de convivência

Famílias pedem ajuda para manter filhos em escolas especiais

Comissão de Defesa da Pessoa com Deficiência visitou E.E. João Moreira Salles, onde famílias pedem ampliação de vagas.

23/04/2019 - 15:08

A Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) visitou, nesta terça-feira (23/4/19), mais uma escola que atende alunos com necessidades especiais. Na Escola Estadual de Educação Especial Doutor João Moreira Salles, no bairro Minaslândia, zona norte de Belo Horizonte, o deputado Zé Guilherme (PRP) encontrou mães desesperadas com medo de que a instituição seja fechada em breve.

Segundo relatos das famílias, o local no passado teria abrigado mais de 300 alunos, mas está sendo desativado aos poucos e, desde 2017, não recebe mais matrículas. Hoje são apenas 50 matriculados, entre crianças e jovens, a maioria com paralisia cerebral, Transtornos do Espectro do Autismo ou outras doenças raras e incapacitantes.

A diretora Hozana Penha de Souza informou que, no turno da manhã, a escola mantém hoje três turmas das séries iniciais do ensino fundamental e três turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), com escolarização regular; à tarde, os alunos participam de oficinas de esporte, música, meio ambiente e artesanato.

As representantes da Secretaria de Estado da Educação (SES), que acompanharam a visita, garantiram que não há nenhum projeto do governo de fechar a escola. A diretora educacional da Superintendência Regional de Ensino (SRE) Metropolitana C, Rosa Maria da Silva Reis, no entanto, confirmou que os pedidos de matrículas para a João Moreira Salles têm que ser feitos por meio de cadastro das famílias junto à SES.

Ela explicou como funciona esse cadastro e reafirmou que todo o processo é para esclarecer as famílias e garantir que essas crianças e jovens com deficiências fiquem no local mais adequado e próximo de suas casas. Algumas mães, no entanto, reclamam dizendo que a secretaria quer forçar o encaminhamento dessas crianças para escolas regulares.

Políticas públicas - O deputado Zé Guilherme ouviu relatos das mães, de funcionárias da escola e das representantes da Secretaria, e concluiu que o Estado precisa desenvolver, urgentemente, políticas públicas para ajudar as pessoas com deficiência e suas famílias

"Esse cadastro único está dificultando o acesso à escola, isso tem que ser revisto. Nós da comissão queremos ajudar as famílias, a escola e a comunidade", declarou o parlamentar, que prometeu levar adiante a discussão sobre a ampliação das vagas na João Moreira Salles.

Na opinião dele, o Estado encara a educação especial como despesa. "Mas isso é um investimento para a sociedade", defendeu.

Mães questionam política de inclusão e recorrem à justiça 

O deputado Zé Guilherme não ouviu nenhuma reclamação específica sobre o funcionamento da escola; pelo contrário, todos elogiam o local. O problema é que, após concluído o ciclo escolar, quando o aluno tem que sair, a maioria das famílias não têm para onde levá-los.

Daí que muitas mães reivindicam a transformação de parte da estrutura da escola em um "centro de convivência" para abrigar as pessoas com deficiência, mesmo que não estejam mais em idade escolar.

A escola funciona em um prédio da década de 1960, reformado em 2010. A área é grande, são dezenas de salas e banheiros, refeitório, quadra, laboratório, espaço para hortas e vários outros equipamentos atualmente não utilizados.

Uma das que defendem a criação do centro de convivência é Ana Lúcia Pereira, mãe de uma jovem de 29 anos, que está na escola desde a adolescência. Nos últimos cinco anos ela teve que recorrer à justiça para garantir, por liminar, que a filha continue participando das atividades na escola, porque não tem condições de cuidar da filha sozinha.

Inclusão - Vilma Cláudia Antônio, mãe de uma menina autista de 14 anos, contou que a filha passou por escolas regulares, mas não se adaptou e sofreu muito. "A inclusão é muito bonita no papel, mas não funciona na prática. Essas crianças não têm condições de ficar em instituições que não são especializadas", disse ela. A mãe já está preocupada, pois não tem como oferecer nenhuma atividade ou tratamento para a filha quando ela não puder mais ficar naquela escola. 

Iris Lages da Costa, mãe de uma criança de 11 anos com paralisia cerebral, afirmou que a família conta com uma renda de R$ 900 por mês, para todas as despesas, inclusive para comprar fraldas, alimentos e medicamentos para seu filho. Ela contou que há dois anos luta para voltar a receber o Benefício de Prestação Continuada (BPC), do INSS, a que o filho tem direito, e que a escola João Moreira Salles é um alento para ela e sua família

Funcionários da escola ponderaram que a discussão tem que ser levada para os órgãos de assistência social do Estado. "Infelizmente, não podemos manter todos os alunos aqui, para sempre; há um ciclo escolar, e depois de cumprido, eles tem que sair, precisam de outras experiências, outras oportunidades", afirmou a diretora Hozana Penha de Souza.

Histórico - No dia 23 de maio de 2017, a Comissão de Defesa da Pessoa com Deficiência, então presidida pelo deputado Duarte Bechir (PSD), visitou a instituição. Naquela ocasião, a escola contava com cerca de 80 alunos matriculados. Na oportunidade, representantes de pais de alunos da escola já demandaram a ampliação do ensino e o aumento do número de alunos matriculados.

Após uma série de visitas a escolas especiais do Estado, naquele ano a comissão realizou audiências públicas para discutir o assunto e fez diversas gestões junto ao governo do Estado para evitar que escolas especias fossem fechadas.

A visita desta terça-feira (23) à E. E. Doutor João Moreira Salles foi solicitada pelo atual presidente da comissão, deputado Professor Wendel Mesquita (SD), mas ele teve um outro compromisso fora de Belo Horizonte e não pode comparecer.