Clubes de Negros pedem reconhecimento do Estado
Associações atuam na preservação da memória da cultura negra no Brasil.
11/11/2015 - 20:20 - Atualizado em 12/11/2015 - 18:22Representantes dos Clubes de Negros em Minas Gerais pediram, durante reunião da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais nesta quarta-feira (11/11/15), reconhecimento e incentivo por parte do Estado para continuarem exercendo suas atividades. O objetivo da audiência era debater a importância dessas associações como parte da história, memória e do patrimônio imaterial em Minas Gerais.
O deputado Rogério Correia (PT), autor do requerimento que deu origem à reunião, explicou que muitos dos Clubes de Negros surgiram logo após a abolição da escravatura no Brasil e que são espaços associativos de caráter beneficente, criativo e cultural. “A função inicial era serem espaços de lazer para as comunidades, tendo em vista que os negros eram proibidos de frequentar os mesmos locais que os brancos. Mas acabaram extrapolando esse objetivo. Precisam ser valorizados porque fazem parte da história de resistência da comunidade negra. Que aprendamos com eles a ter resistência contra tantas injustiças que ainda existem nesse mundo”.
A subsecretária de Estado de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Cleide Hilda de Lima Souza, reforçou que o País tem uma dívida histórica com os negros, uma vez que nunca tiveram espaço para suas manifestações culturais. “Se o Estado negou por mais de 500 anos a existência do povo negro, que sempre viveu à margem, esses espaços tão importantes para a sobrevivência da cultura e tradições negras não podem mais ser negligenciados”.
A autora do livro Clubes de Negros, Margareth Cordeiro Franklim, destacou o papel dos clubes no enfrentamento do violento racismo que sempre existiu no Brasil. “Os clubes mineiros precisam ser reconhecidos com parte do patrimônio imaterial negro brasileiro. Foram os embriões dos primeiros sindicatos. Precisam ser tombados ou registrados, é importante o reconhecimento do território físico, para garantir a continuidade da existência das entidades”.
A presidente da Associação Mineira dos Clubes Sociais Negros, Lourdes Ida, frisou que muitos dos clubes mais antigos já fecharam porque os membros que os sustentavam envelheceram e as questões financeiras “pesaram”. Ela pediu ações de suporte financeiro por parte do Governo de Minas para que as entidades que restarem possam se sustentar. “Vivemos uma nova etapa, mas ainda temos pela frente muitos obstáculos”.
Curadora do 8º Festival de Arte Negra, Rosália Diogo, lembrou que o Brasil não valoriza as culturas que fazem parte de sua história e, nesse contexto, a preservação dos clubes se mostra ainda mais fundamental. “A preservação da cultura negra é um direito de todo brasileiro e um dever do poder público”.
Clubes devem procurar institutos do patrimônio para registro
A antropóloga do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Vanilza Jacundino Rodrigues, explicou a diferença entre registro do bem cultural, no qual se encaixariam os clubes, e o tombamento. “A política do patrimônio imaterial é recente. E o registro do bem cultural tem várias etapas. É ele que garante a manutenção da existência do bem cultural. É um processo coletivo, que passa pela aceitação da comunidade”. Ela falou, também, do processo de mapeamento dos clubes de negros em Minas Gerais, atualmente parado. “Os dados são muito preliminares mas constatamos, até o momento, 16 clubes no Estado. Por uma série de problemas, especialmente de financiamento, fizemos entrevistas por telefone, mas ainda não publicamos oficialmente o documento”.
Representando o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), Luis Gustavo Molinari Mundim explicou que, para que se inicie o processo de registro de bem cultural, a iniciativa deverá ser das associações. “Para que haja o reconhecimento, é preciso que tenha uma provocação por parte dos interessados. Estamos solidários em auxiliar em parte da pesquisa. Mas é necessário envolvimento das pessoas para que as coisas possam andar”. Ele também esclareceu que o patrimônio imaterial só pode trabalhar com clubes que ainda existem, sendo que os que já fecharam se encaixariam na categoria de Memória.
O presidente da comissão, deputado Bosco (PTdoB), ponderou que muitas vezes a cultura dos municípios da Região Metropolitana é mais valorizada que a do interior e os espaços culturais desfrutam de mais recursos por estarem mais próximos da Capital. “No interior, faltam informações e, por isso, a nossa comissão quer funcionar como um elo entre o Iphan e os municípios mais distantes”.
Requerimento – Durante a reunião, também foi aprovado pedido de autoria do deputado João Leite (PSDB) de reunião para discutir e conhecer a presença judaica em Minas Gerais, considerando aspectos históricos, culturais e econômicos.