O evento foi conduzido pela Comissão de Segurança Pública, com a participação de deputados federais da Comissão de Unificação das Polícias, da Câmara dos Deputados
No debate, também foram abordadas as propostas de desmilitarização da polícia

Polícias defendem reestruturação do sistema de segurança

Maioria de participantes de debate é contrária à unificação, mas defende trabalho conjunto das Polícias Civil e Militar.

18/03/2016 - 14:23 - Atualizado em 18/03/2016 - 15:52

Apesar da necessidade de integrar as Polícias Civil e Militar, a unificação de tais corporações pode não ser benéfica. Essa foi a opinião da maioria dos participantes do primeiro painel do Debate Público: Unificação das Polícias, realizado na manhã desta sexta-feira (18/3/16) no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O evento foi conduzido pela Comissão de Segurança Pública, com a participação de deputados federais que integram a Comissão Especial de Unificação das Polícias, da Câmara dos Deputados. Os presentes defenderam outras soluções para o enfrentamento da violência, como investimentos em educação e orçamento vinculado para a segurança pública.

“Sou contra a unificação, não vai resolver o problema”, afirmou o subtenente Éder Martins Oliveira. Para ele, é preciso uma reestruturação em todo o sistema de segurança pública, com a criação, por exemplo, de um plano nacional que possa ser revisado a cada dez anos. Oliveira considera também que é prejudicial o favorecimento de certas categorias, em detrimento de outras, dentro das corporações.

O delegado da Polícia Federal Carlos Henrique Cotta D'Ângelo se posicionou contrário à unificação. “Vamos reconhecer que temos que mudar, que temos problemas com excesso de violência e corrupção, por exemplo, mas as polícias trabalham e funcionam, sim. Se não funcionassem, não teríamos 700 mil pessoas presas no Brasil. É irresponsável querer mudar tudo da forma como se propõe”, disse.

O presidente da Comissão de Segurança Pública, deputado Sargento Rodrigues (PDT), que requereu o debate, também se posicionou contrário à unificação das polícias. Para o parlamentar, é necessário investir nas corporações já existentes. “As polícias têm condições de responder à sociedade se forem dados os recursos humanos e logísticos necessários para isso. Vamos dar a eles condições de trabalho, autonomia e ferramentas. E quando falo de ferramentas, falo também de uma boa reforma penal, porque nossas leis são frouxas”, disse. “Não é preciso unir instituições bisseculares com culturas absolutamente diferentes. Devemos, sim, avançar na integração, mas dizer que a unificação vai trazer maior eficiência é uma falácia”, completou.

Integração pode melhorar atuação das polícias

O presidente da Comissão Especial de Segurança Pública do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Maurício Campos, também defendeu maior integração das polícias. “Debate é oportunidade para aprimoramento, talvez a gente não chegue até onde queremos, mas podemos avançar um pouco nessa direção”, disse. Ele classificou como “impraticável” e “inconcebível” que corporações envolvidas com o mesmo fenônemo social ajam de forma fragmentada.

Campos citou pesquisa realizada conjuntamente entre as Polícias Civil e Militar em 2009 na qual se descobriu que 33% dos homicídios na Região Metropolitana de Belo Horizonte ocorriam em pouco mais de 4% do território. A Polícia Civil teria passado, então, a privilegiar os inquéritos desses locais, enquanto a Militar teria avançado por esses territórios. Segundo ele, o número de homicídios nessas regiões caiu consideravelmente. “A parte de cada um foi preservada, mas em certa parte do processo houve integração, ação conjunta, e isso fez a diferença”, disse.

As propostas de desmilitarização da polícia também foram abordadas, com a maioria dos presentes se posicionando contrariamente. “Precisamos do caráter militar para que o treinamento seja eficiente e nossos bombeiros estejam prontos para cumprir suas funções”, disse o coronel do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais Edgard da Silva. O deputado João Leite (PSDB) reforçou que a polícia já era militarizada antes do período ditatorial e desqualificou, assim, a alegação de que a corporação carregasse vícios do período.

Defesa - Houve também quem defendesse a unificação. O presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindpol), Denílson Aparecido Martins, disse que é preciso um modelo de polícia que atue na prevenção, na investigação e na repressão qualificada dos delitos. “A Polícia Civil está preparada para unificação, desde que ela seja feita de forma criteriosa e com respeito às matizes e contextos históricos de cada corporação”, disse. Ele defendeu que deveriam ser observadas certas premissas, como academia única de formação, desmilitarização e desvinculação das Forças Armadas e criação de um código de ética nacional.

Investimentos - Para o secretário adjunto de Defesa Social de Minas Gerais, Rodrigo de Melo Teixeira, o enfoque tem que ser mais na educação. “Nosso sistema prisional está explodindo de gente e não há como enfrentar isso sem escolas em tempo integral”, disse. Para ele, é importante, ainda, lutar para garantir a destinação constitucional de recursos federais para a área de segurança pública.