Audiência da Comissão Extraordinária de Proteção dos Animais foi realizada nesta quinta (29)
Carla Sássi salientou que a esporotricose é tratável

Veterinária alerta sobre incidência de esporotricose

Ativistas cobram investimentos e informação para prevenção de doença que atinge felinos e humanos.

29/06/2017 - 19:35

O envolvimento do poder público no controle da esporotricose, com destinação de recursos financeiros e a correta informação da população, é a única maneira de se evitar a proliferação da doença. O alerta foi feito pela veterinária Carla Sássi, que falou sobre o tema, nesta quinta-feira (29/6/17), na audiência da Comissão Extraordinária de Proteção dos Animais da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

A esporotricose é causada pelo fungo Sporothrix schenckii, que está presente no ambiente, em terras de jardins, por exemplo. Por isso, há maior incidência em jardineiros ou lavradores, que adoecem a partir de ferimentos com material contaminado.

Os gatos, que habitualmente afiam as garras e enterram as fezes, também podem acumular o fungo sob as unhas. E, no caso de cruzamentos ou briga por território, podem se contaminar.

Humanos – A transmissão da zoonose também pode se dar de gato para pessoa, quando, por exemplo, alguém tenta tratar um animal e é arranhado. Carla Sássi enfatizou que mesmo o gato saudável pode ter o fungo sob as unhas. E, quando os felinos apresentam lesões causadas pela esporotricose, elas comumente são confundidas com maus tratos, o que faz com que a pessoa não adote os cuidados necessários.

Na maioria dos casos, a doença atinge a pele, causando lesões, às vezes em sequência, como um colar de nódulos. O diagnóstico é difícil, diante do desconhecimento dos profissionais de saúde, e a esporotricose pode levar à incapacitação temporária para o trabalho.

Diante desse cenário, de acordo com a veterinária, somente a correta informação e o investimento em controle populacional podem surtir efeito.

Doença é endêmica no Rio de Janeiro

Carla Sássi chama a atenção para o desenvolvimento da esporotricose na capital fluminense e alerta que metrópoles como Belo Horizonte devem agir imediatamente para evitar situação semelhante. “O Rio de Janeiro tem o maior número de casos no mundo, mas não se preocupou quando a doença começou”, reforçou.

A cidade teve 12 casos entre 1987 e 1997, mas viu a doença se espalhar a partir de 1998, chegando a determinar sua notificação compulsória em 2013. Em 2015, o Rio de Janeiro registrou 3.253 felinos doentes, número que saltou para 13.536 no ano passado, alta de mais de 300%. Há, ainda, 580 casos humanos. “Isso gerou abandono de animais, o que piora o quadro”, observou a veterinária.

Minas – Em Minas, segundo ela, a única cidade com dados da doença é Conselheiro Lafaiete (Região Central do Estado), onde oito pessoas estão em tratamento. Carla coordena uma ação de prevenção à doença no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da prefeitura e contabiliza 23 felinos diagnosticados em 2016, contra 27 apenas nos cinco primeiros meses deste ano, com alto índice de óbitos.

A veterinária reforçou que a esporotricose é tratável, mas que muitos cogitam a eutanásia nos gatos de rua porque a adoção, após o tratamento, é complicada. “Temos que informar que há possibilidade de reincidência”, justificou. Ela recomenda o uso de luvas nos contatos com os felinos e de água sanitária para lavar os locais destinados aos animais, além de consulta frequente ao veterinário.

Outra medida, a ser adotada pelos governos, é a castração em massa, para controle populacional, e a notificação compulsória dos casos. O deputado Glaycon Franco (PV), que também é médico, completou que os serviços de zoonoses e de saúde têm que trabalhar juntos.

“A doença envolve questões importantes de saúde pública e tem diagnóstico difícil porque se assemelha a outras patologias. O CCZ de Lafaiete dá exemplo para Minas”, afirmou Glaycon Franco.

A culpa não é do gato

Participantes da audiência enfatizaram a necessidade de uma correta abordagem da esporotricose para se evitar o massacre de animais, como ocorreu recentemente com macacos, em função do aumento de casos de febre amarela.

“Não se pode alardear a doença e colocar a população contra os animais”, afirmou Adriana Araújo, do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais, lembrando também o episódio das capivaras e da febre maculosa.

Ela enfatizou que o homem degrada os habitats dos animais silvestres, que, cada vez mais, se aproximam dos centros urbanos. Por isso, na sua avaliação, cuidar desses animais significa cuidar dos humanos. “A prevenção e a informação precisam prevalecer”, afirmou. Ativistas de Lagoa Santa (RMBH) relataram um caso da doença em uma mulher na cidade. O gato foi sacrificado pela família.

O deputado Noraldino Júnior (PSC), presidente da comissão e autor do requerimento para a audiência, reiterou a necessidade de se acabar com “mitos” envolvendo a esporotricose. E defendeu uma política de controle dos animais como ocorre na Holanda, onde não há abandono e, logo, zoonoses não prosperam.

O parlamentar afirmou que, no Brasil, várias prefeituras utilizam o extermínio de animais para o controle de zoonoses, muitas vezes, sem os exames para diagnóstico. “Isso é crime previsto na legislação”, reforçou.

O deputado Duarte Bechir (PSD) reiterou que a comissão veio preencher uma lacuna na defesa dos animais na ALMG e que esse trabalho tem despertado grande respeito em todo o Estado.

Consulte o resultado da reunião.