Mariana depois da tragédia: atingidos ainda cobram reparação
Comissão exibe documentário sobre rompimento de barragem e autoridades dizem que ainda falta muito para amenizar danos.
09/11/2016 - 14:44 - Atualizado em 09/11/2016 - 15:23“Aos nossos mortos, nem um minuto de silêncio, mas toda uma vida de luta”. Assim a presidente da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT-MG), Beatriz Cerqueira, homenageou as pessoas que pereceram na tragédia de Mariana (Região Central do Estado), durante reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada nesta quarta-feira (9/11/16).
O rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, que devastou a região de Mariana há um ano, tem sido tratado como crime da Samarco por investigadores da Polícia Civil, promotores do Ministério Público e deputados como Rogério Correia (PT), autor do requerimento que deu origem à audiência pública em que foi exibido o documentário "Memórias rompidas: um ano depois da lama", produzido pela TV Assembleia.
Muitos representantes de movimentos como os Atingidos por Barragens e os Trabalhadores Sem Terra estiveram presentes para assistir ao documentário e expressar suas angústias com os desdobramentos da tragédia ao longo de um ano. “Uma das coisas que mais nos incomoda é que o criminoso tem a competência de cuidar das vítimas”, disse o membro da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens, Joceli Andrioli, em referência ao domínio da Samarco sobre as negociações de reparação de danos.
Convidados cobram responsabilização da Samarco
Beatriz Cerqueira, da CUT-MG, lembrou que, nas primeiras manifestações da Samarco diante do rompimento da barragem, seus representantes disseram que havia acontecido um abalo sísmico e depois que duas barragens haviam se rompido. “Eles não tinham nenhum controle sobre as estruturas”, avaliou.
Em seguida, criticou também o controle da mineradora sobre todos os processos de reparação e destacou o caso de uma senhora de Barra Longa (Zona da Mata) que precisou provar para a empresa que não tinha mais condições físicas de torcer roupas para ganhar uma máquina de lavar, já que a dela tinha sido levada pela lama. Também foi criticada a postura da mineradora de acusar aqueles que lutam pela punição dos responsáveis pela tragédia de não desejarem o retorno dos atividades da empresa e serem, então, culpados pelo desemprego.
“A Samarco matou até a esperança das pessoas”, disse Terezinha Sabino de Souza, integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.
Deputado lembra problemas ainda não resolvidos
“Os problemas só se acumularam no último ano”, avaliou o deputado Rogério Correia. O parlamentar citou vários problemas que indicam que nada foi resolvido de fato desde a devastação provocada pela lama de rejeitos de minério. Ele ressaltou que os moradores de Bento Rodrigues ainda seguem morando de aluguel, as casas de Barra Longa ainda não foram reconstruídas, os pescadores continuam sem poder pescar e a água do Rio Doce ainda não está limpa.
Ele ressaltou o trabalho da Comissão Extraordinária das Barragens, formada logo após a tragédia, que produziu um extenso relatório sobre o acontecimento e apresentou dois projetos de lei para evitar problemas futuros: os PLs 3.677/16 e 3.676/16, que alteram os processos de licenciamento das barragens e garantem mais recursos para os órgãos de fiscalização ambiental. Além disso, está em tramitação o PL 3.312/16, de autoria do governador, que pretende instituir a Política Estadual dos Atingidos por Barragens.
Exceção - Já o deputado Carlos Pimenta (PDT) disse que é preciso melhorar a fiscalização e lembrou que, das 750 barragens de rejeitos em Minas Gerais, apenas 250 são fiscalizadas. O parlamentar, porém, ressalvou que as barragens são importantes e o que aconteceu em Mariana foi uma exceção.
“Temos algumas barragens que já tiveram suas obras iniciadas e que precisam ser terminadas para levar conforto à população”, afirmou, citando a barragem de Jequitaí, que está com as obras paralisadas próximas de Montes Claros (Norte de Minas). “Ela é necessária para matar a sede de pessoas que não têm nem água para beber”, disse.