Custo de manutenção da instituição é de R$ 5 milhões/mês, mas faturamento não chega a R$ 3 milhões

Hospital João XXIII sofre com falta de recursos

Estabelecimento passa por problemas administrativos e estruturais. Pacientes não têm nem água quente para o banho.

04/10/2017 - 13:55 - Atualizado em 04/10/2017 - 15:47

Sistema elétrico com defeitos, elevadores em estado crítico, defasagem do projeto de segurança e incêndio e falta de água quente para o banho dos pacientes são alguns dos problemas estruturais enfrentados pelo Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), localizado em Belo Horizonte. Referência internacional em traumas, a instituição sofre com a falta de recursos e carência de pessoal. A situação foi constatada em visita da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada nesta quarta-feira (4/10/17).

O diretor do hospital, Sílvio Grandinetti, explicou aos parlamentares que é necessária uma obra estrutural no valor de R$ 100 milhões, mas que não há perspectiva para a chegada do recurso. Ele explicou que o custo de manutenção mensal do estabelecimento é de R$ 5 milhões, mas que o faturamento não chega a R$ 3 milhões. “Somente a Prefeitura de Belo Horizonte, que deveria nos repassar R$ 180 mil todos os meses, não deposita o recurso há três anos”, disse.

O hospital também enfrenta problemas administrativos. Segundo Grandinetti, não há autonomia para demissão e contratação de pessoal e o deficit de médicos já é de 65. “Fazemos cerca de 340 atendimentos por dia e estamos com os quadros defasados. Mais que isso, estamos perdendo profissionais, que pedem exoneração por falta de condições de trabalho”, lamentou.

O diretor assistencial do HPS, Marcelo Lopes Ribeiro, afirmou que o hospital está sucateado e que a última grande obra estrutural foi feita em 2008. Depois disso, apenas pequenos reparos foram realizados. “A burocracia também é um complicador. Para comprar materiais de trabalhos básicos, dependemos de licitação, que é sempre um processo demorado e incompatível com as necessidades e a emergência de um hospital”, pontuou.

Parlamentares defendem gestão autônoma

O deputado Antônio Jorge (PPS) entende que a rede da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) está obsoleta e precisa buscar autonomia na sua gestão. Para ele, os governos gastam pouco e mal com a saúde, uma vez que ainda fazem manutenção das instituição por meio de licitação. Ao reforçar que o João XXIII precisaria ser comandado por profissionais escolhidos por mérito, ele sugeriu que seja feito um debate que proponha a independência do sistema da administração direta.

“O que vimos hoje não são apenas problemas estruturais, mas de direitos humanos. Os pacientes estão tomando banho frio. O governo precisa ter dignidade e atitude para dar a efetiva prioridade ao hospital”, criticou.

O presidente da comissão, deputado Carlos Pimenta (PDT), que propôs a visita, lamentou o que chamou de dependência da saúde pública em relação à Secretaria de Estado de Fazenda. Para ele, é inadmissível que a manutenção do local, assim como o fornecimento de materiais e equipamentos, dependa de licitação. “O João XXIII é o maior hospital de traumas do Brasil. O repasse do governo hoje é de cerca de 30% do mínimo constitucional. Não dá para fazer saúde assim”, lamentou.

Carlos Pimenta destacou, ainda, que a comissão vai se reunir com o atual presidente da rede Fhemig, Tarcísio Neiva, no dia 17 de outubro para buscar soluções para a crise no sistema.

Mobilização – O deputado Geraldo Pimenta (PCdoB) defendeu que seja feita uma grande mobilização dos servidores da saúde para que a população e o governador do Estado saibam o que está acontecendo dentro do HPS. Na opinião dele, é preciso priorizar o repasse do mínimo constitucional para a saúde pública do Estado.

Ao final, o deputado João Leite (PSDB), que também solicitou a atividade, afirmou que o advogado-geral do Estado deve ser acionado. Para o parlamentar, é ele quem deve orientar o Poder Executivo sobre como fazer a melhor governança da rede Fhemig. “É uma irresponsabilidade o que está sendo feito com o hospital, que é um patrimônio dos mineiros, e tem vocação pela excelência em urgência e emergência”, salientou.

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