Participantes de reunião pediram ações sérias de combate à dengue, chikungunya e zika
Segundo Júnia Cioffi, o doador deve comunicar ao Hemominas qualquer sintoma em até sete dias após a doação

Reunião alerta para possibilidade de dengue transfusional

Especialistas destacam que incidência é baixa, apesar de haver poucos trabalhos na literatura médica sobre assunto.

09/03/2016 - 19:55

A preocupação com a possibilidade de contaminação por dengue em transfusões de sangue pautou audiência pública, realizada nesta quarta-feira (9/3/16), pela Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O receio foi motivado pelo falecimento, na última quinta-feira (3), de Janaína Carvalho, de 21 anos, moradora de Juiz de Fora (Zona da Mata), que estava internada no Hospital Ascomcer para tratamento de leucemia e recebeu transfusão de uma doadora que teve dengue, o que foi verificado dias após a doação.

Especialistas presentes na reunião destacaram que são poucos os casos de dengue transfusional. Por outro lado, ressaltaram que há poucos trabalhos disponíveis na literatura médica sobre o assunto e que são necessários novos estudos, bem como incremento das ações na área da saúde com formas mais eficazes de diagnóstico e tratamento.

A presidente da Fundação Hemominas, Júnia Guimarães Mourão Cioffi, destacou que a triagem do Hemominas é muito rigorosa e que o doador deve comunicar qualquer sintoma em até sete dias após a doação. Ela destacou pesquisa, realizada em 2012, com a participação do Hemominas e de outros estados: hemocomponentes de cerca de 40 mil doadores, que apresentavam sintomas de dengue, foram transfundidos em 45 pacientes. Desses, seis apresentaram sintomas brandos de dengue. "A pesquisa mostra que a dengue transfusional não é uma doença grave", disse.

Júnia Guimarães relembrou o caso ocorrido em Juiz de Fora. Ela relatou que uma pessoa doou sangue, no último dia 12 de fevereiro, e que não apresentava nenhum sintoma. Cinco dias depois, a doadora entrou em contato para comunicar que estava com sintomas de dengue. Segundo a presidente da Hemominas, a partir disso, foi aberto processo de hemovigilância, que é o monitoramento das reações transfusionais.

“Foi identificada a transfusão para a paciente do Hospital Ascomcer, que já estava internada em estado grave”, destacou. Júnia acrescentou que exame realizado com o soro da paciente deu negativo para a dengue. “Isso demonstra que a dengue não foi transmitida. A causa da morte foi atribuída à leucemia mieloblástica recidivada, com sinais de infecção fúngica”, contou.

De acordo com o deputado Noraldino Júnior (PSC), que acompanhou o caso, uma vez que sua esposa é prima da paciente, Janaína Carvalho já tratava há alguns anos de leucemia. “Fazíamos uma campanha para que ela conseguisse um transplante de medula óssea. Quando fomos vê-la, tivemos informação de que ela teria alta. Ela estava bem, apesar do quadro geral”, contou. O parlamentar relatou que a paciente teve uma piora depois da transfusão. “Para a família, não há dúvida de que ela teve dengue”, acrescentou. Noraldino Júnior manifestou confiança no trabalho do Hemominas, mas pediu que o caso seja investigado com minúcia para que isso não ocorra com mais ninguém.

Especialistas pedem ações sérias contra a dengue

Segundo o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), Estevão Urbano Silva, e o diretor da Associação Médica de Minas Gerais, Carlos Starling, é difícil opinar nesse caso em que não tiveram participação desde o início. Apesar disso, Estevão Urbano enfatizou que, do ponto de vista científico, muito provavelmente, não houve dengue nesse caso. Ele explicou que a infecção fúgica que a acometeu é bastante letal. “Juntando o exame que não comprovou a doença e a baixa incidência da dengue transfusional, tudo leva a crer que a paciente não teve esse quadro”, falou.

Carlos Starling, por sua vez, salientou que a expectativa em relação aos casos de dengue, chikungunya e zika é de que o pior ainda está por vir. “Casos complexos como esse vão acontecer aos milhares porque não vimos o pior dessa epidemia. Não temos dengue tipo 2 circulando em nosso meio. Quando isso ocorrer, o problema será ainda maior”, alertou. O médico destacou que são fundamentais medidas sérias de saúde pública. “Os métodos para diagnóstico e tratamento e os recursos laboratoriais devem ser melhorados. O problema se tornou mundial, mas é responsabilidade nossa ter esses recursos aqui”, acrescentou. Ele destacou a importância do desenvolvimento das vacinas para conter a epidemia.

O assessor da Superintendência de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e Saúde do Trabalhador da Secretaria de Estado de Saúde, Fernando Campos Avendanho, reforçou que a expectativa, infelizmente, é de que a situação irá se agravar. “Estamos em curva ascendente. Ainda não chegamos no pico da doença, mesmo com os esforços que estão sendo feitos. O vetor é extremamente adaptável ao meio urbano”, informou. Ele destacou que o óbito da paciente de Juiz de Fora está sendo investigado, porque é uma situação grave, embora a contaminação por dengue dessa forma ocorra em percentual baixo.

Municípios - O presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais, José Maurício Lima Rezende, relatou que os municípios, de modo geral, carecem de recursos para atender a gestantes infectadas pelo zika. “Como vamos dar continuidade ao tratamento dessas crianças depois? Tenho muita preocupação com isso”, falou.

O coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa da Saúde, Gilmar de Assis, manifestou preocupação com o contexto atual. “Todo o sistema precisa se articular melhor para um enfrentamento qualificado a esse mal que nos aflige”.

Deputados reforçam importância de novos estudos

O deputado Arlen Santiago (PTB) destacou que é preciso continuar essa discussão e buscar propostas para essas questões. “Temos dengue há muitos anos. Nunca se falou sobre contágio por meio de transfusões. Agora, com o caso dessa jovem, é lançada suspeita sobre outro modo de contágio”, acrescentou.

Para o deputado Antônio Jorge (PPS), a possibilidade de a paciente ter sido infectada deve ser considerada. Ele disse ter informações de que a paciente teve sintomas parecidos com os da dengue. “Essa possibilidade deve ser tratada de modo muito sério. Deve ser feito um esforço para se aprofundar no que aconteceu e pensar nesse risco”, refletiu.

Segundo Antônio Carlos Arantes (PSDB), o País está perdendo a batalha para a dengue. “Há clamores, mas poucas reações efetivas”.

De acordo com o deputado Ricardo Faria (PCdoB), há a preocupação de que o fato traga temor à população. “No entanto, a Assembleia não poderia deixar de trazer esse debate”, colocou. O deputado Geraldo Pimenta (PCdoB) falou que a reunião esclarece para todo o Estado que o Hemominas está vigilante com a situação levantada.

O deputado Doutor Jean Freire e a deputada Marília Campos, ambos do PT, salientaram que o debate precisa ultrapassar a cobrança por mais investimentos por parte dos governos, bem como a procura por culpados pela situação, e contribuir com alternativas para o problema.

Reunião - A reunião, que foi um desdobramento de audiência pública destinada à discussão de ações de prevenção e combate à dengue, febre chikungunya e zika realizada no último dia 2, atendeu a requerimento dos deputados Arlen Santiago, presidente da comissão, Glaycon Franco (PTN), Ricardo Faria, Doutor Jean Freire, Carlos Pimenta (PDT) e Fred Costa (PEN).

Consulte o resultado da reunião.