Policiais planejam protesto contra política de segurança
Principais queixas se referem à infraestrutura e ao efetivo, bem como à vulnerabilidade dos profissionais do setor.
14/12/2017 - 20:31 - Atualizado em 15/12/2017 - 11:42Dezenas de policiais e representantes de associações de classe protestaram nesta quinta-feira (14/12/17), em audiência da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), contra a política estadual do setor. Eles se queixaram, principalmente, das condições inadequadas de trabalho e da vulnerabilidade dos agentes de segurança, tendo em vista o assassinato de 15 profissionais somente neste ano.
Os participantes aprovaram a realização de uma manifestação nesta sexta-feira (15), a partir das 14 horas, na Praça Sete, em Belo Horizonte, e de uma assembleia geral visando à paralisação dos servidores da segurança pública. A assembleia está prevista para as 14 horas da próxima quarta-feira (20), no Clube dos Oficiais da Polícia Militar, na Capital.
Dirigentes de associações de policiais civis e militares, de agentes penitenciários e dos bombeiros expuseram a insatisfação do segmento com o que consideram a precarização da segurança.
Maria de Lurdes Camilli, vice-presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia, relatou que a entidade percorreu 9,5 mil quilômetros no Estado para traçar um diagnóstico da infraestrutura e das condições de trabalho nas delegacias.
Segundo ela, o resultado não é nada animador. A falta de estrutura é tamanha, que as obras para a instalação de uma delegacia em Uberaba (Triângulo Mineiro) só foram concluídas com doações dos moradores. Outra carência da Polícia Civil observada é a de efetivo.
Movimento reivindicatório - Norberto Russo, presidente da Associação dos Militares Estaduais Mineiros (Amem), Altamir Penido, vice-presidente da Associação dos Oficiais, e Denilson Martins, presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil (Sindpol), resumiram o sentimento da maioria dos militares presentes de que o momento atual se assemelha ao de 1997.
Na ocasião, insatisfeitos com a política remuneratória do governo Eduardo Azeredo, centenas de policiais marcharam até o Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, naquele que é considerado o maior movimento reivindicatório da categoria.
“Os policiais estão só esperando uma voz de comando para ir às ruas. O clima é de tensão total nas delegacias”, afirmou Denilson Martins. “É preciso lembrar ao governo que quem garante a governabilidade no Estado são as forças de segurança”, acrescentou Altamir Penido.
Parlamentares cobram posicionamento do governo
O presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues (PDT), ressaltou que a reunião foi convocada não só para ouvir a categoria – insatisfeita com questões que envolvem desde o parcelamento de salários e o atraso no pagamento do 13º até a precária situação de delegacias, viaturas, armas e coletes à prova de balas –, como também para cobrar um posicionamento do Governo de Minas.
O deputado lembrou que 13 policiais militares, um delegado e um agente penitenciário já foram assassinados em serviço em 2017. Muitas vezes, segundoe ele, ao estabelecer a presença de apenas um militar por turno, as escalas de trabalho infringem um dos preceitos fundamentais das forças policiais: a supremacia de força em relação aos criminosos.
O deputado João Leite (PSDB) também se mostrou preocupado com a situação da segurança pública e de seus servidores no Estado. “Assistimos ao esvaziamento total dos investimentos nas Polícias Militar e Civil”, observou. Ele ainda salientou, perplexo, que, em visita à 6ª Companhia do 1º Batalhão da Polícia Militar, na Capital, presenciou policiais trabalhando como serventes de pedreiro.
Para o deputado Antonio Carlos Arantes (PSDB), Minas revive hoje situações antes só vistas no cinema, com cidades encurraladas por criminosos, enquanto o governo finge que nada está acontecendo.
Novo cangaço - Segundo o deputado federal Subtenente Gonzaga (PDT-MG), as forças de segurança enfrentam hoje o que classificou como “novo cangaço”, formado por grupos violentos dispostos a matar ou morrer.
Diante desse cenário, ele defendeu a aprovação de projeto de lei que disponha sobre a proteção de policiais ameaçados. Contudo, ele lamentou que as negociações em torno de uma proposição nesse sentido sempre esbarram nas prioridades da Secretaria de Estado de Segurança Pública.
O deputado Coronel Piccinini (PSB), por sua vez, cobrou a instituição de um grupo especial de trabalho para combater o chamado novo cangaço. Nesse sentido, o delegado Julio Wilke, coordenador da Superintendência de Investigação e Polícia Judiciária, afirmou que em Minas já está em curso um trabalho direcionado às quadrilhas responsáveis pelas mortes de policiais.
Foi criada uma força-tarefa, com o envolvimento de todas as polícias, do Ministério Público e de instituições financeiras, para a coleta de informações que possam ajudar na instrução de investigações. Ao mesmo tempo, uma equipe operacional das polícias está a postos para atuar em ocorrências que possam antecipar e evitar ataques.
Requerimentos - Ao final da reunião, os parlamentares aprovaram requerimentos dando encaminhamento às questões discutidas.