A foto de Carine ficou em primeiro lugar entre as 10 mais curtidas durante a campanha do PJ Minas

Campanha do PJ #ComoVejoMinhaCidade já tem as mais curtidas

História real de violência contra a mulher e valorização da luta feminina inspiram fotos no Parlamento Jovem de Minas.

08/08/2018 - 18:31

"Depois de tudo o que vivi fiquei muito emocionada com esse trabalho. É como estar segurando nas mãos a minha cidade e o coração de cada mulher que existe nela", diz a estudante Carine Medeiros.

A foto que a tem como personagem de uma história real de violência sofrida em Visconde do Rio Branco (Zona da Mata) ficou em primeiro lugar entre as 10 mais curtidas durante a campanha #ComoVejoMinhaCidade, que mobilizou os estudantes do projeto Parlamento Jovem de Minas (PJ Minas) durante a etapa municipal.

Na foto, fruto de um trabalho coletivo de alunos da cidade, Carine aparece segurando uma imagem alusiva ao mapa de Visconde do Rio Branco, que se assemelha ao formato de um coração e que vem ladeado por mensagens defendendo assistência, amparo e acolhimento às mulheres.

O resultado completo da campanha está em álbum especial publicado na fanpage estadual do projeto. As imagens vencedoras podem ser conferidas no Facebook desde esta terça-feira (7/8/18), dia escolhido não por acaso.

A data coincide com o aniversário da Lei Maria da Penha, que completou 12 anos desde a sua aprovação como marco legal do País no combate à violência contra a mulher, tema desta que é a 15ª edição do PJ Minas, projeto de educação política e cidadã realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) em parceria com as câmaras municipais e que envolve este ano 82 municípios.

"É bastante triste ainda ver em 2018 cenas como a da advogada pedindo socorro no elevador sem ninguém fazer nada", registra Carine sobre o aniversário da lei, ao comentar a recente morte de Tatiane Spitzner, de 29 anos, agredida no Paraná pelo ex-companheiro Luís Felipe Manvalier.

"Se omitir diante de gritos como os dela, defendendo que em briga de casal não se mete a colher, também é horrível, assim como piadinhas sobre estupro e outras violências não são nada engraçadas", acrescenta a estudante ao frisar a importâcia do tema em discussão nesse PJ.

"É um passo contra tudo isso, porque se os jovens se conscientizam em rodas de conversa sobre o valor da vida já é uma semente que vai se multiplicando em casa, nos amigos, entre os irmãos", acredita Carine.

Trabalho espelha caso real e motiva centro de acolhimento

Ex-participante do PJ em 2011 e 2012 e hoje estudante universitária de Bioquímica, Carine falou, em maio passado, aos estudantes que participam do projeto este ano, em sua cidade. Abordou o estupro sofrido em 23 de fevereiro de 2017, violência que também relatou em depoimento que está publicado na fanpage estadual do PJ.

O título do post, segundo ela, revela seu desejo: “Escrever me ajuda. Falar me ajuda. E ajudar me ajuda.” Ao longo do texto, vão surgindo sentimentos como os de ser exposta à cidade toda: "Minha foto rodou todas as redes sociais, as pessoas me olhavam na rua com um olhar de dó que só me fazia existir e não viver".

Ela fala também do tratamento psicológico e psquiátrico que faz até hoje, entre tantas outras revelações feitas, até concluir: "Minha dor só me faz querer evitar a dor de outras.”

Referência - Por causa dessa vontade de ajudar, Carine comemora não só o resultado da campanha, mas os ganhos já trazidos pelo PJ à cidade. Segundo explica o coordenador do PJ de Visconde do Rio Branco, Claudiney Lucio Malta da Silva, a busca por autoridades e pessoas para falarem aos estudantes sobre a violência contra a mulher e a postura encorajadora da estudante acabaram por sensibilizar gestores municipais, levando a prefeitura a criar recentemente um centro de referência e assistência às mulheres.

O espaço, em implantação, já iniciou atendimentos sem que a mulher tenha que enfrentar filas e desconfortos. "Ela procura na hora que se sente à vontade", comemora.

Novatas também se destacam

No ranking das fotos mais curtidas na campanha, e que serão expostas na etapa estadual do PJ Minas, a veterana Divinópolis (Centro-Oeste de Minas) ficou em segundo lugar, com a imagem em que um mesmo casal surge em duas situações distintas, uma cena romântica registrada nas redes sociais pelo celular, e um momento de agressão do parceiro na vida real. O intuito foi mostrar que nem tudo é o que parece ser.

Itajubá (Sul de Minas) vem na sequência, com foto e reflexão da estudante Nathália Deodato, que disse ter optado por um olhar positivo ao retratar a diretora de uma escola da cidade, Márcia Ednéia Barros. "Uma mulher negra que superou as dificuldades e venceu todos os tipos de preconceitos", registrou a aluna.

Cidades novatas no projeto também ficaram entre as 10 mais. Como Alfredo Vasconcelos (Região Central), que valorizou as mulheres que trabalham na agricultura familiar, na produção de morangos, e Arcos (Região Centro-Oeste), cuja foto estampa o "rastro de São Pedro em pedra calcária da cidade".

O autor, o estudante Guilherme Couto, reflete que a "marca ou a cicatriz na pedra representam as manchas permanentes deixadas por qualquer tipo de violência contra uma mulher". E que o pé simboliza ao mesmo tempo a retomada do movimento na luta pela libertação feminina.