Comissão debateu a importância da castração pediátrica de animais domésticos
Segundo Yara Lacerda, os riscos de cirurgia nos filhotes são muito menores do que nos animais adultos

Castração de filhotes contribui para controle populacional

Redução de animais abandonados e da disseminação de doenças seriam outras vantagens, segundo médica veterinária.

21/09/2017 - 18:26

O maior controle populacional e, em consequência, a redução do número de cães e gatos abandonados e a diminuição da incidência e disseminação de doenças são as principais vantagens da castração pediátrica de animais domésticos. É o que afirma a médica veterinária Yara Sarmento Lacerda, diretora-presidente da ONG SOS Bichinho, de Pará de Minas (Região Central do Estado).

Convidada pela Comissão Extraordinária de Proteção dos Animais da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), ela participou de audiência pública nesta quinta-feira (21/9/17), quando discorreu sobre o tema.

Mas essas não seriam as únicas vantagens. A médica aponta, também, a redução em até 90% do câncer de mama nas fêmeas, bem como a redução do câncer de próstata nos machos. Além disso, observou, os filhotes reagem muito bem, tanto durante a operação como no pós-operatório.

Outra vantagem, segundo a veterinária, é que a castração dos filhotes contribui para um comportamento mais adequado dos animais, que se adaptam bem a vários ambientes e se mantêm mais tranquilos, diminuindo os problemas de agressividade e demarcação de território.

“Se não controlar desde cedo, vamos enxugar gelo a vida inteira. A castração, por si, já é um ato de amor”, entende a veterinária.

Mitos - Yara Lacerda rebate as argumentações dos que entendem que a castração de filhotes não é recomendável devido à fragilidade desses animais. Na verdade, segundo ela, os riscos de cirurgia nessa faixa etária seriam muito menores.

“O risco de hemorragia é praticamente zero porque os órgãos dos filhotes são muito pequenos, resultando em vantagens cirúrgicas muito grandes”, disse. O mesmo ocorre com a anestesia, segundo ela.

Ela nega, também, os argumentos dos que entendem que a castração precoce gera problemas de subdesenvolvimento e incontinência urinária. “Na verdade, nossa experiência demonstra exatamente o contrário”, afirmou.

Finalmente, Yara aponta ainda o baixo custo de castração dos filhotes como mais uma vantagem. “A cirurgia de um gatinho, pela ONG, não sai por R$ 15; a de um cachorrinho não sai por R$ 18”, contou.

ONG já realizou mais de 3.500 castrações

Desde que foi criada, em 2013, a SOS Bichinho realizou 3.559 castrações. Entre os animais castrados, cerca de 2.800 eram filhotes (70%). Desse total, apenas seis vieram a óbito. Yara lamenta, porém, que todo o trabalho seja feito na base do voluntariado, sem nenhum apoio do poder público. “Há um total descaso do poder público com a causa animal”, criticou.

Colaborador da ONG, o veterinário Idael Cristiano, que atua na área da saúde coletiva, incorpora a vivência com saúde pública ao trabalho como voluntário. Também defensor da castração de filhotes como medida de controle populacional e redução de danos aos animais e à população, ele entende que “quanto antes castrar, menor o risco de reprodução”.

“O controle da natalidade também tem a ver com a questão ambiental porque esses animais se reproduzem em velocidade muito superior à dos seres humanos”, assinalou.

Na sua opinião, “o ótimo é inimigo do bom”. Por isso, acha que o poder público deveria dar mais atenção ao problema dos animais abandonados e, nesse sentido, questiona os gestores que entendem que é necessário, antes, arrecadar recursos para a construção de grandes centros de controle de zoonoses. “Vamos tentar fazer o necessário, o possível, para, aos poucos, ir melhorando. A castração pediátrica é uma necessidade urgente”, defendeu.

Outras presenças - No início da reunião, participaram também da audiência os deputados Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) e Elismar Prado (PDT), que elogiaram o esforço da comissão e do deputado Noraldino Júnior (PSC), seu presidente, e autor do requerimento para realização da audiência.

Além deles, estiveram presentes também, entre outros, o prefeito de Andradas (Sul de Minas), Rodrigo Aparecido Lopes, e o pastor Isaqueu Mendes de Freitas, da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, que louvaram a iniciativa da comissão e defenderam a necessidade de controle populacional de cães e gatos.

Protetor dos animais, o prefeito de Andradas também lamentou “a omissão histórica do poder público em geral com a causa animal”, acrescentando que recursos destinados à causa estão previstos no orçamento do município.

Comissão aprova visita a canil e debate público

Durante a reunião, foram aprovados vários requerimentos de autoria do deputado Noraldino Júnior, entre eles um para a realização de visita ao canil municipal de Teófilo Otoni (Vale do Mucuri), alvo de denúncias sobre diversas irregularidades, como as de instalações e condições precárias e maus tratos a animais.

Outro requerimento propõe a realização de um debate público destinado a discutir políticas públicas para os animais.

“O conceito de Saúde Única – muito difundido em todo o mundo mas ainda pouco explorado no Brasil – representa a união indissociável entre saúde animal, humana e, principalmente, ambiental. Muitas doenças podem ser mais bem prevenidas e combatidas por meio da atuação integrada desses três eixos", justifica o parlamentar.

Consulte o resultado da reunião.