Parlamentares e dirigentes sindicais protestaram contra a política de preços da Petrobras
O coordenador do Sindipetro disse que o País taxa seus produtos como se fossem importados
Acordo com caminhoneiros pode ser ineficaz a médio prazo, denunciam petroleiros

Governo reajustou combustível mais de 200 vezes em dois anos

Participantes de audiência desta quarta (30) denunciam que política da Petrobras favorece investidores estrangeiros.

30/05/2018 - 19:25 - Atualizado em 30/05/2018 - 19:44

De julho de 2016 a abril de 2018, por conta de uma política que atrela os preços dos derivados de petróleo ao mercado internacional, o governo de Michel Temer promoveu 216 reajustes da gasolina e do óleo diesel. Nos últimos 30 dias, os aumentos foram quase diários.

O gás de cozinha também vem sofrendo sucessivos reajustes, prejudicando, principalmente, as famílias mais pobres. Em Minas Gerais, por exemplo, por conta desses reajustes, 20% das famílias, empobrecidas, já teriam trocado o gás por carvão a lenha.

As denúncias foram feitas nesta quarta-feira (30/5/18) em audiência pública da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Convocada para debater os reflexos da política de preços e da produção da Petrobras sobre a sociedade mineira, a audiência reuniu parlamentares e dirigentes sindicais, sobretudo da categoria dos petroleiros, que entrou em greve nesta quarta (30), reforçando o movimento dos caminhoneiros.

Os participantes criticaram a política adotada pelo governo Temer e pelo presidente da estatal, Pedro Parente, denunciando que a decisão de fechar refinarias e reduzir a produção nacional de derivados de petróleo, priorizando a importação de gasolina e óleo diesel, privilegia os grandes investidores em detrimento da população brasileira.

As escolhas do governo, segundo eles, não podem ser desvinculadas do cenário internacional e dos interesses das grandes petrolíferas estrangeiras. “Privatizam os lucros e socializam os prejuízos”, denunciou João Santiago, diretor do Sindicato dos Economistas de Minas Gerais.

A dirigente nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e da Plataforma Operária e Camponesa da Energia, Soniamara Maranho, observou que a Petrobras está entre as maiores empresas do mundo e que o Brasil, assim como a Venezuela, estão entre os grandes produtores de petróleo, ao lado dos países árabes.

A diferença, explicou, é que os países árabes vivem em uma região de permanente conflito. Além disso, para transportarem petróleo da Arábia Saudita, os Estados Unidos levam 45 dias, enquanto do Brasil e da Venezuela são apenas quatro dias.

Presidente da Petrobras também foi responsável pelos apagões

O coordenador do Sindipetro-MG, o sindicato dos petroleiros do Estado, Anselmo Braga, lembrou que o atual presidente da Petrobras, Pedro Parente, também foi responsável pela política de energia do governo Fernando Henrique Cardoso, que gerou sucessivos apagões.

“O Brasil é o único país que taxa os próprios produtos como taxa os produtos importados”, denunciou. Devido a essa política, 40% do combustível consumido hoje, no Brasil, é importado, a maior parte dos EUA.

“O governo está sucateando as refinarias, para justificar a venda do nosso patrimônio. É mais um golpe contra a população”, protestou. “Estamos importando 600 mil barris/dia, quando poderíamos estar exportando 200 mil/dia se todas as refinarias estivessem funcionando”, afirmou.

Carlos Wagner Costa Machado, técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), afirmou que a política de dolarização deixa o País extremamente vulnerável ao que acontece no mundo e às oscilações de preço no mercado internacional.

No governo Temer, disse, 129 empresas, a maior parte estrangeiras, ligadas a petrolíferas internacionais, foram autorizadas a realizar importações de derivados de petróleo, favorecendo os acionistas privados.

Deputados manifestam apoio à greve dos petroleiros

O autor do requerimento para realização da audiência, deputado Rogério Correia (PT), associou o aumento de preços da Petrobras ao que chamou de “golpe”, iniciado com o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Ele defendeu a greve dos petroleiros, afirmando que é um movimento “pela defesa do Brasil e da Petrobras”.

Também fez críticas ao Tribunal Superior do Trabalho (TST), por considerar ilegal a paralisação, bem como à decisão da Petrobras de promover, em plena crise, mais um aumento no preço da gasolina, de 0,74%. Por fim, lembrou que no governo Dilma a gasolina custava R$ 2,60. “Hoje, o combustível está a mais de R$ 5,00 e com briga nos postos”, afirmou.

A deputada Marília Campos (PT) elogiou os petroleiros por enfrentarem uma greve que foi decretada ilegal mesmo antes de começar. A parlamentar destacou que, em 30 dias, o aumento da gasolina, na bomba, foi de 47%, e do diesel, de 38%.

Segundo ela, essa política de paridade com o dólar tem por objetivo tornar a Petrobras mais atrativa para os investidores estrangeiros. 

O deputado Léo Portela (PR) também elogiou os petroleiros, criticou o TST e afirmou que Michel Temer “é o pior presidente da história do Brasil” e que “o País está envergonhado”. “O golpe continua com essa política nefasta e criminosa de preço atrelado ao dólar, que satisfaz apenas o mercado internacional”, disse.

O deputado Doutor Jean Freire (PT), por sua vez, disse que esteve com caminhoneiros autônomos parados nas rodovias. "Quando eles viram que quem estava recebendo os bônus dos acordos com o governo eram os patrões, decidiram que não interromperiam a greve", disse.

O deputado federal Padre João (PT-MG) lembrou a denúncia do ex-analista de sistemas da CIA, Edward Snowden, sobre espionagem na Presidência da República e na Petrobras, afirmando que o fato já apontava para o desmonte da estatal em favor do capital internacional. 

Consulte o resultado da reunião.