Pessoas com deficiência melhoram o ambiente de trabalho
Dados mostram que pessoas com Síndrome de Down diminuem em até 50% conflitos internos no ambiente corporativo.
20/03/2019 - 20:28Representantes de empresas e entidades manifestaram seu desejo de que a inclusão de pessoas com Síndrome de Down no mercado de trabalho seja plena. Essa cobrança aconteceu em audiência pública realizada nesta quarta-feira (20/3/19), pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em alusão ao Dia Internacional da Síndrome de Down, celebrado mundialmente nesta quinta (21).
A gestora do Programa Talento Apoiado do Instituto Mano Down, Darlene Lobo, disse que o principal obstáculo à contratação de pessoas com deficiência intelectual é o preconceito por parte das empresas. Segundo ela, os números comprovam a competência e capacidade dos profissionais.
“Buscar trabalho decente e digno para essas pessoas é o que fazemos. Trabalhamos com inclusão com dados objetivos. Nossas pesquisas mostram que a partir do momento que a pessoa com Síndrome de Down está na empresa isso aumenta o engajamento dos demais funcionários em 17%. E os conflitos internos diminuem 50%", apontou. "Estamos desmistificando como é o convívio diário com as pessoas com Síndrome de Down. Aprendemos mais com eles do que ensinamos”, completou Darlene Lobo.
O presidente do Instituto Mano Down, Leonardo Gontijo Viera Gomes, enfatizou que o trabalho é mais uma das ferramentas de busca pelo protagonismo das pessoas com deficiência. “A gente luta para que essa data não precise existir, para que a inclusão seja algo natural. Eles têm de ocupar os espaços e serem protagonistas de sua existência, sem que ninguém precise falar por eles”, explicou.
Empresas - A coordenadora de Recursos Humanos da Telefônica Vivo, Juliana Noronha Santiago, defendeu a importância da participação da família no processo de inclusão. “Tenho orgulho de trabalhar numa empresa inclusiva e que acredita nessa causa. Celebramos essa nova parceria com a Mano Down, que está nos dando ótimos frutos e em breve já pretendemos abrir mais vagas”, apontou.
A analista de Recursos Humanos da MRV Engenharia, Clara Bicalho, também elogiou a participação das famílias no processo. “Uma empresa que acolhe todo mundo pode colaborar para termos uma sociedade que aceite todo mundo. A presença deles já faz as pessoas se sentirem mais livres para serem elas mesmas”, disse.
O diretor executivo da MRV, Raphael Rocha Lafeta, pediu uma legislação mais focada no incentivo à inserção de pessoas com deficiência nas empresas. “Podiam premiar quem inclui e não punir quem não inclui. Talvez assim aumentasse a inclusão. Queremos influenciar outras empresas a tomarem o mesmo caminho”, completou.
Trabalhar deve ser associado a outros direitos básicos
Representando a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE–MG), a fiscal do trabalho e coordenadora estadual do Projeto de Inclusão de Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho e Emprego, Patricia Siqueira Silveira, disse que o direito ao trabalho vem associado com outros direitos básicos, como educação, saúde e transporte.
“É papel do estado multar também, mas encaramos isso como uma derrota. Buscamos projetos e incentivos para empresas se abrirem às pessoas com deficiência”, reforçou.
Patrícia Silveira citou ainda alguns dados referentes ao trabalho de pessoas com deficiência intelectual em Minas Gerais. “Eram mais de 340 em 2016 e subiram para quase 3.800 no ano seguinte. Mas, apesar desse crescimento, elas ainda representam apenas 2% das pessoas com deficiência trabalhando. Isso se deve ao desconhecimento das capacidades e aptidões dessas pessoas”, completou.
Vida plena - O vice-presidente da Comissão, deputado Duarte Bechir (PSD), enfatizou a importância do acesso à saúde de qualidade para quem tem Síndrome de Down. “O Estado não pode desconhecer os desafios e precisa oferecer ferramentas para que essas pessoas vivam plenamente”, defendeu.
O deputado Professor Cleiton (DC) lembrou de alunos que teve com a síndrome durante seus 22 anos como professor. “Deixaram uma marca profunda em mim, mais me ensinaram do que eu pude ensinar”, lembrou.
Já o deputado Zé Guilherme (PRP) reforçou que a luta pela pessoa com deficiência é a luta da sua vida, por causa de sua neta, Maria, que tem uma doença rara. “Seremos aguerridos aqui na defesa desses cidadãos, eles precisam ser protegidos por políticas públicas e ter os mesmos direitos de todos os brasileiros”, destacou.
Gabinetes - A Comissão aprovou, ainda pedido de providências encaminhado ao presidente da ALMG para incentivar e garantir a contratação de trabalhadores com deficiência para atuarem nos gabinetes parlamentares.