Categoria falou do alto custo da produção, do preço irrisório de compra do leite, da energia elétrica cara, da seca e da ameaça de importação de leite do Uruguai
Deputados se mostraram preocupados com a crise enfrentada pelo setor e cobraram ações

Produtores rurais repudiam crise da cadeia do leite

Deputados e outras autoridades reivindicam políticas estruturantes em prol do setor em Minas, maior produtor do País.

26/10/2017 - 18:28 - Atualizado em 26/10/2017 - 18:52

Uma mobilização em repúdio à crise na cadeia produtiva do leite marcou a audiência pública da Comissão de Agropecuária e Agroindústria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quinta-feira (26/10/17). A reunião, solicitada pelos deputados Antonio Carlos Arantes (PSDB), presidente da comissão; Fabiano Tolentino (PPS), vice-presidente; e Gustavo Santana (PR) contou com a presença de produtores rurais de diversos municípios mineiros

Foram enfatizadas dificuldades pelas quais passam os produtores de leite. Entre elas, o alto custo da produção, o preço irrisório do leite pago a esses trabalhadores, a energia elétrica cara, a seca e a ameaça de importação de leite do Uruguai, que está suspensa temporariamente.

De acordo com o produtor de Passos (Sul de Minas), Mauricio Silveira Coelho, integrante da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), a situação vivida no setor é muito grave. “Ninguém consegue se manter com o preço do produto abaixo do custo da produção. Todos nós estamos no vermelho. Não dá para ficar assim por muito tempo. Precisamos de uma política estruturante”, afirmou.

O presidente da Comissão Técnica de Pecuária da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Eduardo de Carvalho Pena, também destacou a necessidade de ações direcionadas para o setor, sobretudo, tendo em vista que Minas é o principal estado produtor de leite no Brasil, responsável por 30% da produção.

Segundo o presidente da Federação de Cooperativas Agropecuárias de Leite em Minas Gerais - Patos de Minas (Alto Paranaíba), Vasco Praça Filho, a cadeia do leite é a maior geradora de trabalho no Brasil. “Só não sabíamos da nossa força. Vamos continuar esse processo de unir sindicatos, cooperativas e prefeitos”, convocou.

O presidente do Sindicato Rural de Passos, Darlan Esper Kallas, entregou ao deputado Antonio Carlos Arantes documento elaborado em conjunto com produtores de outras cidades com propostas para o setor. Uma das sugestões é a instalação de uma comissão composta por deputados para identificar oportunidades e desafios dessa cadeia.

Crédito - A assessora da Diretoria do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg), Isabela Chenna Perez, comentou que o setor almeja linhas de crédito diferenciadas e competitividade. “O Brasil só não está pior por causa do agronegócio”, disse.

Já o assessor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg), Guilherme Rabelo, avaliou que não se avança na cadeia produtiva só com acesso ao crédito. “Precisa haver assistência técnica. Senão, o produtor só vai se endividar”, ponderou.

Empresas - O vice-presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados no Estado de Minas Gerais, José Antônio Bernardes, falou que as empresas também passam por dificuldades atualmente. “Essas crises de leite são sistêmicas. Precisamos organizar a cadeia como um todo”, salientou.

Parlamentares apoiam cadeia produtiva do leite

Segundo Antonio Carlos Arantes, a audiência dá sequência a ações pelo Brasil contra essa crise vivenciada pelo setor. “É um produto de primeira necessidade que não pode chegar caro à mesa do brasileiro. Mas, o produtor não pode pagar essa conta, que é o que está ocorrendo. Precisamos de políticas para fazer frente a isso”, reforçou.

Para Fabiano Tolentino, a ameaça de importação de leite é preocupante. “Não conseguimos competir com esse leite que vem de fora”, disse. Ele comentou que os insumos estão cada vez mais caros, o que prejudica a produção, além de o preço ser muito baixo na ponta.

Manifestaram preocupação com a crise no setor e também demonstraram apoio ao movimento os deputados Emidinho Madeira (PSB), Inácio Franco (PV), Bonifácio Mourão (PSDB), Luiz Humberto Carneiro (PSDB), Cássio Soares (PSD) e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB).

Agenda - O deputado federal Evair Vieira de Melo (PV-ES), membro da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, afirmou que é preciso construir uma agenda nacional em prol do setor. “Nenhuma política agrícola de sucesso pode ser elaborada sem Minas Gerais. Precisamos do Estado pela sua representatividade”, acrescentou.

O parlamentar também pediu a união dos trabalhadores para reforçar o movimento que já vem ocorrendo no País.

Representantes do governo federal e estadual relatam ações

A médica veterinária da Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SFA/MG), Nazareth Aguiar Magalhães, relatou programas do Ministério da Agricultura, criados em 2015, direcionados ao produtor rural.

Um deles se chama Mapa-Leite que, em parceria com o Senar Nacional, vai distribuir R$ 17 milhões para ações de assistência técnica na área até 2018. O outro é o Mais Leite Saudável, que prevê a desoneração do PIS/Cofins para indústrias de laticínios em 50% se as empresas aplicarem 5% para o produtor em fomento agropecuário.

O secretário-adjunto de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Amarildo Kalil, enfatizou que o governo está atento à cadeia produtiva do leite. Ele relatou que é preciso fazer trabalhos estruturantes. “É importante resolver os momentos de crise, mas a mobilização não pode se restringir a isso”, enfatizou.

Consulte o resultado da reunião.