A audiência marcou as comemorações da semana e do Dia do Nutricionista, celebrado em 31 de agosto
Elizabeth informou que há defasagem de nutricionistas nos hospitais mineiros, nas escolas e outros setores públicos
Élido Bonomo destacou os marcos legais aprovados para a segurança alimentar e nutricional

Consumo de produtos processados aumenta risco de doenças

Preocupação foi detectada em reunião na ALMG, na qual especialistas defenderam educação nutricional como antídoto.

02/09/2016 - 20:37

A preocupação com o aumento do consumo de alimentos com excesso de sódio, açúcar e gordura e de produtos industrializados e processados, e a consequente necessidade de ampliação da educação nutricional da população. Essas questões permearam as falas da maior parte dos participantes da audiência pública que a Comissão de Participação Popular realizou nesta sexta-feira (2/9/16), no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Requerida pela presidente da comissão, deputada Marília Campos (PT), a reunião atendeu à solicitação do Conselho Regional de Nutricionistas (CRN) da 9ª Região – Minas Gerais. Marcando as comemorações da semana e do Dia do Nutricionista (31 de agosto), a audiência teve como tema central “Saúde nutricional da população: da prevenção ao tratamento”.

A presidente do CRN-MG, Elizabeth Chiari Rios Neto, afirmou que o cenário atual brasileiro preocupa os nutricionistas. De acordo com pesquisa de orçamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), citada por Elizabeth, o problema com excesso de peso da população nacional cresceu em mais de 20% nos últimos anos, trazendo como consequências o aumento de doenças crônicas como diabetes, hipertensão, câncer, cardiopatia e outras.

“Os números são um alerta ao conselho, pois nossos profissionais não estão bem inseridos nos órgãos públicos”, disse Elizabeth, acrescentando que há defasagem de profissionais nos hospitais mineiros, nas escolas e outros setores públicos.

Ela citou que há leis estaduais tratando do assunto, como a 15.072, de 2004, sobre a promoção da educação alimentar e nutricional nas escolas públicas e privadas, e a 18.372, de 2009, que altera a primeira. “As leis existem, mas não são devidamente seguidas, especialmente em escolas particulares. Infelizmente, pois a formação de bons hábitos alimentares é formada em casa e também na escola”, criticou.

Por fim, a dirigente lembrou que 70% da população do País atualmente faz suas refeições fora de casa. “Isso nos faz pensar sobre as escolhas alimentares dessa parcela, uma vez que a maioria dos restaurantes não conta com nutricionistas”, constatou.

Educação básica - A importância da atuação do nutricionista na educação básica foi defendida pelo bioquímico e nutricionista Alexandre de Souza Aguiar. “As informações chegam de forma equivocada à população, principalmente através dos meios de comunicação. O nutricionista é o profissional que pode esclarecer isso”, defendeu. Para ele, é preciso que as escolas tenham nutricionistas, para orientar os cardápios e prestar as informações adequadas sobre alimentos, noções de higiene e outros aspectos.

Quanto à atuação do nutricionista na área de saúde, Alexandre constata que o poder público só inclui esse profissional no tratamento de média complexidade, quando a doença já está um pouco avançada. “Porque não propiciam o atendimento do nutricionista logo na baixa complexidade?”, questionou ele, reivindicando maior participação desse profissional nos diversos estabelecimentos de saúde.

Restrição à propaganda para crianças é defendida

Já a jornalista Desirée Ruas, representante da Rede Brasileira Infância e Consumo (Rebrinc), revelou sua preocupação com o bombardeio de apelos de consumo dirigido à população, especialmente às crianças. “Há um grande abuso nisso e várias entidades se mobilizam contra o consumismo infantil”, afirmou ela, lamentando que mais de 30% da população infantil brasileira tem sobrepeso ou obesidade.

“Temos que ficar atentos, pois estão usando cores, efeitos visuais, artistas para vender a crianças alimentos não saudáveis”, alertou Desirée, acrescentando que o Código de Defesa do Consumidor considera abusiva a propaganda que se aproveita da falta de discernimento da criança.

O presidente do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), Élido Bonomo, lembrou que só depois de quase dez anos que a categoria reivindicou a contratação de um nutricionista para cada Superintendência Regional de Ensino (SRE). A medida está sendo implantada.

Ele destacou os marcos legais aprovados para a segurança alimentar e nutricional, como a lei que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar, outra que traz o Plano Nacional de Produção Agroecológica e ainda uma com o programa nacional de redução de agrotóxicos.

Apesar disso, ele considera que essas normas não estão sendo implementadas totalmente. E isso só acontecerá, na sua opinião, com a pressão dos profissionais da área e de toda a sociedade sobre os governos.

Bonomo defendeu ainda bandeiras de luta contra: a pulverização de agrotóxicos por via aérea; o uso de agrotóxicos já proibidos em outros países; e o fim de facilidades fiscais para esses produtos.

Superintendências - Comentando a fala do presidente do CFN, Beatriz Leandro, da Câmara Governamental Interestadual de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisam), informou que o Governo de Minas está contratando os nutricionistas para atenderem as 53 SREs do Estado. Em sua visão, esse e outros avanços têm acontecido na segurança alimentar, que eram reivindicações antigas dos envolvidos na área.

Outra medida importante, segundo Beatriz, foi que o Governo Estadual passou a investir o mesmo valor que o Governo Federal aplica no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ampliando os recursos de R$ 150 millhões para R$ 300 milhões.

Agrotóxicos - Na opinião da deputada Marília Campos, é importante alertar para a contaminação com agrotóxicos. “Esse é um mercado poderoso, que movimenta R$ 42 bilhões no mundo e o Brasil é responsável por pelo menos 20% desse valor”, divulgou.

O problema é agravado, na opinião de Marília, pelas artimanhas utilizadas pelas multinacionais que fabricam esses produtos e que agora passam a utilizar outros nomes, como fitossanitários (em vez de agrotóxicos), com o objetivo de ludibriar a população.

Mapa da Fome - Parabenizando os nutricionistas pela sua data, o deputado André Quintão (PT) registrou que, com os governos de Lula e Dilma Roussef o Brasil conseguiu sair do Mapa da Fome, elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU). E que a preocupação atual é com a qualidade dos alimentos ingeridos: “A discussão hoje é mais sobre a obesidade e a alimentação inadequada, o que provoca várias doenças”, constatou.

Ele destacou a importância de programas governamentais que induzam o consumo de alimentos saudáveis, como o Programa de Aquisição de Alimentos, que compra diretamente da agricultura familiar para as escolas públicas. Mas reivindicou a ampliação dessas políticas para que outros órgãos do estado, como presídios e hospitais, adquiram alimentos saudáveis dos pequenos agricultores.