O deputado Rogério Correia (centro) reforçou a necessidade de resistência contra o que classificou como “o novo golpe das Indiretas Já”
Juarez defendeu a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte

Participantes de audiência defendem eleições diretas

Reunião na ALMG faz balanço negativo de um ano sem Dilma e aponta nova ameaça à democracia em recente crise política.

22/05/2017 - 19:05 - Atualizado em 22/05/2017 - 19:15

A audiência da Comissão de Direitos Humanos era para fazer um balanço das consequências do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, mas as recentes denúncias contra o presidente Michel Temer e a perspectiva de seu afastamento do cargo e o repúdio à possibilidade de eleições indiretas foram o ponto alto da discussão nesta segunda-feira (22/5/17), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Coube ao deputado Rogério Correia (PT), autor do requerimento para a atividade, dar o tom das discussões. “A queda deste governo golpista agora é inevitável. Ele não deveria nem sequer ter se iniciado; agora temos provas irrefutáveis disso”, afirmou.

O parlamentar ironizou a atual situação política brasileira ao comparar o apartamento triplex pelo qual o ex-presidente Lula é investigado ao “triplex” formado pelo presidente Temer, pelo senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) e pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, todos envolvidos nas denúncias.

Rogério Correia fez ainda um histórico de sua atuação parlamentar com denúncias contra Aécio Neves, desde a época em que ele se elegeu governador, e reforçou a necessidade de resistência contra o que classificou como “o novo golpe das Indiretas Já”, em referência à previsão constitucional de eleição presidencial em caso de nova vacância do cargo.

“O que as elites querem são as reformas que tiram direitos do trabalhador, o que não será mais possível diante de um governo que não tinha sustentação jurídica e, agora, não terá sequer sustentação parlamentar. Para termos justiça social, somente por meio de um presidente democraticamente eleito”, defendeu.

O deputado Cristiano Silveira (PT), que coordenou o debate, reforçou que as crises política e econômica enfrentadas pelo governo atual reforçam o quão injusto foi o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff. “Afinal, o impeachment sem a presença de crime de responsabilidade feriu um dos direitos fundamentais do povo brasileiro, que é o direito à democracia”, avaliou.

Para a deputada Marília Campos (PT), o golpe continua, com a tentativa de se consolidar a agenda que, de acordo com ela, foi colocada para o presidente Temer aprovar. Diante disso, ela destacou a necessidade de se popularizar a luta contra o atual governo e as reformas que ele propôs.

Virada - "O momento é difícil, mas promissor", definiu Juarez Rocha Guimarães, professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Ele classificou a audiência na ALMG como um “ato de descomemoração do golpe” e, apesar de defender a mobilização para o início da derrota desse movimento, considerou ser importante refletir sobre o porquê da recente instabilidade do governo Temer e os interesses por trás de uma nova mudança.

O professor alertou para o envolvimento das grandes empresas de comunicação em um suposto projeto de perpetuação no poder das elites brasileiras. “Elas também são profundamente corruptas. Já estão preparando o Dória (João Dória, prefeito de São Paulo) como novo filho da Rede Globo”, alertou.

“Já estão tramando uma grande manobra em nome da união nacional, inclusive procurando o PT para isso, algo que devemos resistir em nome justamente do direito do povo brasileiro à democracia. Ainda não reconhecemos a legitimidade do impeachment da ex-presidente Dilma, que precisa ser anulado, assim como de todos os atos deste governo ilegítimo”, completou.

O professor ainda defendeu a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte para reconstruir a democracia brasileira.

Democracia precisa se fortalecer

A presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-MG), Beatriz Cerqueira, defendeu a necessidade de diálogo entre os vários setores da sociedade para que a democracia brasileira, ao final de tantas crises, saia fortalecida.

O momento propício para a queda de um governo supostamente ilegítimo também foi destacado pelo presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Estadual (Sindifisco), Lindolfo Fernandes de Castro, que comparou a atual situação política do presidente Temer à capacidade de regeneração de uma lagartixa. “Quando cortamos o rabo de uma lagartixa, ele cresce de novo. Se deixarmos muito tempo mais lá, ele também vai, de algum jeito, se recuperar”, criticou.

Greve geral - O dirigente estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Sílvio Netto, foi ainda mais enfático: “Nossa primeira luta agora é derrubar um governo que já ruiu, mas não podemos cair no canto da sereia dos constitucionalistas e abrir mão das diretas já”.

Por fim, o secretário de Estado de Desenvolvimento Agrário, Professor Neivaldo, diz que as recentes denúncias contra Aécio Neves, candidato derrotado à Presidência da República em 2014, deixam claro o papel desempenhado pelo senador afastado na derrubada de uma presidente legitimamente eleita.

"Eles sempre quiseram acabar com direitos da classe trabalhadora, muitos ainda nem conquistados plenamente, como a reforma agrária. Por isso, fora Temer e diretas já!", conclamou Professor Neivaldo.

Consulte o resultado da reunião.