Segundo participantes da audiência, nem todos os médicos e membros da comunidade escolar conhecem o transtorno
Iane considerou preocupante a dificuldade dos médicos em diagnosticar o problema
Ao final da reunião, houve sorteio de livros sobre o assunto, com ajuda das crianças

Falta de apoio é um dos problemas de quem tem TDAH

Comissão discute formas de ajudar as famílias de pessoas diagnosticadas com transtorno de deficit de atenção.

13/04/2018 - 22:02 - Atualizado em 16/04/2018 - 11:35

As dificuldades enfrentadas pelas famílias no diagnóstico do transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em crianças foram o tema central da reunião, na noite desta sexta-feira (13/4/18), da Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Os convidados também trataram da falta de sensibilidade e aceitação de outras pessoas, especialmente de professores e outros funcionários das escolas, em relação às especificidades das crianças que têm esse transtorno.

A audiência pública foi solicitada pelo deputado Fred Costa (PEN) em função do aniversário de três anos da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil em Minas Gerais.

A presidente da entidade, Ana Christina Pimentel, fez um paralelo entre o desenvolvimento de uma criança no terceiro ano de vida e a história do grupo.

Para isso, ela citou marcos que a Academia Americana de Pediatria lista para essa idade, como o início da capacidade de negociar soluções para os conflitos e do processo de independência em relação a outras pessoas. Assim, ela agradeceu o apoio à causa durante o encontro.

Quem explicou os sintomas clínicos causados pelo TDAH foi a presidente da Associação Brasileira de Deficit de Atenção (ABDA), Iane Kestelman. Segundo ela, os principais sintomas são dificuldades de se manter a atenção, impulsividade e hiperatividade.

Se a doença não for tratada ou acompanhada, pode levar a sintomas secundários, como altos índices de reprovação escolar e de abuso de drogas. Por isso, conforme ressaltado por Iane, é preocupante a dificuldade ou resistência dos médicos em diagnosticar o problema.

Essa dificuldade foi relatada por todos os presentes. “A maioria dos profissionais de saúde não conhece o transtorno”, afirmou Odília de Almeida, que foi diagnosticada com TDAH.

O neurologista infantil Christovão Xavier também ressaltou o problema e disse que até hoje as faculdades não oferecem a formação necessária sobre a doença para os futuros médicos.

Ele completou, ainda, que é preciso que a compreensão sobre o transtorno seja estendida também para outros profissionais, em especial àqueles que trabalham em escolas, como professores e psicopedagogos.

Apoio de familiares e educadores é importante

Os convidados relataram problemas vividos pelas famílias em função do desconhecimento dos membros da comunidade escolar sobre o TDAH. A desatenção e a agitação causadas pelo transtorno dificultam o aprendizado, o que costuma, conforme os presentes, levar a reprovações e expulsões da escola.

Cinthia Madureira de Aguiar e Silva, que tem um filho diagnosticado com a doença, salientou outro problema: a desconfiança das pessoas que cercam a família. Segundo ela, é comum o questionamento baseado na ideia de que se trata de um “modismo” e que o problema da criança seria a falta de limites. Ela e os demais reforçaram que o TDAH já está listado no Cadastro Internacional de Doenças (CID).

O presidente da Academia Mineira de Medicina, José Raimundo Lippi, fez uma palestra durante a reunião. Ele tratou especialmente da importância da família no acompanhamento das pessoas com TDAH. “Todos nós nascemos com capacidades e precisamos desenvolvê-las ao longo da vida. Quem tem TDAH, por exemplo, costuma ter ótima habilidade motora. Com o apoio adequado, essas pessoas podem desenvolver isso”, disse.

O deputado Fred Costa ressaltou que o desenvolvimento dessas capacidades pode levar as pessoas a se destacarem em vários campos de atividades. Ele citou algumas personalidades que já admitiram publicamente ter a doença, como o nadador olímpico Michael Phelps.

O deputado também disse que há um descaso político com a doença e que é preciso apoiar as famílias. Por fim, Fred Costa anunciou que vai destinar R$ 100 mil de verba parlamentar à compra e distribuição de remédios importantes para o tratamento. A reunião terminou com o deputado e as crianças presentes na reunião fazendo sorteio para a distribuição de livros sobre o assunto.

Consulte o resultado da reunião.