Médica aponta que cesarianas chegam a quase 90% dos partos na rede privada
Sônia Lansky denunciou que 12,5% dos partos brasileiros são de bebês prematuros, por cesariana programada
Experiências sensoriais integram a exposição Sentidos do Nascer

Exposição derruba mitos sobre sofrimento do parto normal

Comissão das Mulheres conheceu mostra que apresenta vantagens da técnica natural sobre as cesarianas.

17/11/2017 - 19:20

O modelo médico implantado há cerca de 50 anos para fazer partos nos Brasil é um dos fatores que tornaram o País o campeão mundial de cesarianas desnecessárias. A advertência é de Raul Lansky, supervisor da exposição "Sentidos do Nascer", em exibição no Parque das Mangabeiras, em Belo Horizonte, até o dia 17 de dezembro. A mostra foi visitada pela Comissão Extraordinária das Mulheres da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta sexta-feira (17/11/17).

Segundo Lansky, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera normal que apenas 15% dos partos sejam realizados por cirurgia, nos hospitais particulares do Brasil esse percentual atinge quase 90%, e na rede pública do Sistema Único de Saúde (SUS), fica por volta de 60%.

“A cesariana foi um avanço tecnológico importante que pode salvar vidas; mas aqui tem sido usada como regra e não como solução para casos extremos”, lamenta.

Ao utilizar diferentes recursos de mídia como vídeos, cartazes, apresentações teatrais e exposição interativa, Sentidos do Nascer tem por finalidade romper com mitos sobre o parto normal e ampliar os conhecimentos sobre essa prática natural.

“O melhor é que a mulher seja dona de seu próprio corpo e protagonize o nascimento de seu filho ou filha”, considerou a presidente da comissão, deputada Marília Campos (PT). A parlamentar acredita que, pela deficiência da atenção básica à saúde, muitas mulheres acabam optando pela cesariana por desconhecimento e insegurança. “O médico dita, e a mulher acata como única solução”.

Violência no parto é denunciado por pediatra

Idealizadora da exposição, a pediatra e doutora em epidemiologia Sônia Lansky denunciou que 12,5% dos partos brasileiros são de bebês prematuros, com 36 semanas ou menos, por cesariana programada.

Especialista em mortalidade infantil e materna da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, ela advertiu que a cirurgia, além de representar um risco imediato à criança, desrespeita sua individualidade pois muitas ainda nem estão prontas para o nascimento, seja física ou emocionalmente.

No processo do parto normal, o bebê recebe hormônios da mãe, entra em contato com bactérias que o ajudam em suas defesas e na prevenção a doenças como hipertensão, asma, alergias e até autismo. A criança ainda conta com o aconchego no nascimento, negado nos casos de cirurgia.

Ela reclamou, ainda, de outros atos médicos que considera violência contra as parturientes. Cita o exemplo do corte na vagina (episiotomia), que têm por finalidade acelerar o parto, mas é uma mutilição para a mulher e amplia o sofrimento.

A posição deitada, que ela considera antinatural, e a aplicação de hormônios sintéticos por soro também são outras opções geralmente oferecidas pelos obstetras e que só dificultam o processo do nascimento e causam mais dor. “Cabe à mulher escolher a posição que lhe pareça mais confortável”, defendeu. Cócoras ou em pé são posturas que facilitam a descida do bebê, em função da força da gravidade.

Separar o bebê da mãe, aspirar a criança para tirar as secreções naturais e manter a gestante em jejum durante o processo também são medidas condenadas pela especialista. Todos esses exemplos causam apenas sofrimento para a mulher e facilitam o trabalho dos profissionais.

“Parir é um prazer e deve ser uma vivência plena da feminilidade”, afirmou Sônia Lansky. Ela explica que a dor é natural e tolerável, mas essas práticas podem torná-las insuportáveis, estimulando muitas mulheres a optarem pela cesariana por medo do sofrimento.

A tentativa de imposição da cirurgia pelos médicos, segundo a pediatra, na maioria das vezes é para atender a interesses de lucro para os hospitais e agendas dos profissionais.

A exposição – Sentidos do Nascer está em sua 12ª edição. É realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, mas conta com apoio de centenas de profissionais, organizações não-governamentais ou públicas, entre outros patrocinadores.

A exposição é dividida em quatro módulos: Gestação, Controvérsias, Nascimento e Conversas. Na primeira parte, o cenário permite que cada visitante se veja “grávido”, pela projeção de um feto e uma silhueta de barriga sobre seu corpo.

No módulo Controvérsias, o visitante participa de debates envolvendo diferentes pontos de vista sobre a forma de nascer.

Na parte do Nascimento, há uma simulação desse momento, por meio da qual o visitante passa por um espaço que remete ao útero e pelo canal vaginal, em uma vivência sensorial. O último módulo, Conversas, é um espaço de troca de experiências e informações mais aprofundadas.

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