Comissão de Cultura realizou audiência na qual também foi apresentada a terceira edição da Carta Pastoral do Episcopado Mineiro
Carta Pastoral do Episcopado Mineiro foi lançada originalmente em 1926

Dia do Barroco motiva pacto pela preservação de obras sacras

Na audiência pública em comemoração à data, a preocupação pela conservação do patrimônio cultural de Minas foi a tônica.

18/11/2016 - 19:35

Um pacto entre o Estado, a Igreja e a sociedade civil para assegurar a preservação do patrimônio cultural mineiro – considerado o mais importante do País. A sugestão surgiu na audiência pública desta terça-feira (18/11/16) da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em homenagem ao Dia do Barroco, comemorado nesta data. Durante a reunião, também foi apresentada a terceira edição da Carta Pastoral do Episcopado Mineiro, lançada originalmente em 1926, lembrando os 90 anos do histórico documento.

“Conclamo a todos para nos ajudar a cuidar e zelar do nosso patrimônio, que não pertence apenas ao presente, mas também fará parte do patrimônio das gerações vindouras”, afirmou o presidente da comissão, deputado Bosco (PTdoB). Ele lembrou que o Dia do Barroco é comemorado na data de morte do mais importante expoente dessa manifestação cultural, Antônio Franciso Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814).

“A preservação do patrimônio deve ser gerida pelo Estado, mas é importante formarmos uma rede de proteção aos nossos bens”, sugeriu o coordenador da Promotoria de Patrimônio Cultural do Ministério Público de Minas Gerais, Marcos Paulo de Souza Miranda. Ele lamentou que 60% de todas as obras sacras do Estado estão, atualmente, na mão de colecionadores particulares e até em outros países. Por isso, sugeriu o pacto para tentar recuperar esse patrimônio.

“Há necessidade de um envolvimento coletivo, para que a defesa seja objetiva e não apenas um discurso”, acentuou o diretor da Fundação Cultural da Diocese de Mariana, Roque Camêllo.

O secretário de Estado de Cultura, Angelo Oswaldo, afirmou que o Executivo tem aumentado os esforços para a preservação cultural em Minas. Ele reafirmou o trabalho de recuperação de três importantes igrejas: Nossa Senhora do Rosário no distrito de Brejo do Amparo, em Januária; a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Matias Cardoso, ambas no Norte de Minas; e a Matriz do Santíssimo Sacramento, em Jequitibá (Região Central do Estado).

Carta pastoral simboliza primeiro apelo à preservação

A Carta Pastoral do Episcopado Mineiro, lançada em maio de 1926, em Juiz de Fora (Zona da Mata), simboliza, segundo o promotor Marcos Paulo Miranda, “o primeiro pedido de socorro” pela preservação do patrimônio das igrejas, que tiveram obras destruídas e saqueadas ao longo da história. “Foi a primeira iniciativa que não partiu do poder público”, disse ele, ao lembrar que apenas em 1937 foi publicado o primeiro decreto regulamentando o assunto.

Eugênio Ferraz, diretor-geral da Imprensa Oficial, responsável pelas edições do documento, explicou que a carta foi um grande manifesto em defesa do patrimônio artístico, pois não se restringiu apenas às obras sacras, incluindo também as consideradas profanas. A carta foi uma conclamação dirigida a religiosos e fieis.

De acordo com Angelo Oswaldo, a carta pastoral foi sugerida pelo então arcebispo de Mariana, dom Helvécio Gomes de Oliveira, que empreendeu várias iniciativas ligadas à preservação do patrimônio histórico. Ele rememorou que, na ocasião, o presidente (cargo equivalente a governador) de Minas Gerais, Antônio Carlos Andrada, também estava empenhado na busca das raízes e identidades do povo mineiro. "A carta representa o zelo da Igreja em salvar o patrimônio histórico, artístico e cultural", elogiou o deputado Bosco.

Patrimônio mineiro é exaltado na homenagem

Todos os participantes da audiência pública exaltaram a importância do Barroco mineiro para o Brasil e o mundo. O secretário ressaltou que a manifestação cultural é a responsável pelas três cidades do Estado consagradas como patrimônios mundias: Ouro Preto, Congonhas e Diamantina – todas na Região Central do Estado.

Angelo Oswaldo citou o historiador Sylvio de Vasconcellos, um estudioso da obra de Aleijadinho, que dizia que o solo de Minas estava impermeabilizado pelo barroco e todas as obras brotavam de sua origem. O secretário exemplificou com alguns artistas atuais, cujas obras ainda trazem influência do estilo artístico.

Para Marcos Paulo, a comemoração do Dia do Barroco é importante para refletir sobre a tendência artística, que começou pelas artes plásticas, mas também se manifesta na literatura, no teatro e na música. “O barroco é um traço identificador do povo mineiro”, afirmou.

“Minas Gerais é o pedestal dessa cultura, uma referência para o País”, disse Roque Camêllo. Ele advertiu, no entanto, que o patrimônio continua a correr risco de se perder, o que reforça a necessidade de políticas públicas de preservação.

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