Casos de violência noticiados por jornais foram exibidos durante o encontro
Beatriz disse que escolas públicas não são locais de doutrinação, mas de reflexão
Para Bruno Engler, apoiadores de Bolsonaro não são violentos
Alessandra afirmou que ataques a jornalistas são misóginos
Robson disse que os órgãos devem exercer seu papel para prevenir que as violências
Deputados cobram segurança para cidadãos durante período eleitoral

Bolsonaro estaria incitando a violência no período eleitoral

Denúncias foram feitas em audiência da Comissão de Direitos Humanos. Defensor do candidato diz que ele é demonizado.

23/10/2018 - 19:31

As ideias de que professores seriam “doutrinadores”, de que as escolas estariam distribuindo os chamados “kits gay” e de que é preciso acabar com a educação no campo porque ela seria hoje conduzida pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) foram listadas pela professora Beatriz Cerqueira, eleita deputada pelo PT para a próxima legislatura, como agressões aos educadores.

Ela se manifestou durante audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para tratar de atos de violência ocorridos em decorrência do processo eleitoral atualmente em curso.

A divulgação das ideias citadas por Beatriz Cerqueira estariam sendo feitas pelo candidato à presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, ou por pessoas ligadas à sua campanha. Ela destaca que são todas falsas, que o kit gay nunca existiu e que as escolas públicas não são locais de doutrinação, mas de reflexão.

“Essas informações são falsas e representam uma violência aos professores”, afirmou. Ela, assim como os demais presentes, ressaltaram a necessidade de que os órgãos responsáveis, especialmente o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tomem providências contra as violências citadas ao longo da reunião.

Não só violências simbólicas, como as citadas por Beatriz Cerqueira, foram lembradas ao longo do encontro. O assassinato do capoeirista Moa do Katendê em Salvador no dia do 1º turno do pleito eleitoral foi lembrado pelo presidente da comissão, deputado Cristiano Silveira (PT), que solicitou o debate.

Ele mostrou várias matérias em jornais que tratavam de denúncias de violências motivadas por opiniões políticas.Uma delas, da Agência Pública, disse que foram registrados pelo menos 50 ataques por motivos eleitorais ao longo dos dez dias depois do 1º turno, seis delas contra apoiadores de Bolsonaro e 29 contra eleitores do outro candidato, Fernando Haddad (PT). As demais não teriam ficado claras quanto ao posicionamento de agressores e vítimas.

A maioria dos presentes manifestou a opinião de que o candidato Bolsonaro estaria incitando a violência contra oponentes políticos e ameaçando as instituições democráticas do País.

O deputado Rogério Correia (PT) mostrou vídeo do candidato, publicado nas redes sociais no último domingo (21), no qual ele diz que fará uma “faxina” no País ao banir os oponentes, que chamou de “bandidos vermelhos”.

No mesmo vídeo, ele atacou o jornal Folha de São Paulo, que recentemente publicou matéria sobre irregularidades na campanha do candidato do PSL. Rogério Correia também lembrou da manifestação do filho do candidato, Eduardo Bolsonaro, que afirmou que bastaria um soldado e um cabo para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF).

Bruno Engler, deputado estadual eleito pelo PSL para a próxima legislatura, defendeu Bolsonaro e disse que há uma tentativa de “demonizar” o candidato. Afirmou que as matérias dos jornais citadas, como da Folha de São Paulo, não trazem fontes e não são confiáveis, e que a fala sobre o fechamento do STF era uma “brincadeira”.

Ele também ressaltou que eleitores do candidato do PSL têm sido agredidos e isso não tem sido publicado na imprensa. “As pessoas que apoiam Bolsonaro não são violentas, elas estão é cansadas da hipocrisia esquerdista”, disse.

Jornalista e evangélica citam violências contra grupos que elas representam

Entre as violências observadas em Minas Gerais, estão as citadas pela presidenta do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Alessandra Mello. Ela destacou, por exemplo, as ameaças sofridas por jornalista mineira homônima à profissional paulista que fez matéria sobre disputa judicial de Bolsonaro com a ex-esposa.

Ela teria sido ameaçada de morte. “Como a maioria dos jornalistas são mulheres, os ataques são misóginos em geral. Me desculpem as expressões, mas é assim que nos chamam, de putas, de vagabundas, de prostitutas. Uma profissional do nordeste foi ameaçada de estupro, é assim que nos atacam. Mas não vão nos calar, não vamos sair das redações”, disse.

Alessandra destacou que a censura não começou agora e é histórica no Brasil, já que os donos dos grandes veículos de comunicação sempre se alinharam, em períodos eleitorais, a alguns candidatos. As agressões tão diretas é que seriam a novidade. “A imprensa não está acima de crítica, mas ainda que a gente tenha um sistema de comunicação pouco plural, é ainda por ela que as divergências se expressam”, disse.

O uso dos púlpitos das igrejas para fazer campanha eleitoral, como tem sido denunciado, também foi classificado como violência pela representante da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, Renata Campos Bragança. Ela disse que isso retira das pessoas o direito ao culto religioso ao gerar constrangimento àqueles que têm outro posicionamento político. Ela citou, ainda, que foi intimidada ao tentar distribuir panfletos sobre cristianismo e eleições em frente à Igreja Universal do Reino de Deus.

Outros casos – Muitos dos presentes pediram a palavra ao fim da reunião e citaram violências sofridas. Alguns teriam sido agredidos durante as manifestações contra Bolsonaro. Houve casos de ameaças também contra negros em vias públicas.

Observatório da Violência Política se reúne na ALMG

O representante do Fórum Mineiro de Direitos Humanos e da Comissão da Verdade de Minas Gerais, Robson Sávio Reis, disse que é fundamental que as polícias e os demais órgãos, como Ministério Público e Defensoria Pública, exerçam seu papel para prevenir que as violências ocorram.

Ele lembrou que o Brasil tem um problema de violência estrutural, com um alto índice de homicídios e que as vítimas são, em sua maioria, pobres e negros. A diferença agora seria que a violência está sendo autorizada. “E quem defende essa política belicosa baseada na autorização de matar precisa saber que também pode morrer”, disse.

A criação do Observatório da Violência Política de Minas Gerais, para acompanhar casos, apoiar vítimas e divulgar canais de denúncias foi destacada pela deputada Marília Campos (PT).

O grupo, que reúne diversas entidades sociais, tem se encontrado semanalmente na ALMG. “É importante nos organizarmos para reagirmos a essa liderança que compromete a democracia do nosso País”, disse a parlamentar ao acusar o candidato Jair Bolsonaro de incitar as agressões que vêm acontecendo. Ela afirmou que, independentemente do resultado das urnas, essa organização será essencial para manter a democracia no País.

O representante da Polícia Civil, Aloísio Daniel Fagundes, disse que a corporação trabalha para preservar a ordem democrática e combater qualquer tipo de intolerância. Ele afirmou que é preciso confiar na maturidade das instituições, que atuarão, segundo ele, para frear atos não democráticos.

Disse também que é preciso encorajar a todos que levem as denúncias de violência à polícia para que elas sejam formalizadas e investigadas. Afirmou, por fim, que as delegacias terão efetivo reforçado no próximo domingo (28) durante o 2º turno eleitoral. A Polícia Militar não enviou representantes.

Alguns dos presentes ressaltaram que vão resistir aos ataques à democracia. “Bolsonaro pode ganhar com 55% dos votos, mas seremos os outros 45% do outro lado. Nós vamos resistir”, disse o vice-presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), Romualdo Alves Ribeiro. O deputado André Quintão (PT) também usou o mesmo tom. “Não vamos abrir mão da democracia, não vamos abrir mão da nossa cidadania, não vamos abaixar as nossas cabeças, não vamos sair do País”, disse.

Consulte o resultado da reunião.