Barbacena quer mais verbas e melhor infraestrutura na saúde
Em visita a hospitais da região, Comissão de Saúde promete levar demandas ao novo secretário de Estado da pasta.
10/05/2016 - 20:16 - Atualizado em 11/05/2016 - 11:53Um projeto definidor para o futuro do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB), que está sendo desativado; mais agilidade por parte da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) e do governo, visando melhorias na infraestrutura e na ampliação de leitos do Hospital Regional Dr. José Américo; e destinação de recursos para conclusão de obras do Hospital Ibiapaba/Centro Barbacenense de Assistência Médica e Social. Esses são os principais desafios a serem alcançados por Barbacena (Região Central do Estado) na saúde, conforme constatado deputado Arlen Santiago (PTB) durante visita aos três hospitais nesta terça-feira (10/5/16).
Acompanhado do secretário Municipal de Saúde, José Orleans da Costa, e de representantes da Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais de Minas Gerais (Asthemg), entre outras autoridades da área, o parlamentar, que preside a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), conversou com diretores e funcionários das três instituições. As visitas tiveram a finalidade de conhecer "in loco" as condições de trabalho dos funcionários e os problemas estruturais, no caso dos dois hospitais vinculados à Fhemig, e, quanto ao Hospital Ibiapaba, verificar a infraestrutura, a situação do atendimento e as práticas de gestão hospitalar.
Ao final, o parlamentar se comprometeu a agendar uma reunião com o novo secretário de Estado de Saúde, Sávio Souza Cruz, com a participação dos setores envolvidos, para pedir providências no sentido de agilizar o atendimento das reivindicações.
Referência em traumatologia, hospital regional carece de leitos na UTI
A visita se iniciou pelo Hospital Regional Dr. José Américo, que atende a 53 municípios, o que corresponde a uma população de cerca de 720 mil habitantes. A principal queixa, segundo funcionários e diretores, refere-se à falta de leitos, sobretudo na UTI. Único hospital público da região, com média de 12.300 atendimentos/mês no Pronto Atendimento e 210 internações mensais, a unidade conta hoje com 75 leitos, sendo dez na UTI.
Segundo o diretor geral Helder Rodrigues Pereira, a UTI precisaria de, pelo menos, mais dez leitos. Ele informou que, devido à carência, muitas vezes a instituição é confrontada com mandados judiciais que a obrigam a disponibilizar vagas, mesmo sem ter condições para tal. Ele afirma ainda que a unidade é referência em politraumatologia e atende grande número de acidentados graves, dada a proximidade com a BR-040, onde é alto o número de acidentes com veículos automotores.
Os funcionários queixaram-se da falta de pessoal, principalmente de servidores especializados para operar equipamentos como tomógrafo, já que é grande o número de terceirizados, conforme frisou o diretor da Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais (Asthemg), Carlos Augusto dos Passos. Outra representante da entidade, Joselma de Araújo Assunção Fonseca, defendeu a aquisição de equipamentos básicos, como cadeiras de banho, e a necessidade de modernização de alguns equipamentos, inclusive camas, já que, segundo ela, muitas ainda são movidas a manivelas, em sua maioria quebradas.
Para o secretário Municipal de Saúde, José Orleans, o hospital regional é o âncora da região; tem um corpo de funcionários competente, mas insuficiente; e é vítima do excesso de burocracia e da falta de agilidade da Fhemig. “Falta visão gerencial por parte da Fhemig”, queixou-se. Por essa razão, defendeu que a Comissão de Saúde intervenha junto ao órgão para cobrar mais agilidade na resolução dos problemas.
Com dívidas crescentes, Ibiapaba necessita de mais recursos
O Hospital Ibiapaba, por sua vez, sofre com a falta de recursos. Segundo seu procurador, Luiz Eduardo Grisolia de Oliveira, a crise e o alto valor dos insumos indexados em moeda estrangeira têm deixado a instituição dependente dos bancos, com uma dívida que já passa de R$ 11 milhões. A instituição tem um faturamento médio mensal de R$ 2 milhões, mas uma despesa de R$ 3,5 milhões. Os recursos que a mantêm são oriundos, em sua maioria (60%) do Sistema Único de Saúde (SUS); os 40% restantes advêm de convênios.
O hospital cumpre uma média de 2500 atendimentos gratuitos por mês no ambulatório especializado do SUS, além de 1575 atendimentos de emergência e 570 internações mensais. Atualmente, passa por obras de ampliação, que envolvem, entre outros, o setor de nutrição e dietética e a construção de um centro oncológico, com radioterapia e quimioterapia. Para a construção do bunker que abriga o aparelho de radioterapia, foi utilizada uma verba de R$ 2 milhões da Prefeitura de Barbacena, mas falta capital para dar continuidade à obra, com a construção do centro oncológico.
Apesar do endividamento, a instituição é referência em cardiologia de alta complexidade e oncologia, com certificado internacional, segundo atesta a sua gerente de qualidade, Carla Andreza Rodrigues da Costa. Luiz Eduardo Grizolia, por sua vez, não desanima. “O hospital, hoje, é um grande devedor dos bancos, mas reafirmamos nosso compromisso com a saúde e a população”. Para ele, a saúde precisa ser encarada como prioridade e como investimento, não como despesa.
Centro psiquiátrico, que está sendo desativado, conta com 145 moradores
A última instituição visitada por Arlen Santiago foi o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, fundado em 1903 e que, na década de 1940, chegou a receber cinco mil internos. O centro está sendo desativado desde 2001, em razão da nova orientação legal que propõe o tratamento dos doentes psiquiátricos em casa, e conta hoje com 145 moradores. São pacientes que residem na instituição há anos, muitos até sem referência familiar. Os dois mais antigos na entidade são uma mulher de 96 anos, que vive no local há mais de 70, e um homem de 91, que mora lá há 65 anos.
Segundo o diretor hospitalar do CHPB, desde 2001, quando começou a desinstitucionalização na entidade (com a Lei Federal 10.216, de 2001, que preconiza o tratamento psiquiátrico em liberdade), 148 pessoas já deixaram o local. Mas, em alguns casos, como os dos 145 que lá permanecem, não foi possível promover a mudança. “A alta exige suporte dos municípios e dos familiares, a construção de residências terapêuticas, e nem sempre os municípios dispõem de recursos ou as famílias de condições para manter os pacientes”, explica.
Reafirmando informação do secretário Municipal de Saúde, Wander afirma que Barbacena conta com 32 residências terapêuticas, que abrigam 180 moradores. “Para se ter uma ideia, a Capital, Belo Horizonte, dispõe de 34 residências do gênero, apenas duas a mais que Barbacena”. Ainda segundo Wander, para atender os pacientes hoje abrigados no Centro Psiquiátrico de Barbacena, seria necessário construir mais 18 residências.
De acordo com o secretário de Saúde de Barbacena, o município chegou ao seu limite e não tem condições de ampliar esse número. Ele entende que a Fhemig e o Governo do Estado precisam definir o mais rápido possível a situação. O CHPB funciona em uma área de 25 mil metros quadrados, com diversos prédios, que, segundo ele, podem vir a ter outras utilidades. Explica ainda que os quadros agudos, de surto, podem ser tratados temporariamente no hospital regional.
Consulte os resultados das visitas ao Hospital Regional de Barbacena Dr. José Américo, ao Hospital Ibiapaba e ao Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena.