Comissão Pro-Ferrovias Mineiras recebeu especialistas para tratar do transporte de passageiros na RMBH
Procurador apontou como inconstitucionais trechos da lei que trata da renovação antecipada das concessões
Antônio de Faria destacou que a malha da RMBH é menor que a de outras regiões
ALMG vai notificar União sobre processo de renovação de concessão ferroviária

Assembleia vai acionar União sobre concessões ferroviárias

Objetivo é esclarecer o processo e garantir que investimentos sejam reaplicados no transporte sobre trilhos em Minas.

23/08/2018 - 17:06

A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) vai notificar judicialmente a União e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para que esclareçam as negociações e a tramitação dos processos envolvendo a renovação antecipada da concessão da Estrada de Ferro Vitória Minas (EFVM) para a Vale SA.

O anúncio foi feito nesta quinta-feira (23/8/18), durante audiência da Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras que discutiu o transporte ferroviário na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A peça foi apresentada pelo procurador da ALMG Renato Pessoa.

A notificação destaca as condicionantes que devem ser observadas antes da renovação das concessões, entre as quais a correta prestação do serviço, o que se contrapõe, por exemplo, com o atual abandono de trechos da malha. A peça cobra, também, que os investimentos advindos da nova concessão da EFVM sejam reaplicados em Minas Gerais.

AGE – A ação da ALMG reforça a iniciativa da Advocacia-Geral do Estado (AGE), que interpelou extrajudicialmente a União em busca de informações sobre o serviço prestado pelas empresas nos últimos 20 anos, desde a concessão da malha. A AGE já recebeu os dados e vai montar uma força-tarefa para analisá-los.

O procurador do Estado Cássio Andrade reforçou que a prestação do serviço na forma contratual é condição para a renovação dos termos. Ele apontou como inconstitucionais vários trechos da Lei 13.448, de 2017, que trata da renovação antecipada das concessões, como o que aliena o patrimônio ferroviário em favor das empresas ou o que reduz o tempo de fiscalização dos contratos.

Cássio abordou ainda a Ação Direta de Inconstitucionalidade apresentada pelo Ministério Público Federal contra a Lei 13.448 e afirmou que o Estado de Minas, via AGE, ingressou na ação como parte interessada para ressaltar as deficiências do sistema no Estado. “Vamos participar das audiências da ANTT e ajudar nessa construção".

O presidente da comissão, deputado João Leite (PSDB), destacou a importância das iniciativas da AGE e da ALMG para que Minas não perca o direito aos investimentos. Ele também anunciou as datas já agendadas para audiências da ANTT em Minas: em Belo Horizonte, no dia 10 de setembro, e em Ipatinga, no Rio Doce, no dia 12.

A comissão aprovou requerimentos para visitar os locais das duas reuniões. Assinaram os pedidos os deputados João Leite e Sargento Rodrigues (PTB), além da deputada Marília Campos (PT), vice-presidenta da comissão. Sargento Rodrigues salientou que a retomada das ferrovias depende de determinação política.

Gestão do setor está pulverizada

Vários projetos de retomada das ferrovias em Minas foram apresentados ou citados durante a audiência. Mas houve uma queixa recorrente dos participantes quanto à falta de um órgão central que pudesse encaminhar as propostas.

Tanto no nível federal quanto no estadual, agências, departamentos, superintendências, ministérios e secretarias dividem a responsabilidade sobre o tema. 

Um dos resultados dessa gestão fragmentada atinge, por exemplo, o metrô de Belo Horizonte. A discussão envolvendo o repasse do metrô da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) para a Metrominas (agência que engloba BH e Contagem) culminou por congelar as iniciativas e aportes de recursos.

“Hoje há uma paralisação total de investimentos, diante da discussão infindável de quem vai fazer o quê. Isso virou desculpa para não se investir em Minas”, aponta Adão Guimarães e Silva, analista técnico da CBTU-BH. Segundo ele, é preciso, inclusive, investir no que já existe, para o metrô não parar.

Essa constatação veio também em números, apresentados pelo conselheiro da ONG Trem, Antônio Augusto de Faria. A RMBH, segundo ele, tem apenas 28 quilômetros de trilhos usados em transporte público, contra 71 quilômetros na Região Metropolitana de Recife, 49 na de Fortaleza e 44 na de Porto Alegre.

“As regiões metropolitanas tiveram uma política de modernização dos trens, e Minas foi uma lamentável exceção. Recife, por exemplo, tinha apenas 18 quilômetros. Porto Alegre também tinha menos e, hoje, ainda está em expansão. O metrô de Salvador está chegando ao aeroporto”, comparou.

A falta de uma estrutura organizada em torno dos trens dificulta ainda a ação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que não consegue ceder a ONGs ou prefeituras os trechos devolvidos pelas concessionárias, para implantação de trens turísticos.

“Minas virou apenas um corredor de passagem de cargas para o porto. E 84% da tonelagem transportada são cargas das próprias concessionárias ou de empresas ligadas a elas”, acrescentou o diretor da ONG Trem, André Tenuta. Ele fez um retrospecto das ferrovias e classificou como “sabotagem” as articulações que levaram à privatização da malha e ao fim do transporte de passageiros.

Metrominas – Murilo Valadares, titular da Setop e diretor da Metrominas, abordou a falta de acordo sobre a regionalização do metrô, mas ponderou que a empresa chegou a fazer projetos para as linhas. Ele defendeu que a Metrominas seja ampliada para todo o Estado, assumindo a gestão sobre o transporte em linha férrea e acabando com a fragmentação da gestão no Estado.

Marília Campos (PT) apoiou a ideia. A deputada defende ainda o compartilhamento da malha existente em Minas, que chega a 22 municípios da RMBH, para trasporte de cargas e passageiros. Segundo ela, além da possibilidade de perder recursos, Minas não estava sequer no mapa de discussão das novas concessões e só foi incluída em função do trabalho da comissão.

“A imprensa está noticiando a possibilidade de adiamento da renovação das concessões. Isso também é fruto de pressão. O processo não está transparente”, criticou. Murilo Valadares acrescentou que hão há sequer estudo sobre o valor do que está sendo concedido. “Já sabemos que os recursos irão para São Paulo e Pará. Se não agirmos, vamos perder tudo”, alertou.

Consulte o resultado da reunião.