Dudu do Cavaco deu exemplo de superação na reunião da Comissão da Pessoa com Deficiência
Leonardo Gontijo, do Instituto Mano Down:
Defensoria e Ministério Público anunciam fórum permanente de defesa da pessoa com deficiência

Vencer limites é desafio diário de quem tem síndrome de Down

Além de debater inclusão, participantes de audiência aproveitam data lembrada mundialmente para celebrar a vida.

21/03/2018 - 19:41

O Dia Internacional da Síndrome de Down foi lembrado nesta quarta-feira (21/3/18) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) em uma audiência pública da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência. A reunião também serviu para que dezenas de participantes com essa condição genética (a trissomia do cromossomo 21) pudessem se expressar, celebrando a vida, a superação de limites e o amor que os une aos familiares e amigos.

Para falar de superação, quem deu um show foi Eduardo Gontijo Vieira Gomes, mais conhecido pelo nome artístico de “Dudu do Cavaco”. Ao longo de seus 27 anos de vida, Dudu, com o apoio do irmão Leonardo Gontijo, presidente do Instituto Mano Down, aprendeu a tocar nove instrumentos, dá palestras e escreve livros e poesias.

A palestra da dupla, acompanhada de um repertório musical, foi o ponto alto da programação da audiência, que contou ainda com atividades educativas e de lazer e uma apresentação teatral.

Alunos do curso de teatro do Instituto Mano Down apresentaram a peça “Joga Asas na Geni”. Acompanhados do professor Bruno Mendes e ao som de “Geni e o Zepelim” e “Gota d’água”, músicas de Chico Buarque, eles mostraram de forma lúdica a quem passava por ali como retribuir o preconceito com amor.

Na sequência, foi a vez de discutir como melhorar as condições de vida de quem tem a síndrome de Down. A audiência atendeu a requerimento dos deputados Duarte Bechir (PSD), presidente da comissão, e Antonio Carlos Arantes (PSDB), tendo em vista também a passagem da Semana Estadual da Síndrome de Down, instituída pela Lei 20.742, de 2013.

Duarte Bechir destacou que a mobilização dá voz a esse segmento da sociedade na luta contra a discriminação e reforça a cobrança de medidas mais efetivas do poder público. “Mais do que falar, o mais importante é ouvir essa importante lição de respeito no convívio com a diferença”, ressaltou.

Repúdio - Nessa linha, entre as decisões da audiência está a aprovação de requerimento com manifestação de repúdio a supostas declarações da desembargadora Marilia Castro Neves Vieira em rede social criticando a professora Débora Araújo Seabra de Moura, que leciona no Rio Grande do Norte e tem síndrome de Down.

“É vergonhoso uma juíza, que deveria garantir direitos, com esse tipo de preconceito”, lamentou. Uma cópia do requerimento será enviada ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pedindo providências.

O defensor público Luiz Renato Braga Arêas Pinheiro também anunciou a criação de um fórum permanente de defesa dos direitos da pessoa com deficiência, encabeçado pela Defensoria e pelo Ministério Público. “Essa articulação é um marco no Brasil, tendo em vista que a Lei Brasileira de Inclusão (Lei Federal 13.146, de 2015) prevê como um dos direitos o acesso à justiça”, destacou.

Já o deputado Antonio Carlos Arantes manifestou seu apoio à tramitação do Projeto de Lei (PL) 3.448/16, do deputado Fred Costa (PEN), que obriga os hospitais públicos a comunicar o nascimento de crianças com síndrome de Down às instituições especializadas de atendimento dessas pessoas.

A ideia é contrabalançar o despreparo de muitos profissionais de saúde nesse momento crucial para a família. Também foi reforçada a importância das escolas de educação especial, conforme destacou o deputado Bosco (Avante).

Com estímulo e aceitação, Dudu do Cavaco dá show

“Nada mais deficiente do que o preconceito e nada mais eficiente do que o amor”. Com essa afirmação, o presidente do Instituto Mano Down, Leonardo Gontijo, abriu a palestra musicada que sempre ministra ao lado do irmão Eduardo. No repertório estão sucessos como “Trem das Onze”, “Brasileirinho”, “Aquarela do Brasil” e “Garota de Ipanema”.

Dudu do Cavaco, como o nome artístico indica, comanda o cavaquinho e é acompanhado de violão e percussão. Seu talento foi mostrado logo na abertura da audiência, quando ele tocou o Hino Nacional em seu cavaquinho.

Leonardo narrou a trajetória de vida do irmão Dudu e emocionou pais e mães presentes na audiência. “Antes, eu nem sabia o que era essa síndrome. Eu não enxergava as pessoas com deficiência e vi o quanto o meu olhar era seletivo. Quando o Dudu nasceu, tínhamos duas escolhas: lamentar ou aprender. Escolhemos a segunda opção”, afirmou.

Segundo Leonardo, o segredo do sucesso de Dudu está no binômio estímulo e aceitação verdadeira. “Todo ser humano é capaz de tudo, mas de formas diferentes, e a família é o pilar dessa caminhada. Não importa qual seja a pergunta, a resposta é sempre o amor”, ponderou. Segundo Leonardo, foi em nome desse amor que o Instituto Mano Down foi criado, já que as escolas e outras instituições não se mostraram à altura de acolher o irmão.

“A escola onde os outros três irmãos estudaram negaram uma vaga ao Dudu. Hoje isso é crime, mas ainda acontece, e isso é muito dolorido para as famílias. Da mesma forma, oito professores de música disseram que ele jamais tocaria um instrumento”, contou. “Não deixem os especialistas matarem os seus sonhos e dizerem o que vocês conseguem e o que não conseguem fazer”, finalizou.

Consulte o resultado da reunião.