O debate público sobre o Rio São Francisco foi realizado no Plenário da ALMG, na tarde desta segunda-feira (23)
O piloto Lu Marini sobrevoou os 2.863 km do Rio São Francisco

Transposição do Velho Chico exige revitalização

Em debate público realizado pela Assembleia, oradores defendem amplo processo de recuperação do Rio São Francisco.

23/11/2015 - 18:01

O projeto de transposição do Rio São Francisco não tem chance de dar certo se não for acompanhado de um amplo processo de revitalização. Esse foi o pensamento dominante na abertura do Debate Público “Velho Chico: transposição exige revitalização. Sem Minas não há salvação”, realizado no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na tarde desta segunda-feira (23/11/15). A noção foi enfatizada pelos dois primeiros oradores do evento – o deputado Gil Pereira (PP), presidente da Comissão de Minas e Energia e autor do requerimento para realização do debate, e o piloto de paramotor Lu Marini, instrutor da Marinha, que sobrevoou os 2.863 quilômetros do rio, da nascente à foz, em inédita expedição intitulada “Rastreando o Rio São Francisco”.

“Esta Minas Gerais que hoje chora as devastadoras consequências humanas e ambientais do rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana (Região Central do Estado), cujas proporções ainda são incalculáveis, é a mesma Minas Gerais que há mais de uma década espera pelas efetivas e prometidas ações em favor da revitalização do Rio São Francisco”, afirmou o parlamentar, em seu discurso de abertura. Sem essas ações, prosseguiu, “não haverá como partilhar com os irmãos do semiárido nordestino as águas e o progresso que sempre viajaram pelo leito daquele que nasceu sob o signo da integração nacional”.

O deputado Gil Pereira destacou ainda que centenas de municípios assistem à agonia do Velho Chico, como é popularmente conhecido o rio que nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais, e percorre ao todo cinco estados e 520 municípios, até desaguar no Oceano Atlântico, na divisa entre os Estados de Alagoas e Sergipe.

Mencionando o assoreamento das margens e dos mananciais que abastecem a bacia do rio, o parlamentar observou que, desde que começou a ser defendido o centenário projeto de transposição do rio, até hoje, a Bacia do São Francisco vem sofrendo contínua degradação das suas matas ciliares e das suas milhares de nascentes, vítimas “do selvagem desmatamento e do lento processo de resolução do saneamento básico”.

Volume morto - O parlamentar denunciou também a situação de penúria da barragem de Sobradinho, na Bahia, “de onde se estipulou coletar 127 mil litros de água por segundo para alimentar as estações de bombeamento do sistema, desde que a barragem esteja com pelo menos 94% de sua capacidade” e que convive, hoje, com “o alarmante percentual de 2,24% de sua capacidade”. Segundo ele, a previsão é de que ainda este ano a barragem esteja operando no volume morto, resultado da “falta de investimentos que começa na Serra da Canastra, no Lago de Três Marias, no Norte de Minas”.

O parlamentar encerrou seu discurso defendendo a união entre os governos federal, estaduais e municipais e a sociedade civil em favor de 20 milhões de mineiros e dos brasileiros e desejando que o encontro seja capaz de construir soluções conjuntas visando à preservação do São Francisco e seus afluentes.

O evento contou também com a participação do ministro da Integração Nacional, Gilberto Magalhães Occhi, e do presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do Rio São Francisco e do Rio Parnaíba (Codevasf), Felipe Mendes de Oliveira, entre outros convidados.

“Morrendo? Não, o São Francisco está minguando”

Ao fazer a sua apresentação, o piloto e instrutor de paramotor Lu Marini, um dos convidados do debate público, disse que gosta sempre de citar a frase que ouviu de um ribeirinho durante a expedição que fez ao longo do rio: “Morrendo? Não, não acho que está morrendo, o São Francisco está minguando”, teria dito “seu” Zezico, de 84 anos, que faleceu de morte natural dez dias depois da conversa com Marini. Para o piloto, a frase traduz, ao mesmo tempo, a ideia de agonia lenta do rio e a esperança da população ribeirinha, que, apesar das dificuldades, mantém a fé na sua recuperação.

Como o orador que o antecedeu, Lu Marini defendeu também a revitalização do Velho Chico, sem a qual, acredita, será impossível o projeto de transposição. Ele exibiu fotos e trechos de vídeos do projeto “Rastreando o Rio São Francisco”, em que mostra não só a exuberância do rio e de seus afluentes, mas também os trechos em que a bacia está devastada pelo assoreamento, pela seca, pela poluição e pelo desmatamento, entre outros agentes destruidores.

Segundo o piloto, que sobrevoou todo o percurso do rio durante 30 dias, um dos mais eloquentes atestados da devastação que assola o São Francisco é a existência de criadouros artificiais de peixe às margens do rio. “Vi muitos criadouros de peixe ao lado do rio, porque, naqueles trechos, os peixes não sobrevivem mais naturalmente”, lamentou.

Marini sobrevoou também as obras de transposição do rio, no município Cabrobó (PE), ponto de partida do eixo norte da transposição, e mostrou-se bastante impressionado com a grandiosidade do projeto. “Independentemente de todos os problemas que possam existir, a gente quer que dê certo, pois seria muito egoísmo de minha parte querer que uma obra dessa não dê certo”, frisou.