Obra e vida de Murilo Rubião são celebradas
Literatura, política e serviço público foram discutidos em homenagem aos 100 anos de nascimento do escritor mineiro.
01/06/2016 - 22:07 - Atualizado em 02/06/2016 - 14:32Um dos maiores representantes do realismo fantástico na literatura do Brasil e da América Latina. Assim, o doutor em Literatura pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Roniere Silva Menezes, definiu Murilo Rubião, durante audiência pública que discutiu a literatura, a política e o serviço público, em homenagem aos 100 anos de nascimento do escritor mineiro. O deputado Durval Ângelo (PT) foi o autor do requerimento para a reunião da Comissão de Cultura da Assembleia Legisltiva de Minas Gerais (ALMG).
O doutor em Literatura fez um histórico sobre a vida de Murilo Rubião, que nasceu em 1º de junho de 1916, em Silvestre Ferraz, atual Carmo de Minas (Sul de Minas). Ele falou sobre o lançamento do primeiro livro de contos do escritor, "O ex-mágico", em 1947; e também da obra "O pirotécnico Zacarias", lançado em 1974. Também destacou a vivência de Rubião no jornalismo brasileiro e os diversos cargos que teve na cultura mineira. "Ele acreditava em jovens talentos e na tradição cultural do Estado", afirmou.
De acordo com Roniere Silva, Murilo Rubião tinha "obsessão" com a reescrita de seus textos. "É a sua forte marca. Murilo era um homem que estava sempre a reescrever a própria existência", salientou. Roniere contou, ainda, que a morte de Rubião, aos 75 anos, em 1991, ocorreu justamente quatro dias antes da abertura de uma exposição que estava sendo preparada para homenageá-lo no Palácio das Artes. "Sua visão de arte era plena e múltipla", concluiu.
O diretor do Suplemento Literário de Minas Gerais (SLMG), Jaime Prado Gouveia, destacou a história e a importância do SLMG, criado por Murilo Rubião, em 1966, como um espaço que abrigava, além de literatura, cinema, artes plásticas, teatro e música. O periódico sempre trouxe reportagens, entrevistas, ensaios, críticas, poesia e depoimentos. "O suplemento, que existe há 50 anos, marcou grandes nomes da literatura mineira e sempre esteve a serviço da arte", ressaltou. O jornal é, até hoje, um dos mais respeitados periódicos do gênero no Brasil.
Acervo de Escritores Mineiros tem espaço dedicado a Murilo Rubião
O ex-diretor do Acervo de Estudos Literários e Culturais e do Acervo de Escritores Mineiros da UFMG, Reinaldo Martiniano Marques, falou sobre o espaço dedicado a Murilo Rubião no Acervo de Escritores Mineiros da UFMG. "No local, construímos uma simulação do ambiente de trabalho do escritor. Além disso, há arquivos e documentações, originais de suas obras, fotografias, cartas, recortes de jornais, exemplares do Suplemento Literário da coleção de Murilo e muitos outros materiais, como sua roupa de batizado", ressaltou.
Segundo Reinaldo Marques, esse espaço de Murilo no acervo da UFMG é também uma criação do próprio escritor. "É um local que ele sonhou em vida, na medida em que nossos escritores mineiros, incluindo Murilo, são atacados por uma compulsão arquivística, uma obsessão pela memória", explicou. E contou que o escritor era "muito preocupado" com a conservação de seus livros. "Ele os encadernava, ou seja, sempre pensou na importância da memória cultural do Estado, pois sabia que um povo desmemoriado era um povo perdido", acrescentou.
Estado e serviço público - O escritor e servidor aposentado da ALMG, Francisco de Moraes Mendes, iniciou sua fala criticando o governo interino de Michel Temer, que teria como proposta a redução da atuação social do Estado Brasileiro e a privatização dos seus serviços. "É um momento muito oportuno falar de Murilo Rubião", destacou, ao dar exemplos de contos que mostram a necessidade da presença de um Estado Democrático forte, que estaria sendo 'ferido' no atual momento da vida política brasileira, com o afastamento da presidenta eleita Dilma Rousseff.
O servidor falou, ainda, sobre a representação do Estado e do serviço público na literatura brasileira e na mundial. "Em um conto de Murilo Rubião, por exemplo, vemos o tédio de um servidor público em sua atividade. Mas essa imagem do homem entendiado é também vista na iniciativa privada e é relatada em diversos textos literários", pontuou. Em sua opinião, a literatura tem algo a dizer sobre o mundo, mesmo deformando ou exagerando circunstâncias. "Ela ajuda a enxergá-lo", acrescentou.
Mineiro distinto - Para o deputado Bosco (PTdoB), presidente da Comissão de Cultura, é preciso fazer perpetuar a memória de tantos mineiros distintos, como foi Murilo Rubião. "O escritor precisa ser lembrado por todos os segmentos da cultura e da educação de Minas Gerais", destacou.
Já o deputado Durval Ângelo definiu Murilo Rubião como um "grande escritor". Disse que, nos dias atuais, é importante lembrar o que o escritor representou para o País. "É preciso entender o papel de um escritor engajado e comprometido com o seu tempo, como foi o caso de Murilo. Hoje, discutimos aqui o direito à memória, um direito fundamental de nosso povo", ressaltou.
Durval Ângelo também foi autor do requerimento para a realização de uma Reunião Especial de Plenário que iniciou as homenagens ao escritor na Assembleia na segunda-feira (30/5).
Escritor e homem público - Na audiência, estiveram também presentes servidores da Imprensa Oficial do Estado, da ALMG, jornalistas e a sobrinha do escritor, Sílvia Rubião. “É uma alegria muito grande estar aqui hoje. Ouvi generosas palavras dos expositores. Foi uma iniciativa muito importante essa homenagem, pois Murilo foi um grande escritor e um grande homem público”, afirmou Sílvia.
O jornalista da Imprensa Oficial Alencar Linhares de Andrade disse que Murilo Rubião, “uma pessoa que mudou a história”, merece todo reconhecimento. Ele criticou o Projeto de Lei (PL) 3.511/16, que propõe a extinção da Imprensa Oficial, matéria que integra a reforma administrativa proposta pelo Executivo. “Murilo foi diretor-geral do órgão, que tem sua importância na preservação da memória”, salientou. Ele criticou, também, a tentativa do governo “provisório” de Michel Temer de extinguir o Ministério da Cultura.
O deputado Durval Ângelo afirmou que vai marcar, para esta quinta-feira (2), uma reunião com servidores da Imprensa Oficial para conversar sobre o PL mencionado.
Conheça a biografia de Murilo Rubião
Murilo Eugênio Rubião nasceu em Carmo de Minas (Sul de Minas) em 1º de junho de 1916. Contista, jornalista, professor e advogado, iniciou seus estudos em Conceição do Rio Verde, na mesma região, concluindo-os em Belo Horizonte. Ingressou no curso de direito em BH, em 1938, onde funda, com outros estudantes, a revista literária Tentativa. Ainda estudante, assume, em 1939, a função de redator da Folha de Minas, permanecendo no diário por dez anos.
Em 1940, tem sua primeira publicação literária, o conto Elvira, Outros Mistérios, impressa na revista Mensagem. Formou-se advogado em 1942 e, no ano seguinte, passa a atuar, também, como diretor da Rádio Inconfidência de Minas Gerais. Dois anos depois, assume o cargo de presidente da seção mineira da Associação Brasileira de Escritores, participando do 1º Congresso Brasileiro de Escritores, realizado em São Paulo.
Em 1946, começa a destacar-se em sua atuação política: torna-se oficial de gabinete do interventor do estado, passando em seguida a outros cargos até, no ano de 1952, chegar à chefia de gabinete do então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek. Nesse meio tempo, publica dois livros: O Ex-Mágico (1947) - ganhador de um prêmio da Academia Mineira de Letras - e A Estrela Vermelha (1953).
Em 1965, lança o volume de contos Os Dragões e Outros Contos e, no ano seguinte, torna-se o primeiro editor do Suplemento Literário, também no jornal Minas Gerais, em que permanece até 1969, quando se afasta para assumir a chefia do Departamento de Publicações e Divulgação da Imprensa Oficial. Ainda antes da publicação de mais dois volumes de contos - O Pirotécnico Zacarias e O Convidado, ambos de 1974 -, exerce a função de presidente da Fundação de Arte de Ouro Preto.
Aposenta-se em 1975, ano em que também é eleito presidente do Conselho Estadual de Cultura de Minas Gerais. Em 1978, publica mais um livro, A Casa do Girassol Vermelho, e, no início dos anos 1990, publica a antologia O Homem do Boné Cinzento e Outras Histórias. Falece em 1991, e a sua obra é reconhecida como uma das mais inventivas do conto brasileiro da segunda metade do século XX.