Comissão debateu a viabilidade de expansão do fornecimento de gás natural para atender a demanda industrial de Betim e região
Segundo Sérgio Moreira, o gasoduto para o transporte do gás natural cortaria Betim
De acordo com Fabrício Freire, a demanda existe, tanto residencial quanto industrial

Conversão de usina pode impulsionar gás natural em Betim

Projeto em estudo, debatido em audiência da ALMG, garantiria a demanda necessária para viabilizar investimentos.

19/10/2015 - 18:28

A conversão de uma usina termelétrica da Cemig em Igarapé, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), que trocaria o uso do óleo combustível pelo gás natural, é a alternativa para viabilizar a expansão da rede de gasoduto e a oferta desse tipo de combustível em praticamente todo o município vizinho de Betim, que conta com um dos maiores parques industriais do País. A alternativa foi levantada pelo diretor comercial da Gasmig, Sérgio da Luz Moreira, durante audiência pública da Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada nesta segunda-feira (19/10/15) em Betim. A reunião atendeu a requerimento do deputado Ivair Nogueira (PMDB).

Atualmente, apesar de contar com a Refinaria Gabriel Passos (Regap), da Petrobras, que processa o gás natural, apenas uma pequena área industrial de Betim tem acesso ao combustível, mais barato e menos poluente. O interesse das lideranças da cidade é dar novo impulso a dois distritos industriais, um na região de Bandeirinhas e o outro às margens da BR-262, ainda em processo de implantação, e garantir ainda a oferta do gás natural para os pequenos consumidores comerciais, residenciais e do transporte.

“Se essa conversão fosse viabilizada, o gasoduto necessário para o transporte do gás natural praticamente cortaria a cidade de um lado a outro. A partir dele, poderíamos ramificar a rede e cobrir boa parte da área do município”, completou o diretor comercial da Gasmig.

O presidente da empresa, Eduardo Lima Andrade Ferreira, revelou ainda que já existe, no âmbito da Cemig, um projeto de conversão da termelétrica, com prazo para conclusão de cerca de dois anos, já que a planta é uma das poucas no País que ainda queima uma forma de óleo combustível altamente poluente.

Com capacidade de produção de 131 megawatts, a ideia é que essa usina possa participar de um novo leilão de energia a ser promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em 2017. Contudo, o volume que seria demandado caso isso se concretizasse seria muito maior do que todo o volume que a Gasmig tem atualmente contratado, em torno de 135 mil metros cúbicos/dia.

Para se ter uma ideia, uma termelétrica usada na própria refinaria da Petrobras consome atualmente cerca de um milhão de metros cúbicos/dia. Em Betim, esse combustível é distribuído pela Gasmig para 22 clientes - grandes empresas como a Fiat, que, por sinal, foi o ponto de partida para o início do consumo de gás natural pelo segmento industrial no Estado, ainda em 1995.

Segundo Sérgio Moreira, a indústria de distribuição de gás necessita, antes de tudo, de escala. “A construção de um gasoduto precisa estar ancorada em grandes consumidores que garantam sua viabilidade econômica. É do nosso interesse ampliar o mercado, e Betim, por questões logísticas, está entre os mercados prioritários”, completou.

O executivo ainda defendeu a expansão da distribuição para os chamados pequenos consumidores residenciais e comerciais, sobretudo em razão da maior segurança em comparação com os botijões utilizados atualmente, já que o funcionamento da rede de gás natural pode ser monitorada permanentemente, em tempo real.

Metano - O gás natural é um combustível fóssil formado pela decomposição da matéria orgânica em grandes bacias sedimentares, em terra e no fundo do mar, composto por cerca de 70% de metano, percentual que sobe para 90% após seu processamento. Ele é considerado uma fonte de energia mais limpa e eficiente do que o chamado o gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha, resultado do fracionamento direto do petróleo, também um combustível fóssil, mas composto por gases como o butano, muito mais poluente. Contudo, apesar da demanda crescente, seu uso ainda está restrito a grandes consumidores, como indústrias químicas, petroquímicas e de fertilizantes, e ainda ao setor de transportes em grandes centros urbanos, na forma do gás natural veicular (GNV).

Apesar de contar com 52 blocos de exploração já concedidos pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) ao longo da Bacia do Rio São Francisco - dos 35 já perfurados, 30 indicaram existência do produto -, a exploração do gás natural em Minas Gerais ainda esbarra na viabilidade técnica, carência de tecnologias, entraves nos licenciamentos ambientais e políticas governamentais mais claras de incentivo.

“Por tudo isso, atualmente a exploração do gás natural nos Estados Unidos é três vezes mais barata do que no Brasil”, apontou o presidente da Gasmig. No Brasil, a produção, importação e venda do gás natural são controlados pela Petrobras, que compra parte do produto de países como a Bolívia. Já a Gasmig, controlada pelo Governo do Estado, atua sobretudo na distribuição do produto.

Estudo deve apontar demanda mínima para expansão da distribuição

O deputado Ivair Nogueira cobrou da direção da Gasmig a realização de um estudo que aponte o volume mínimo necessário de consumo contratado do gás natural para que, na outra ponta, as lideranças políticas e empresariais de Betim possam comparar esses números com a demanda industrial já instalada ou em processo de instalação na cidade. Esse seria um caminho a ser percorrido paralelamente ao acompanhamento do processo de conversão da usina termelétrica de Igarapé.

O parlamentar ressaltou que o tema é de interesse não somente de Betim, mas de toda a RMBH. “Precisamos firmar um pacto que una Governo do Estado, prefeituras e o segmento produtivo, além dos próprios moradores dessas cidades, para chegarmos a um resultado positivo. Na maioria das vezes, a burocracia vem inibindo os empresários em um momento complicado da economia nacional “, defendeu.

Presidente da Comissão de Minas e Energia, o deputado Gil Pereira (PP), que comandou a reunião, defendeu também a expansão do gasoduto para o Norte de Minas, em cidades como Bocaiúva e Montes Claros, já que o fornecimento já atingiu Sete Lagoas, que fica na mesma rota. Ele reconheceu que a situação de Betim ainda é mais estratégica, devido à proximidade da refinaria e ao grande parque industrial instalado. “Trazer o desenvolvimento para Betim é garantir o desenvolvimento de Minas Gerais”, apontou.

O secretário-adjunto de Desenvolvimento Econômico de Betim, Fabrício Fernandes Freire, também foi enfático na cobrança de um posicionamento da Gasmig e do Governo do Estado. “A demanda existe, tanto residencial quanto industrial. A crise é passageira e temos que nos preparar para quando sairmos dela. Betim pode ser uma mola propulsora para ajudar o Estado e o País a saírem dessa situação difícil. O momento é ruim, sim, estamos perdendo empregos, mas isso é temporário. Não podemos é perder empresas, e isso não está acontecendo em Betim, que é a cidade com a maior capacidade do crescimento do Estado”, avaliou.

Segundo Fabrício Freire, o otimismo se baseia na disponibilidade de 22 milhões de metros quadrados no município para receber novas empresas. “Pensando nisso, estamos diversificando a matriz econômica para não ficarmos dependentes dos setores petroquímico e automobilístico”, apontou. Sobre a viabilidade da expansão do gasoduto, ele apontou a possibilidade de um rearranjo produtivo local que gere a demanda necessária de gás natural que viabilize o investimento necessário.

Por fim, o ex-presidente da Petrobras Biocombustíveis, Alan Kardec, atualmente diretor de Gestão Empresarial da empresa Tecnologia Controle Ambiental (TCA), defendeu, sobretudo, uma ação política mais decisiva para destravar os investimentos. “Não consigo entender o porquê de Betim sediar uma refinaria e ter apenas uma pequena extensão de seu território beneficiada pelo gasoduto”, concluiu.

Consulte o resultado da reunião.