Esportistas e atletas rechaçam fim de secretaria
Participantes de audiência pública apoiam sugestão de fundir esporte com Cultura e Turismo, para assegurar continuidade.
19/03/2019 - 20:34 - Atualizado em 20/03/2019 - 13:45Representantes de instituições esportivas, de clubes e de atletas estão preocupados com a proposta de extinção da Secretaria de Estado de Esportes, contida no Projeto de Lei 367/19, do governador Romeu Zema, que dispõe sobre a reforma administrativa do Estado e tramita na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Em audiência pública nesta terça-feira (19/3/19) da Comissão de Esporte, Lazer e Juventude, os participantes apoiaram sugestão do deputado Coronel Henrique (PSL), que pretende apresentar emenda propondo que a pasta integre com outras duas a Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo.
O projeto do governador prevê a transformação para subsecretaria de Esportes, subordinada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social. Coronel Henrique, autor do requerimento para a audiência pública, lembrou que a mudança vai colocar os esportes junto com outras áreas como habitação, trabalho e direitos humanos, podendo trazer prejuízos para o setor, numa disputa por recursos e políticas.
“O esporte tem mais afininidade, uma relação indissociável com cultura e turismo”, ponderou. Em sua opinião é importante intervir na pretensão do governador nesse momento de discussão da proposição. Ao final da audiência, ele sugeriu constituir uma comissão com representantes das entidades e solicitar uma reunião com Romeu Zema para levarem a proposta.
A fusão com as pastas de Cultura e Turismo teve o apoio também de outros parlamentares que participaram da reunião. “O esporte não pode pagar o pato”, protestou o deputado Mário Henrique Caixa (PV), ao se referir à justificativa do Executivo de reduzir despesas. Ele se mostrou preocupado com o destino dos estádios que seriam transferidos para uma subsecretaria da Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra).
O presidente da comissão, deputado Zé Guilherme (PRP), acrescentou que os servidores lotados no Mineirão, Mineirinho, Independência e Arena do Jacaré também serão sublocados para a Seinfra. “Não há clareza de como (essas estruturas) serão mantidas”, advertiu. Zé Guilherme considerou que o debate é fundamentar para enfrentar os riscos e apresentar alternativas para o governador a fim de evitar o desaparecimento da secretaria.
O deputado Antonio Carlos Arantes (PSDB) ressaltou que a área demanda uma pequena parcela do Orçamento do Estado, chegando a R$ 29 milhões no ano passado. “É um investimento barato, mas que melhora a auto-estima das pessoas”. Ele defende ampliar as políticas públicas no setor.
Esportistas lamentam desvalorização
O vice-presidente da Federação Mineira de Futebol, Castellar Modesto Guimarães Neto, considerou que a proposta de extinção da secretaria demonstra o “desmerecimento” do poder público, a começar pelo governo federal. Segundo ele, no ano passado a Confederação Brasileira de Futebol investiu mais na modalidade do que o Ministério dos Esportes em todas as demais.
Ele exaltou a importância do esporte para a sociedade, exemplificando que estudantes que o praticam apresentam melhor desempenho escolar. As atividades esportivas também ajudam a reduzir índices de violência e criminalidade. “O esporte em Minas poderá ter o protagonismo que merece. Temos que unir forças”, sugeriu.
O presidente do Conselho Regional de Educação Física, Claúdio Augusto Boschi, advertiu que sem um órgão que faça uma interface direta com a Secretaria de Educação, o esporte escolar pode acabar, lembrando os eventos que existem no Estado envolvendo estudantes de escolas públicas. Para ele, o esporte é responsável pela projeção do Brasil no exterior e responsável por mais de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) do País.
Cláudio Boschi lembrou que existem praças de esportes e quadras em cerca de 600 cidades do Estado e questionou o que acontecerá com essas instalações. Ele citou um trecho de discurso do ex-presidente Tancredo Neves para valorizar a prática: “Educação, saúde, estrada é obrigação (do Estado); esporte é alegria para a população”.
Carlos Henrique Martins Teixeira, vice-presidente do Minas Tênis Clube, afirmou que o esporte competitivo serve de espelho para formação e educação dos jovens que se dedicam às atividades amadoras. Ainda disse que Minas Gerais tem condições de desenvolver um esporte de alto rendimento.
O presidente da Federação Mineira de Voleibol, Tomas Tavares Perdigão Mendes, reafirmou a afinidade da área com o turismo, ao lembrar os diversos eventos esportivos realizados em Minas, que atraem visitantes de todo o mundo, gerando recursos e renda para o próprio Estado. Seu raciocínio foi corroborado pelo presidente da Federação dos Clubes, Marcolino de Oliveira Pinto Júnior, e pelo presidente da Associação Mineira de Cronistas Esportivos (AMCE), Luiz Carlos Gomes.
Lina Vitarelli Adaid Campolina, presidente da Associação Mineira de Paradesporto, relatou o desenvolvimento do esporte para atletas com deficiência, principalmente a partir da criação de uma coordenadoria própria e de bolsa atleta para os praticantes. Seu receio é que a extinção da secretaria comprometa o apoio a atletas que já participam de olimpíadas.