Audiência pública foi realizada pela Comissão de Direitos Humanos nesta quarta-feira (16)
Sandro Afonso disse que há 11 empresas terceirizadas que atuam no Mineirão
Segundo delegada, exames periciais ainda precisam ser concluídos

Testemunhas afirmam que torcedor foi assassinado no Mineirão

Acusação foi feita em audiência nesta quarta (16), mas Polícia Civil pondera que as investigações ainda estão em curso.

16/11/2016 - 12:07 - Atualizado em 16/11/2016 - 12:19

O jogo entre Cruzeiro e Grêmio realizado no dia 26 de outubro deste ano, no Mineirão, ficou marcado pela morte do torcedor Eros Dátilo Belisário. O fato está sendo investigado pela Polícia Civil, mas testemunhas garantem que seguranças do estádio teriam sido os responsáveis, em um caso de agressão nas dependências do local. O tema foi debatido pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quarta-feira (16/11/16), a pedido do seu presidente, deputado Cristiano Silveira (PT).

O membro da torcida organizada do Cruzeiro, Pavilhão Independente, Vítor Gomes Canto, e testemunha do suposto crime, destacou que Eros Dátilo, que também fazia parte da torcida, era uma pessoa querida e sua morte dentro do estádio surpreendeu a todos. “Ele foi assassinado por um segurança e temos testemunhas disso. Ele teve lesões múltiplas, e não parada cardíaca, como se disse na imprensa”, acusou.

De acordo com ele, os torcedores organizados passam a imagem de marginais, mas são trabalhadores e estão inseridos na sociedade. “Viemos buscar uma resposta para o fato de um torcedor morrer no Mineirão”, completou. Vítor criticou o que chamou de elitização do estádio após a Copa do Mundo e denunciou que o caso não foi isolado, uma vez que outros tipos de violência da segurança da Minas Arena teriam acontecido com os torcedores.

A também testemunha Alexsandra Luciana de Abreu garantiu que Eros Dátilo foi agredido por meio de enforcamento e socos na cabeça. Para ela, se houve parada cardíaca, teria sido em decorrência das agressões. “Ele tentou mudar de setor dentro do Mineirão, mas foi impedido pelo segurança. Quando tentou passar sem autorização, foi atacado. Tenho certeza de que ele foi assassinado e pedimos justiça para este caso”, alegou.

A viúva Pâmela Gabrielle Lopes reforçou que, se houve infarto, teria sido causado no momento das agressões. Ela relatou que a vítima era uma pessoa saudável, não usava drogas e nem tinha qualquer problema cardíaco.

Minas Arena garante que todos os procedimentos legais foram feitos

O gerente de Operações da Minas Arena, coronel PM Sandro Afonso Sales, destacou que existem 11 empresas terceirizadas atuando no Mineirão, com contratos avaliados anualmente. Ele explicou que são feitas ações específicas jogo a jogo para que se detectem os riscos e sejam elaboradas as estratégias de atuação.

Com relação ao episódio envolvendo o torcedor Eros Dátilo, ele disse que as imagens foram analisadas e, no momento do ocorrido, o profissional de segurança envolvido teria sido apresentado à polícia e o local teria sido isolado para ficar à disposição da perícia. “Todos os procedimentos que cabiam à Minas Arena foram feitos. A empresa tem interesse de que tudo seja explicado”, ressaltou.

O diretor operacional da Prossegur, que faz a segurança do Mineirão, Manuel Martines, disse que empresa lamenta o fato e que tem interesse de que o esclarecimento seja feito o quanto antes. Para tanto, estaria auxiliando a polícia nas investigações. “Nunca fomos notificados nem temos qualquer reclamação quanto à atuação da empresa. Isso mostra o trabalho feito no Mineirão”, defendeu-se.

Da mesma forma, o diretor jurídico da Prossegur, Alexandre Ribeiro, reafirmou que a empresa está colaborando nas investigações e as providências necessárias serão tomadas assim que o inquérito for concluído.

Cruzeiro – O advogado do Cruzeiro, Edson Travassos, também lamentou o ocorrido e defendeu que a segurança dos torcedores dentro do estádio seja total. Segundo ele, a prestação desse serviço no Mineirão não é de responsabilidade do clube, e sim da Minas Arena. “Tudo leva a crer que foi uma fatalidade, mas prefiro aguardar as conclusões da investigação das autoridades competentes”, ponderou.

Laudo do IML não definiu causa da morte, segundo Polícia Civil

A chefe do Departamento de Homicídios da Polícia Civil, delegada Cristina Coelli Cicarelli Masson, destacou que é preciso que todos os exames periciais sejam concluídos para que o inquérito avance. De acordo com ela, o laudo da necropsia do Instituto Médico Legal (IML) apontou lesões que não foram suficientes para justificar a morte do torcedor. Por isso, outros exames foram solicitados. Em sua fala, lembrou que o profissional de segurança envolvido foi imediatamente entregue ao delegado presente no estádio.

“A voz de prisão não foi ratificada por não haver provas materiais naquele momento. As investigações prosseguem e aguardam exames periciais de áudio, vídeo, biologia e bacteriologia e do local da ocorrência”, explicou.

A delegada disse, ainda, que foram ouvidas nove testemunhas, entre seguranças e torcedores e, pelas imagens analisadas, Eros Dátilo Belisário tentou mudar para um setor do estádio para o qual não tinha ingresso. O segurança, então, teria negado o acesso e, mesmo assim, o torcedor teria avançado. A partir disso, teria sido contido pelo profissional e ocorrido o conflito entre os dois.

“Depois desse momento, eles entram para uma sala próxima ao local da briga e, cerca de 14 segundos depois, ele já é retirado do local desfalecido. Imediatamente, recebeu os primeiros socorros, teve seis ocorrências de parada cardíaca, foi entubado ainda no estádio e encaminhado para o Hospital Odilon Behrens, onde foi constatado o óbito”, concluiu Cristina Coelli.

O delegado Fernando Dias da Silva reforçou que a Polícia Civil está trabalhando em diversas linhas de apuração de responsabilidades e que a investigação está sendo feita respeitando todos os princípios de ordem legal e constitucional.

Parlamentar defende cultura da paz no futebol

O deputado Cristiano Silveira lamentou que não é raro perceber o alto índice de violência nos estádios, que é provocado tanto por torcedores organizados quanto por policiais e seguranças. O parlamentar defendeu que esse espaço de convivência seja sempre seguro e apto a receber famílias para o lazer. Por isso, na sua avaliação, é preciso evitar a banalização desse tipo de violência e deve-se promover uma cultura de paz no futebol.

Já o deputado Carlos Pimenta (PDT) se disse chocado com o episódio. Diante disso, pediu que a Polícia Civil apure a morte do torcedor de forma rápida e que os responsáveis sejam severamente punidos. Ele criticou, ainda, as mudanças feitas no Mineirão após a reforma para a Copa do Mundo, que teria dificultado o acesso das pessoas ao estádio. “A segurança terceirizada deve ser mais bem capacitada para orientar mais e agredir menos. Tudo indica que houve exagero e um assassinato”, finalizou.

O deputado Rogério Correia (PT) se solidarizou com a família e os amigos de Eros Dátilo e defendeu que seja instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para tratar da parceria público-privada (PPP) do Mineirão. Ele solicitou, ainda, a realização de uma nova audiência pública conjunta com a Comissão de Esporte, Lazer e Juventude para tratar da morte do torcedor.

Ao final, foram aprovados requerimentos de autoria do presidente da comissão, deputado Cristiano Silveira, para que sejam encaminhadas as notas taquigráficas da reunião para todas as empresas e órgãos presentes na audiência, assim como ao Ministério Público e à Secretaria de Estado de Esportes, e, ainda, à Polícia Civil, para que a comissão seja informada sobre a conclusão do inquérito.

Mais requerimentos - Outros requerimentos aprovados na audiência tratam de temas diversos: realização de audiências públicas para debater a ocupação Izidoro, a pedido do deputado Rogério Correia e da deputada Marília Campos (PT); e para tratar da situação dos estudantes que fazem ocupação de escolas em Belo Horizonte, também a pedido do deputado Cristiano Silveira.

Consulte o resultado da reunião.