A audiência pública marcou a comemoração do Dia da Consciência Negra, anualmente celebrado em 20 de novembro
Guaracy alertou para a intolerância religiosa, que tem levado à perseguição
Segundo o Frei Carlos Josaphat, Las Casas foi conhecido como o protetor dos índios

Discriminação contra pobres e negros é combatida em reunião

Intolerância contra manifestações de matriz africana foi uma das preocupações em audiência pelo Dia da Consciência Negra.

14/11/2017 - 22:58 - Atualizado em 16/11/2017 - 18:33

O combate a posturas extremistas e preconceituosas foi defendido nesta terça-feira (14/11/17) por participantes de audiência pública realizada na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

A reunião marcou a comemoração do Dia da Consciência Negra, anualmente celebrado em 20 de novembro, e teve o objetivo de chamar a atenção para a necessidade da promoção dos direitos dos negros e pobres no Brasil. Os presentes também destacaram a instituição do Dia Mundial dos Pobres pelo Papa Francisco, e que será celebrado pela primeira vez no próximo domingo, 19 de novembro.

“Não por coincidência temos as duas datas, para que pensemos na acolhida do outro, longe de comparações desqualificadoras e intolerantes” defendeu o professor e psicólogo Guaracy Santos, do Movimento Negro.

Ressaltando que ainda faltariam ações governamentais e da sociedade contra a discriminação racial e socioeconômica, Guaracy alertou também para a intolerância religiosa, que segundo ele tem levado à perseguição de diversas expressões culturais.

Segundo o professor, dados recentes mostrariam que uma denúncia de intolerância religiosa é registrada a cada 15 horas no País, sendo as religiões e expressões de matriz africana os maiores alvos e, dentro destas, a umbanda lideraria o ranking, com 39% dos casos.

"Temos vários desafios, entre eles o do diálogo interreligioso, que muitas vezes não acontece por desconhecimento ou por falta de interesse em conhecer as diversas manifestações", afirmou o representante do Movimento Negro.

O professor avalia que muito do preconceito contra as religiões de matriz africana também se deve ao fato de elas estarem abrigadas em centros localizados em periferias e bairros mais pobres. "Estamos todos convocados a rever valores humanos e religiosos, como o amor e a compaixão", defendeu ele.

Deputado defende luta pela igualdade

Autor do requerimento da audiência, o deputado Durval Ângelo (PT) avaliou a importância de marcar as duas datas com reflexões da sociedade. "Ainda mais nesse momento sombrio e de retrocesso mundial, devido a posturas preconceituosas e extremistas dos que não toleram diferenças", registrou o deputado.

Durante a audiência, foi homenageado o arcebispo emérito da Paraíba, dom José Maria Pires, o "dom Zumbi", que faleceu em agosto último, aos 98 anos. Bispo mais velho do Brasil e o primeiro bispo negro do País, dom José foi destacado pelo parlamentar como referência na luta pela igualdade.

Religioso que também gostava de festa, música e alegria, conforme lembrou o deputado, dom José foi homenageado em exibição de vídeo, em relatos emocionados de presentes que conviveram com ele e ainda em lançamento de livro e em músicas apresentadas pelo grupo Geraldinho e Seus Companheiros, de Divinópolis.

"Homem disciplinado, que não gostava de deixar ninguém esperando", nas palavras de padre Manoel de Godoy, professor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia; ou "o melhor exemplo de justiça e paz nesses tempos tão difíceis”, conforme Lilian Contreira, foram vários os registros sobre o homenageado.

Já a obra "Um profeta em movimento", de Mauro Passos, é fruto de nove anos de trabalho e traz entrevista com dom José, destacando seus valores e sua ação em prol dos pobres e excluídos bem como seu orgulho ao se assumir publicamente como negro.

"Perdemos alguém que era capaz de unir diferenças e construir caminhos diferentes, que em tempo de rupturas estabeleceu o diálogo na sociedade", registrou o autor.

Las Casas - Também marcou a audiência o lançamento do livro “Las Casas Zumbi – Despertar histórico da consciência negra”, de Frei Carlos Josaphat. Religioso espanhol, Las Casas, para o autor, procurou ser o homem das verdades e ficou conhecido como o protetor dos índios.

“Ele dizia que a colonização de um povo por outro só pode ter sentido se os dois estão de comum acordo e sua honestidade deveria inspirar a todos a uma releitura da história baseada nos valores e nos direitos humanos", defendeu frei Carlos.

Paulo Freire – Foi divulgada, ainda, a organização do Coletivo Paulo Freire por uma Educação Democrática, com a disponibilização de petição pública contra a tentativa de retirar do educador o título de patrono da educação brasileira.

Lilian Contreira, que foi assessora do educador e integra o coletivo, creditou a intenção de desvalorizar o legado de Paulo Freire a movimentos ultraconservadores desencadeados nos últimos meses.

Autor de obras como “Pedagogia do Oprimido” e um dos educadores mais importantes da história, Paulo Freire faleceu em 1997 e, para Lilian, aqueles que estão à frente desses movimentos de retirada do título o fazem sem ter lido ou compreendido a obra do educador recifense.

Consulte o resultado da reunião.