Documentário busca construir uma narrativa mais humanizada do acontecimento - Arquivo ALMG

Documentário da TV Assembleia recebe mais um prêmio

Memórias Rompidas, que traz relatos de atingidos pelo desastre em Mariana, ficou em 1º lugar na II Mostra da Astral.

31/08/2018 - 17:50

O documentário Memórias Rompidas, que retrata o sofrimento de moradores atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, em Mariana (Central), em novembro de 2015, acaba de receber um novo reconhecimento. A produção da TV Assembleia ficou em primeiro lugar na II Mostra de Documentários promovida pela Associação Brasileira de Rádio e Televisões Legislativas (Astral).

A solenidade de entrega ocorreu na última quinta-feira (30/8/18), no Centro de Convenções Expo Center Norte, em São Paulo (SP). Entre os objetivos da mostra estão valorizar o trabalho realizado por TVs públicas em todo o País, além de dar oportunidade para que Assembleias e Câmaras Municipais mostrem um pouco de sua realidade local.

Com a premiação, o documentário da TV Assembleia de Minas, que já vinha sendo veiculado nas TVs Senado e Câmara, passará também a ser exibido na TV Cultura de São Paulo, canal aberto VHF.

Em segundo lugar na premiação ficou o documentário “Aldeia do Saber”, da TV Assembleia do Ceará, que retrata a educação e a cultura indígenas. E a TV Câmara de Araraquara (SP) recebeu Menção Honrosa pela produção do documentário Elas Quebram – Resistir para Existir, que mostra o hip-hop como instrumento de transformação social.

Qualidade - A gerente-geral da TV Assembleia mineira, Patrícia Porto, que compareceu à solenidade, destacou que ficou gratificada com a constatação de que as TVs legislativas têm produção de altíssima qualidade. “Hoje, elas não perdem para a TV aberta; está todo mundo produzindo coisa muito boa”, disse.

Esse aprimoramento do produto veiculado surpreendeu em parte os jurados, de acordo com Patrícia. “Um deles, Florian Madruga, me disse que se emocionou com o nosso documentário sobre a tragédia de Mariana”, contou ela.

Dramas soterrados pela lama

No documentário Memórias Rompidas são apresentados relatos de vários moradores do distrito de Bento Rodrigues, soterrado pela avalanche de rejeitos da mineradora.

Um dos depoimentos é de Wesley, que perdeu sua filha de cinco anos, Emanuely. “Ela estava sem uma gota de lama do joelho para cima quando lhe dei a mão”, disse ele. Minutos depois, Wesley só teve o tempo de dizer que a amava. Nunca mais viu a filha, que se misturou aos rejeitos que soterraram Bento Rodrigues.

“Memórias Rompidas” já havia sido premiado no 33º Prêmio de Direitos Humanos de Jornalismo – 2016. A obra, que narra o maior desastre ambiental do País por meio dos depoimentos, das lembranças e fotografias daqueles que o vivenciaram, conquistou o 3º lugar na categoria documentário na premiação promovida, entre outras entidades, pela Ordem dos Advogados do Brasil – Rio Grande do Sul (OAB/RS).

Produção - Participaram da produção o editor Erick Araújo, a produtora Tatiane Fontes, os cinegrafistas Alex Ramos, Antônio Pedroso e Thiago Phillip, e o assistente de câmera Wenderson Batista.

Erick lembra que as entrevistas requereram tato, pois quase um ano depois de terem a vida devastada pela avalanche de rejeitos, os moradores se emocionaram ao falar de todas as perdas, dos familiares, das casas e ruas. O editor explica que era esse o objetivo do documentário: construir uma narrativa mais humanizada do acontecimento, já exaustivamente repercutido pela imprensa.

Na opinião do editor, o trabalho trouxe aprendizados importantes do ponto de vista profissional e pessoal. “Era muito difícil voltar ao distrito, ver de perto apenas ruínas”, lamentou. Mas destaca que foi ainda mais impactante chegar a Paracatu de Baixo e avistar os vestígios do que foi a cidade, uma vez que ela não foi totalmente encoberta.

O editor da TV Assembleia ressalta ainda que o documentário, também disponível em uma série de seis episódios, tem sido exibido em eventos promovidos pela ALMG ou em que a instituição é parceira. Erick contou que cerca de duas mil pessoas, participantes da Conferência Estadual de Educação, assistiram ao trabalho. Para ele, a obra tem obtido o reconhecimento do público, que também se sente tocado pelas memórias rompidas, mas não perdidas.