O efeito das reformas trabalhista e da Previdência, propostas pelo governo federal, na vida das mulheres foi outro tema abordado no encerramento do ciclo de debates

Igualdade de gênero ainda é desafio nas instâncias de poder

Palestrantes apontam a influência do machismo nas relações de trabalho, durante encerramento de ciclo de debates.

30/03/2017 - 23:03 - Atualizado em 31/03/2017 - 11:21

Apesar das conquistas do movimento feminista nos últimos séculos, o machismo ainda se faz muito presente no mercado de trabalho, em especial nos espaços de poder e representação. Os desafios enfrentados cotidianamente pelas mulheres no ambiente corporativo e nas instituições públicas foram abordados, na tarde desta quinta-feira (30/3/17), no Ciclo de Debates Pela Vida das Mulheres: Educação, Enfrentamento do Machismo e Garantia de Direitos, promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Para a ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos no governo de Dilma Rousseff, Nilma Gomes, uma das palestrantes do evento, essa situação decorre da cultura patriarcal do País, que teria resultado em um machismo institucionalizado.

“A presença do homem é tida como natural nas instâncias de decisão. Por outro lado, os postos ocupados por mulheres são vistos como de segundo escalão”, afirmou a ex-ministra.

Nilma exemplificou seu ponto de vista pela forma como comumente as mulheres são rebaixadas moral e psicologicamente, de acordo com seu perfil. As mais meigas seriam tachadas de muito sensíveis; as mais enérgicas, de histéricas; as extrovertidas, de assanhadas; e aquelas solteiras, divorciadas ou sem filhos, de recalcadas.

Outro reflexo do machismo, de acordo com a ex-ministra, pode ser facilmente verificado no desrespeito de subordinados em relação às suas chefes e até mesmo na arrogância de profissionais posicionados na mesma hierarquia que suas colegas.

“Temos, mais do que conquistar os espaços de poder, ocupá-los”, recomendou, ao destacar a necessidade de enfrentamento do problema e o clima hostil que terá que ser superado para que o objetivo seja alcançado.

Encerrando sua participação, ela recomendou a aprovação de penas mais duras para funcionários que incorram em práticas machistas, como a diminuição do salário ou até mesmo a demissão.

Coletivo encampa luta pelo reconhecimento das mulheres

A representante do Coletivo de Mulheres da ALMG, Eneida da Costa, trouxe para a discussão dados que comprovam o alijamento desse estrato da população dos cargos de comando.

No Parlamento mineiro, apesar de representarem 48% dos servidores efetivos, as mulheres são responsáveis por apenas 31% das gerências, sete gerências-gerais e uma diretoria (referindo-se à secretária-geral adjunta da Mesa, cargo equivalente a uma diretoria). Em relação aos cargos de recrutamento amplo, são somente oito as chefes de gabinete.

Segundo o coletivo, a situação na Assembleia só reflete uma tendência nacional. Não obstante as trabalhadoras representarem 44% da mão de obra ativa, no setor privado elas estão em pouco mais de um terço (37%) de gerências e cargos de direção, e não passam de 10% nos comitês executivos das grandes empresas.

Como salientou Eneida, o segmento feminino ainda convive com salários inferiores, piores oportunidades e a jornada dupla de trabalho, com o acúmulo de afazeres domésticos.

Para sindicato, reformas prejudicarão as trabalhadoras

O efeito das reformas trabalhista e da Previdência, propostas pelo governo federal, na vida das mulheres foi o tema da apresentação da presidente do Sindicato da Justiça de Primeira Instância de Minas Gerais (Serjusmig), Sandra Silvestrini. Para a sindicalista, essas reformas vão não só prejudicar as profissionais empregadas, como inviabilizar a aposentadoria de grande parte delas.

Sobre a reforma trabalhista, Sandra criticou a possibilidade do negociado prevalecer sobre o legislado, o que abriria brecha para o aumento da carga horária, o parcelamento das férias e a diminuição da pausa para descanso, entre outras mudanças. “Serão criadas mais dificuldades para as mulheres, que já são prejudicadas”, salientou.

Já em relação à reforma da Previdência, ela classificou como absurda a proposta de paridade dos critérios de aposentadoria para homens e mulheres. “Querem tirar a nossa esperança em relação ao futuro”, complementou a teóloga Ana Ester Freire, outra palestrante.

Discriminação é mais um obstáculo a ser superado

Indo além das relações trabalhistas, Sayonara Nogueira e Rosana Barros, representando a ONG Transgender Europe e o Núcleo de Defesa da Mulher da Defensoria Pública do Mato Grosso, respectivamente, abordaram a discriminação de transexuais e o machismo capilarizado em todas as esferas da sociedade.

Sayonara pediu maior atenção ao segmento que representa, tendo em vista a exclusão social que afeta os transexuais, que muitas vezes não possuem nem mesmo documentos de registro e são enterradas como indigentes. Ela também se mostrou preocupada com o alto e crescente índice de assassinatos dessa população, não raro como resultado de crimes de ódio.

Por sua vez, a defensora Rosana Barros lembrou as violências sofridas pelas mulheres no dia a dia, como gracejos quando passam na rua e piadas sobre o desleixo das menos vaidosas, até casos mais graves, como o estupro.

Como um passo essencial na luta pela igualdade de gênero, ela, depois acompanhada por todas as demais palestrantes, ressaltou a importância da sororidade, termo usado para expressar a empatia entre mulheres. O mote dos debates foi "mexeu com uma mexeu com todas".