Esta foi a terceira convocação feita à delegada para participar de audiência da Comissão de Segurança Pública
A delegada Cleide Fiorillo classificou a denúncia como equivocada e mentirosa

Corregedoria de Polícia Civil investiga delegada de Jequeri

Deputados ouviram explicações da servidora, convocada pela Comissão de Segurança Pública, sobre liberação de suspeitos.

15/03/2016 - 13:33 - Atualizado em 15/03/2016 - 14:23

A delegada de Polícia Civil de Jequeri (Zona da Mata), Cleide de Oliveira Fiorillo, foi ouvida nesta terça-feira (15/3/16) pelos deputados da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) sobre denúncias de improbidade administrativa quando do atendimento à ocorrência policial no dia 1º de dezembro do ano passado. Na oportunidade, ela teria liberado, pelo telefone, dois suspeitos que portavam drogas e armas de fogo. Esta foi a terceira convocação feita à delegada, que está sendo investigada pela Corregedoria de Polícia Civil.

A subcorregedora de Polícia Civil, Cíntia Bachmann, confirmou que o caso vem sendo apurado no órgão e encontra-se em fase de instrução. Bachmann explicou que os próximos passos são a convocação da delegada para que seja apresentada defesa e, se for comprovada responsabilidade, será aplicada penalidade administrativa.

O delegado Paulo Felipe Ssaback, que representou a chefia da Polícia Civil, reforçou que a Corregedoria foi acionada e vem realizando seu trabalho com legalidade e isonomia. “Cobramos das autoridades policiais que atuem no cumprimento das leis e fiscalizamos a atuação dos delegados em todo o Estado”, destacou.

Defesa - Cleide Fiorillo é delegada-geral de Polícia Civil, onde atua há 25 anos, e hoje responde pela Comarca de Ponte Nova (Zona da Mata). Ela classificou a denúncia como "equivocada e mentirosa". Segundo ela, na ocorrência não houve registro de assalto por parte dos suspeitos e eles teriam sido levados à delegacia por fugirem de abordagem policial em um posto de gasolina.

Cleide explicou que, na perseguição, um policial militar teria efetuado disparo contra um dos suspeitos, por entender que estavam armados. “Um deles foi ferido, levado ao hospital e, horas depois, a ocorrência foi registrada no sistema PCnet. Eu não poderia prender um suspeito lesionado com bala alojada no corpo”, defendeu-se.

A delegada afirmou, ainda, que as armas encontradas com os suspeitos estavam com munição ineficiente e que o ferido não tinha antecedentes criminais. Para ela, o procedimento foi feito com razoabilidade, por não haver materialidade de provas que comprovassem o crime. “Como se passava das 18 horas, não havia perito disponível ou local próprio para a realização do laudo”, alegou.

A servidora relatou, também, que um primo de um dos suspeitos, que teria estado na cidade no dia seguinte para buscá-los, estaria em um veículo com registro de furto, tendo sido abordado pela Polícia Militar (PM), o que deu origem a toda a confusão. “Fiz tudo que foi possível dentro da lei. Não atendi às convocações feitas pela comissão anteriormente porque estava respondendo por duas comarcas na época e depois me encontrava de férias”, concluiu.

Sindicato - Em defesa da delegada, o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado (SindepoMinas), Marco Antônio de Assis, entendeu que a audiência pública teria adotado contornos de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Portanto, deveria ter sido dado à delegada o direito de ficar calada para não formar prova contra si. Na opinião dele, o baixo efetivo de policiais e a falta de estrutura vem dificultando o trabalho dos delegados em todo o Estado, o que teria sido refletido no caso em questão.

Em resposta às declarações do sindicalista, o deputado Sargento Rodrigues (PDT), presidente da comissão e autor do requerimento para a reunião, fez uma leitura das atribuições da comissão. O parlamentar disse que tudo foi feito dentro do previsto no Regimento Interno da ALMG e que a delegada poderia ter se silenciado no momento em que julgasse necessário.

O deputado Alencar da Silveira Jr. (PDT) defendeu a delegada, ao atestar sua seriedade e competência na condução do trabalho. Para ele, as denúncias são apenas “fofocas” e solicitou, ainda, cópia dos documentos existentes contra a delegada. “A situação da segurança pública no Estado é crítica e, por isso, os delegados de Polícia Civil se veem em situação de dificuldade no cumprimento das suas funções”, criticou.

Parlamentares falam sobre procedimentos da delegada

O deputado Cabo Júlio (PMDB) questionou as afirmações da delegada e considerou que o trabalho foi feito de forma incorreta. Segundo dados do boletim de ocorrência relatados pelo parlamentar, o suspeito teria dito que fugiu da abordagem policial por não ter carteira de motorista. No depoimento, ele teria negado que a arma de fogo encontrada era sua, mas já teria sido preso por tráfico de drogas e porte de arma de fogo. “Ou seja, um deles tinha antecedentes criminais e a conclusão do laudo pericial aponta para a eficiência da arma e das munições. O procedimento foi equivocado, porque havia porte de drogas e uma arma com numeração (identificação) raspada”, opinou.

Sargento Rodrigues reforçou que faltou cautela na ação da delegada e que a ocorrência teria sido feita de forma desajeitada. Os suspeitos, segundo ele, além de portarem drogas e arma, teriam voltado a cometer crimes no dia posterior, quando foram encontrados em um carro roubado. “Há uma cobrança da população e da imprensa local. Como a delegada pode ter feito o exame da arma sem ter ido ao local, portanto, sem ter contato físico com a arma? Além disso, não prendeu um suspeito com drogas”, salientou. O parlamentar disse, ainda, que o Ministério Público apresentou, em reunião anterior, denúncias de prevaricação e improbidade administrativa contra a delegada. Cleide Fiorillo nega a existência desses processos.

O deputado João Leite (PSDB) questionou o fato de o policial militar ter levado a ela a denúncia de que o suspeito teria apontado uma arma contra ele e isso não ter sido considerado crime. Já Noraldino Júnior (PSC) avaliou que a delegada teria suspeitado da ação da PM porque agiu sem levar em conta a declaração relatada na ocorrência. “Acho estranho e preocupante uma pessoa portar uma arma raspada, mesmo que ineficiente, e não ser considerada criminosa. Para mim, este tipo de procedimento põe a população em risco”, lamentou.

Requerimento – Na mesma reunião, foi aprovado requerimento do deputado João Leite de audiência sobre a violência na região do Petrovale, divisa entre os municípios de Betim e Ibirité, ambos na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

Consulte o resultado da reunião.