Empregados da montadora e lideranças sindicais e políticas da região lotaram o auditório da Câmara Municipal
O diretor de comunicação e relações institucionais da empresa confirmou planos de mudança

Trabalhadores se mobilizam contra mudanças na Mercedes-Benz

Transferência de atividades da montadora de Juiz de Fora para outros estados representa o fim de centenas de empregos.

15/04/2019 - 18:57

Cerca de 800 trabalhadores poderão ser demitidos da fábrica da Mercedes-Benz, em Juiz de Fora (Zona da Mata), se a empresa, como já anunciou, transferir para outros estados algumas de suas atividades.

Diante da ameaça, empregados da montadora e lideranças sindicais e políticas da região lotaram o auditório da Câmara Municipal, nesta segunda-feira (15/4/19), durante audiência pública da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Além do fim dos empregos diretos e outros indiretos, os trabalhadores e a população local receiam também que a medida venha a desarticular a economia da região, onde, há 20 anos, atraída por benefícios como isenção de impostos, doação de terreno e investimentos em obras de infraestrutura, a Mercedes instalou a sua primeira fábrica no Brasil e a maior fora da Alemanha.

Devido a vantagens oferecidas por outros estados, a Mercedes poderá transferir para o porto de Vitória (ES) o desembaraço aduaneiro da Sprinter, van importada da Argentina e nacionalizada no porto seco da cidade mineira. A direção da empresa confirma também que a montagem do caminhão Actros vai mudar para São Bernardo do Campo (SP).

Essas notícias têm gerado apreensão e levaram os deputados Betão (PT), Coronel Henrique (PSL) e Celinho Sintrocel (PCdoB) a solicitarem a realização da audiência. Betão, que presidiu a audiência, se solidarizou com os trabalhadores e citou números que demonstram a importância da manutenção das atividades da montadora para a economia e o desenvolvimento da cidade. A empresa emprega, atualmente, 1.150 trabalhadores, inclusive mulheres.

Guerra fiscal prejudica permanência

“Juiz de Fora colocou muito dinheiro para assegurar a permanência da fábrica na cidade. Não dá, agora, para a empresa ir embora de uma hora para outra”, afirmou Betão.

Para ele, é fundamental que trabalhadores, governo e políticos assumam o compromisso de fazer uma ampla discussão pelo fim da guerra fiscal que tem levado as empresas a se evadirem de um estado para outro em busca de vantagens. “A guerra fiscal só interessa às empresas, não aos trabalhadores”, observou.

O deputado Coronel Henrique (PSL) afirmou que “a cidade se confunde com a empresa em termos de geração de empregos diretos e indiretos” e não pode correr o risco de perder um investimento de tantos anos. “O papel do Legislativo estadual é estar presente e atento às demandas da população", destacou.

Dentro dos limites de atuação como deputado estadual, o parlamentar se comprometeu a levar os apelos ao governo federal para que negocie em favor da manutenção de todas as atividades da indústria no município.

Mudança - O diretor de comunicação e relações institucionais da empresa, Luís Carlos Gomes de Moraes, disse que a Mercedes tem “a melhor e mais moderna fábrica de cabines de caminhões da América Latina”, mas não negou que é intenção da empresa transferir atividades para São Bernardo do Campo (SP) e Vitória (ES).

O executivo alega que a montadora investiu mais de R$ 2,4 bilhões, entre 2010 e 2015, e, mesmo com a crise, em 2016, continuou apostando no mercado brasileiro e na fábrica da cidade mineira. “Mas agora precisamos buscar eficiência para continuar exportando e sermos mais competitivos”, alegou.

Ricardo Miranda, subsecretário de Assuntos Parlamentares da Secretaria de Estado de Governo, afirmou que o governador Romeu Zema iniciou em março uma interlocução com governadores do Sul e Sudeste para tentar unificar o discurso com relação à disputa fiscal e buscar um projeto de simplificação de impostos.

Trabalhadores querem acordo de 24 meses

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Juiz de Fora e Região, João César da Silva, reivindicou que a empresa dialogue com os funcionários e aceite negociar um acordo de manutenção dos empregos por 24 meses. Ele lamentou que todos os anos os trabalhadores da empresa vivam momentos de intranquilidade com ameaças de cortes e mudanças.

Hoje, segundo afirmou, além dos 1.150 postos de trabalho diretos, a empresa gera ainda 600 empregos indiretos. “Mas o que queremos saber é como vai continuar", indagou.

O prefeito de Juiz de Fora, Antônio Carlos Guedes Almas, também manifestou a mesma preocupação “num universo de crise e de grande número de desempregados que o País está vivendo”.

Marco Antônio de Jesus, presidente da Federação dos Metalúrgicos de Minas Gerais, salientou que “a empresa tem que ter responsabilidade social com os trabalhadores de Juiz de Fora”.

Paulo Cayres, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, disse que "se houve investimento do capital, houve também do BNDES, dinheiro nosso de impostos”. 

Conrado Luciano Batista, vereador de Santos Dumont, lembrou que em 1999 a Prefeitura doou terreno para a instalação da fábrica. “Nós abrimos as portas para a Mercedes, e hoje, nesse cenário de crise, ela nos fecha a porta?”, criticou. 

Requerimentos – Ao final da reunião, o deputado Betão apresentou diversos requerimentos, a serem apreciados na próxima reunião da comissão, entre eles um para realização de visita da comissão ao governador, com a participação de vereadores e sindicalistas, pedindo a intervenção do poder público na questão; e um para visita à fábrica da Mercedes, em Juiz de Fora, para conhecer a estrutura de produção.

Outro requerimento pede a instalação de uma mesa de negociação entre governo, empresa e trabalhadores e outros solicitam à direção da Mercedes-Benz e a órgãos públicos uma série de informações e providências com vistas à garantia dos empregos.