Existem modos diferentes de se falar o abecedário? O videodocumentário "Sertão como se fala" percorreu 9.500 quilômetros em sete estados do Nordeste brasileiro para investigar as raízes e a permanência do ABC do sertão, um modo foneticamente diferente de dizer as letras. O filme é o tema do Programa Geração, da TV Assembleia, que vai ao ar neste sábado (26/8/17), às 19 horas.

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Entrevistando sertanejos, entre eles professores e estudantes, o filme retrata a quase extinção do abecedário sertanejo do cotidiano do lugar, com letras como “mê” (no lugar de “eme”), “lê” (no lugar de “éle”) e “nê” (no lugar de “éne”). A peculiaridade foi descrita na canção "ABC do Sertão", composta por Luiz Gonzaga e regravada por músicos como Geraldo Azevedo e Zé Ramalho.

O bate papo sobre o filme foi feito entre jovens do Núcleo Vida, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), e o diretor do documentário, Leandro Lopes, que nasceu em Feira de Santana, na Bahia, e cresceu em Serrinha, a 60 km da cidade natal.

"Eu aprendi o abecedário sertanejo e convivo com ele até hoje, como uma memória afetiva e histórica. Quando vim morar em Belo Horizonte, fiquei abestalhado de ver outras letras como W, Y, que não tinha aprendido na escola. E foi um choque descobrir que a forma de falar algumas letras eram diferentes da forma como tinha aprendido", destaca o diretor.

Segundo ele, foi isso que o motivou a fazer essa investigação, por meio do documentário. "Quando os amigos abraçaram a causa, o projeto nasceu. Foram 34 dias de viagem em 2014 e muito aprendizado pelo caminho", conta.

Leandro, que é jornalista e mestre em estudos literários, também dirigiu o filme "Um humanista por acaso escritor", sobre José Saramago, e já trabalhou por quase dez anos na televisão, dirigindo os programas "Diverso", co-produção da Rede Minas e da TV Brasil, e "Fiz + Sotaques", do Grupo Abril.

Sertão como se fala

O filme é uma produção do Coletivo Adiante, que realiza projetos audiovisuais e culturais. Já teve pré-estreia em Belo Horizonte, em novembro de 2016. Atualmente, circula em festivais, já tendo sido selecionado para o Panorama, em Salvador, e a Mostra Verão Arte Contemporânea, na Capital de Minas Gerais.

Para gravar o documentário, a equipe de produção passou por cidades como Vitória da Conquista, Feira de Santana, Serrinha, Monte Santo, Euclides da Cunha, Canudos, Paulo Afonso e Juazeiro (Bahia); Canindé do São Francisco (Sergipe); Salgueiro e Petrolina (Pernambuco); Cajazeiras e Juazeiro do Norte (Ceará); Patos (Paraíba); e Picos (Piauí).

Para ser viabilizado, o projeto realizou uma campanha de financiamento colaborativo no site Catarse, que teve mais de 300 colaboradores. A equipe pretende voltar em cada cidade participante para mostrar o documentário. Um diário da viagem, feito com fotos e vídeos, pode ser acompanhado no blog: sertaocomosefala.wordpress.com.

Reprises - O Geração será reprisado neste domingo (27), às 12h30 e na segunda-feira (28), às 13 horas.