Assembleia recebeu debate da ANTT sobre a proposta de renovação antecipada de concessões ferroviárias
Deputados defenderam que valor de concessões seja investidos em ferrovias no Estado
Contribuições podem garantir mais investimentos em linhas férreas

Lideranças mineiras se unem contra proposta da ANTT

Valores apresentados na ALMG para renovação antecipada da concessão da Estrada de Ferro Vitória-Minas são reprovados.

10/09/2018 - 19:18

“Se a proposta é essa que vocês apresentaram, o Estado será contra a renovação. Essa forma como foi apresentada não serve”. Com essa afirmação, o secretário de Estado de Transportes e Obras Públicas, Murilo Valadares, manifestou-se contrariamente à proposta de renovação antecipada dos contratos de concessão da Estrada de Ferro Vitória-Minas e de outras concessões ferroviárias em Minas Gerais.

A proposta foi feita por representantes da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), em audiência pública na tarde desta segunda-feira (10/9/18), no auditório José de Alencar, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A reunião, realizada pela ANTT para discussão do tema, é a primeira de quatro que serão realizadas neste mês de setembro. A ALMG, atendendo a pedido dos deputados da Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras, cedeu o espaço para o debate.

Murilo Valadares manifestou descrença diante de algumas propostas da agência, que estipulou o valor total de R$ 9 bilhões nos investimentos que serão feitos ao longo do período de concessão prorrogado, que será de quase 40 anos. “Esse valor de outorga é baixo demais, já fizemos concessão de uma rodovia por R$ 2 bilhões. O investimento na ferrovia a tarifa paga. A outorga tem de ser livre, estipulada pela administração. Isso vai ser um consenso entre os deputados, independentemente do partido. Minas não vai concordar com esses valores”, afirmou o secretário.

O diretor nacional da Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga (ANUT), Renato Barbosa, endossou essa análise, afirmando que o valor de outorga precisa ser destinado a novas ferrovias e que as prioridades devem ser discutidas pela sociedade. “Para uma decisão de 39 anos, esse é um custo estagnado. Não estamos acreditando no potencial da ferrovia de gerar riquezas, estamos nos contentando com pouco. A velocidade comercial de 27 km/h é muito conservadora, o projeto não prevê melhorias nem nesse, nem em outros aspectos. Não concordo com esse valor”, reforçou.

Mais críticas - O subsecretário de Transportes do Rio de Janeiro, Delmo Pinho, classificou o valor de “merreca” e se disse constrangido pela apresentação da ANTT. “O mérito da inciativa da renovação das concessões é boa, mas esses valores são baixíssimos. Se fosse um grande banco tratando desse assunto, usaria como base de oito a dez vezes o lucro que a ferrovia dá antes dos juros, depreciações e amortizações. Quanto vocês imaginam que na Vitória-Minas isso dá por ano? O valor da outorga tinha de começar na casa dos R$ 15 bilhões. É ridículo”, enfatizou.

Deputados saem em defesa dos trilhos de Minas

A possibilidade de renovação antecipada das concessões ferroviárias já vem sendo discutida nas reuniões da Comissão Pró-Ferrovias e o consenso dos parlamentares é de que os recursos oriundos dessa medida sejam investidos no Estado. O presidente da comissão, deputado João Leite (PSDB), explicou que o governo federal quer, em princípio, que o dinheiro que seria obtido a partir da renovação antecipada dos contratos de concessão seja utilizado apenas em obras de conflito urbano.

“Essas obras, em rodovias, já deviam ter sido feitas há muito tempo e esperamos que as empresas continuem investindo. Mas não faz sentido nenhum que o recurso das ferrovias não seja usado na melhoria delas mesmas. Sonhamos com um ferroanel próximo do Aeroporto de Confins. E uma ligação com São Paulo para passageiros e cargas. A ANTT precisa pensar em defender o patrimônio mineiro. E lutaremos para que os recursos fiquem onde há, de fato, a história ferroviária do País”, completou.

A vice-presidente da Comissão, deputada Marília Campos (PT), criticou a falta de informações por parte da ANTT sobre a renovação das concessões. “Vocês estão aqui hoje apenas porque fomos a Brasília (DF) e pedimos essa reunião. Como não temos todas as informações, nem podemos nos posicionar. Em princípio, soubemos também que o recurso seria aplicado em São Paulo, o que não faz nenhum sentido. Vamos nos levantar em defesa das nossas ferrovias e trilhos”, reforçou.

O relator da comissão, deputado Roberto Andrade (PSB), endossou a opinião dos colegas e colocou as ferrovias como “prioridade e política de governo” para as próximas gerações. “Temos de dar o primeiro passo”, completou.

Greve dos caminhoneiros - O presidente da Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados, deputado federal Domingos Sávio (PSDB–MG), concordou com o posicionamento dos parlamentares e reforçou a importância para o País, de dimensões continentais, de se investir na malha ferroviária.

“A greve dos caminhoneiros trouxe o caos, foi quase um prenúncio de guerra civil e o País se viu refém. A indústria está sem alternativas de transporte, e elas demandam planejamento. Essas renovações, se bem elaboradas, podem ser a salvação do setor. Em caso de não renovação, não sabemos em que circunstâncias elas podem acontecer daqui a dez anos. Independentemente do que se decidir, a sociedade precisa estar de acordo, ou o setor não prosperará”, reforçou Domingos Sávio.

Até o final do mês, a ANTT apresentará a proposta de renovação de concessões em audiências em Ipatinga, Vitória (ES) e na própria sede da entidade, em Brasília. Segundo a agência, todas as contribuições que serão recebidas durante as reuniões estão sendo registradas, respondidas e irão compor um relatório final, a ser aprovado pela diretoria da ANTT. As operações então serão submetidas à aprovação do Tribunal de Contas da União (TCU), que dará a palavra final.