Participantes fizeram críticas a reformas propostas pelo governo federal e estadual e pontuaram papel da igreja na luta pela manutenção de conquistas sociais
Assessor da Cáritas afirmou que recursos têm sido usados para enriquecer minorias
Campanha da Fraternidade estimula participação em políticas públicas

Campanha da CNBB levanta debate sobre desigualdade social

Católicos enfatizam importância da Campanha da Fraternidade 2019 para incentivar participação política.

28/03/2019 - 15:40

A audiência pública da Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa (ALMG), na manhã desta quinta-feira (28/3/19), foi marcada por críticas às reformas propostas pelos governos federal e estadual, que, segundo os participantes, retiram direitos sociais e ampliam desigualdades. Também houve muitos apelos para que a população recupere a esperança e participe mais da política.

Os deputados se reuniram com convidados para debater a Campanha da Fraternidade 2019, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cujo tema é Fraternidade e Políticas Públicas. Em meio às críticas e ponderações sobre o momento histórico delicado por que passa o País, houve também muitas referências a textos bíblicos e à figura de Jesus Cristo. 

A deputada Leninha (PT), que solicitou a audiência, defendeu que os cristãos, sejam eles católicos ou não, têm a obrigação de participar da formulação de políticas públicas para ajudar os mais pobres, e lembrou que a opção de Jesus, e da Igreja Católica, sempre foi pelos menos favorecidos. "O verdadeiro Evangelho deve orientar nossas ações, dentro e fora do Parlamento", disse a deputada.

O deputado Professor Cleiton (DC) também destacou que a Doutrina Social da Igreja está fundamentada na pessoa de Jesus e não é partidária. O parlamentar fez duras críticas à proposta de reforma da Previdência, afirmando que o Chile, onde se implantou modelo de capitalização semelhante ao proposto aqui, na década de 80, hoje é o país onde se tem o maior índice de suicídios na terceira idade, no mundo.

Susana Maria Ricardo, representante das Comunidades Eclesiais de Base, fez questão de ressaltar que, quando as políticas sociais falham, a igreja é um dos primeiros lugares onde as pessoas vão buscar ajuda. Por isso, segundo ela, é preciso fazer com que a Igreja Católica volte a ser um espaço de discussão política, assim como é preciso combater a afirmação equivocada de que política não é coisa para cristão. 

Militantes católicos lamentam perdas de direitos sociais

Na opinião do representante da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Edvaldo Ferreira Lopes, a cidadania brasileira está ameaçada, porque "o governo federal está passando o facão nas políticas públicas sociais". Segundo ele, a estimativa é que no Brasil, hoje, haja mais de 15 milhões de pessoas vivendo na linha da miséria, enquanto os governos só estão trabalhando "na perspectiva do mercado".

O representante do Conselho Nacional de Leigos, Ismael Deyber Oliveira Silva, afirmou que a própria Igreja Católica tem sofrido ataques nos últimos anos. "A igreja não pode deixar de falar sobre os ataques que o sistema de proteção social no Brasil vem sofrendo, atualmente", pontuou.

Ao defender a mobilização de todos para que não se perca ainda mais conquistas sociais, o presidente da comissão, deputado Doutor Jean Freire (PT) questionou: "Já imaginaram um Brasil sem programas sociais como o Prouni, Fies, Pronatec, Pronaf e Minha Casa Minha Vida? Sem Mais Médicos, Farmácia Popular, Samu e institutos federais? Pois muitas comunidades já estão vivendo isso!", lamentou.

Criminalização - Muitos participantes da audiência também reclamaram do que seria a criminalização da política e dos movimentos sociais. O deputado federal Padre João (PT), ex-pároco da cidade de Mariana (região Central do Estado), acredita que isso tudo ameaça seriamente a democracia. Para ele, a "corrosão das políticas públicas" não está somente no Legislativo e no Executivo, mas também no Judiciário. "Vejam aí o crime das mineradoras, e o Judiciário não faz nada!", disse o deputado.

Padre João repetiu uma frase atribuída a Dom Helder Câmara, falecido arcebispo de Olinda e Recife, um dos fundadores da CNBB: "quando dou pão aos pobres, me chamam de santo; quando eu falo porque os pobres passam fome, me chamam de comunista e subversivo".

Doutor Jean Freire completou: "Jesus morreu porque questionava a sociedade da época. Marielle Franco, irmã Dorothy e tantos outros também morreram por isso! A igreja viva é essa que sai dos templos e vai até onde o povo está, embaixo de uma árvore, numa estrada, num assentamento".

Terra é casa comum e deveria ser tratada como tal 

O assessor da Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais, Elérson da Silva, trouxe ao debate a frase do Papa Francisco de que "A terra é uma casa comum". Ele destacou que hoje há no mundo tecnologia suficiente para acabar com a fome e as desigualdades em todos os cantos, mas que, infelizmente, isso não tem sido feito. Na opinião dele, os recursos naturais, econômicos e financeiros continuam servindo para enriquecer uma pequena minoria.

O deputado Professor Cleiton, católico ligado ao movimento da Renovação Carismática Católica, também destacou a angústia que o Papa Francisco estaria vivendo, com os últimos acontecimentos políticos no Brasil e em algumas partes do mundo. O parlamentar lembrou os recentes ataques à CNBB, e as notícias falsas que, segundo ele, atentam contra a imagem da Igreja Católica.

A deputada Beatriz Cerqueira (PT) parabenizou os militantes católicos pelo compromisso de participação política, destacando que, se cada um deixar de fazer a sua parte, a situação do País vai ficar cada vez pior. 

História - A Campanha da Fraternidade nasceu em 1962, como iniciativa de alguns padres de Natal (RN); hoje é considerada o maior movimento evangelístico da igreja católica. 

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