Participantes da reunião celebraram os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e alertaram para o cenário atual de ataque de direitos
Beatriz Cerqueira recriminou as ideias de extermínio da esquerda
Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 70 anos

Movimentos devem se unir em defesa dos direitos humanos

Participantes de audiência pública pregam resistência contra avanço de agenda conservadora e pedem liberdade para Lula.

10/12/2018 - 20:05

No momento em que se comemoram os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), o Brasil vê suas principais conquistas sociais e políticas ameaçadas por uma agenda ultraconservadora, com o avanço de grupos políticos de extrema direita. Diante desse cenário, é fundamental que os movimentos sociais organizados se unam na defesa de suas conquistas e direitos, resistindo às ameaças e impedindo o retrocesso social e político que coloca em risco, inclusive, conquistas garantidas na Constituição de 1988.

Esse foi o pensamento dominante durante a audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada nesta segunda-feira (10/12/18), na passagem do 70º aniversário do documento.

A reunião abordou também as condições que levaram à prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, considerado pelos participantes como preso político, com o objetivo de afastá-lo do processo eleitoral, já que Lula era o favorito do eleitorado, conforme apontavam as pesquisas.

O presidente da comissão, deputado Cristiano Silveira (PT), destacou a importância da DUDH na garantia das liberdades coletivas e individuais. Lembrou o contexto em que o documento foi assinado, quando o mundo saía destroçado da Segunda Guerra Mundial. E ressaltou que a partir de então outros documentos, pactos e tratados foram gerados.

“A Declaração Universal dos Direitos Humanos inspirou várias constituições, até mesmo a nossa Constituição Cidadã de 1988, agora ameaçada. Então, ao mesmo tempo em que a gente comemora a data, se acende a linha amarela de alerta no Brasil e no mundo diante dos que atacam os direitos coletivos e individuais”, afirmou.

O parlamentar também criticou a prisão do ex-presidente Lula, “uma condenação sem prova e sem trânsito em julgado”. Na sua opinião, desde que o juiz Sérgio Moro aceitou o convite do presidente eleito Jair Bolsonaro para participar do seu Ministério, tornou a situação, “no mínimo, suspeita, por interesse”. “A prisão de Lula é extremamente política, baseada apenas na palavra de um delator, sem materialidade de provas”, disse.

O autor do requerimento para realização da reunião, deputado Rogério Correia (PT), disse que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, embora publicada há 70 anos, “parece que foi escrita para os dias de hoje”. Ele destacou vários artigos do documento, particularmente o de número 9, segundo o qual “ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado”. Segundo o parlamentar, o artigo se aplicaria perfeitamente ao caso de Lula.

“Há uma onda conservadora no mundo. Mas é salutar que a gente saiba o que já foi construído. A solidariedade humana é uma necessidade para que o planeta se desenvolva, respeitando uns aos outros e ao meio ambiente”.

Memorial -Rogério aproveitou a oportunidade para anunciar a inauguração, à noite, em Belo Horizonte, por parte do Governo do Estado, do Memorial dos Direitos Humanos, a Casa da Liberdade, no local onde funcionava, na época da Ditadura Militar, o Departamento de Ordem Política e Social, “o Dops de triste lembrança, onde muitos foram torturados”, disse.

Deputada eleita condena a violência como forma de fazer política

A presidente da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT-MG), deputada eleita Beatriz Cerqueira (PT), lembrou o assassinato de dois integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), esta semana, na Paraíba.

Citou também, entre outros, o assassinato, no Rio de Janeiro, da vereadora Marielle Franco, do PSOL, e de outras lideranças dos movimentos sociais. E apontou números recentes, divulgados pelo IBGE, segundo os quais, nos últimos dois anos, cresceu muito o número de pobres no País.

Para ela, a prisão de Lula, a execução de lideranças sociais e o aumento da pobreza fazem parte de um mesmo projeto de violência.

“Nossa principal tarefa é como enfrentar a violência como forma de fazer política. Dois trabalhadores são assassinados e o presidente diz: ‘quero que matem esses vagabundos do MST'. Um deputado estadual eleito dá entrevista em um jornal e diz: ‘Minha missão na política é exterminar a esquerda’. Depois, esclarece que falava em exterminar ideias. Como exterminar ideias de Mariele, de Lula? Extermínio é termo que se use na política? Quer dizer que em 1º de fevereiro de 2019 eu vou sentar ao lado de uma pessoa que quer me exterminar?”, indagou. “Isso é a naturalização da violência e a desqualificação do legislativo como espaço político.”

Pacto civilizatório - Robson Sávio Reis Souza, do Fórum Mineiro de Direitos Humanos, o ex-ministro dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, e os demais convidados também defenderam a Declaração dos Direitos Humanos, afirmando que é através das lutas dos movimentos sociais que os estados conseguem avançar em pautas civilizatórias. “Direitos humanos são todos os direitos, não só civis e políticos, defendidos pelos liberais, mas também sociais, culturais e difusos, tão caros aos socialistas”, disse Robson.

Consulte o resultado da reunião.