Comissão debate crise hídrica com candidatos ao Enem
Cerca de 700 alunos da rede pública estadual participaram de aulão promovido pela Comissão de Educação da Assembleia.
09/10/2015 - 12:25“A água está acabando?” A pergunta, feita pelo professor João Marcelo Torres, dividiu a plateia de cerca de 700 estudantes de diversas escolas públicas estaduais que lotaram o Espaço Democrático José Aparecido de Oliveira, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na manhã desta sexta-feira (9/10/15). Os jovens participaram de um aulão preparatório para o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), promovido em audiência pública da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da ALMG, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação e com apoio da Associação Pré-Federal de ensino.
A crise hídrica e seus desdobramentos na crise de energia elétrica foi o tema abordado pelos convidados, os professores de Geografia João Marcelo Torres Madureira e Percy Fernandes Vieira, do projeto Terra Negra, que tiveram o apoio, também, do professor Antônio Marcos de Lacerda, da Escola Estadual Odilon Behrens. Além deles, também participou do aulão o diretor de Ensino Médio da Superintendência de Ensino Médio da Secretaria de Estado de Educação, professor de História Wladimir Tadeu Silveira Coelho, que, ao final da audiência-aula, fez uma exposição sobre a importância estratégica do petróleo no mundo, como matéria-prima e fonte finita de energia, e a consequente relevância da Petrobras para a economia do Brasil.
Para o presidente da Comissão de Educação da Assembleia e autor do requerimento para realização da reunião, deputado Paulo Lamac (PT), o evento teve o objetivo de despertar nos jovens o interesse por temas relevantes da atualidade, que poderão ser alvo de questionamentos no Enem, embora ainda não estejam necessariamente nos livros didáticos.
“A discussão desses temas é fundamental para o desempenho desses alunos no Enem e, portanto, para a sua perspectiva de futuro. Temos um imenso desafio que é o de convencer nossos jovens de como esse momento é determinante para o seu futuro e poderá ser decisivo não só para o acesso à universidade, mas também para importantes programas de governo, como bolsas do Prouni, o Ciências sem Fronteira (programa educacional de intercâmbio com o exterior) e o Pronatec, para quem quer enveredar pelo ensino técnico”, afirmou o parlamentar.
Professor desfaz mito sobre fim da água
Após falar para os alunos sobre o projeto Terra Negra Geografia e Atualidades, que tem por objetivo discutir temas sobre Geografia de forma prazerosa e instigadoras, por meio das novas tecnologias disponibilizadas pela internet, o professor João Marcelo passou a abordar a questão da crise hídrica e dividiu os estudantes ao indagar se a água está acabando. Na sequência, explicou que, ao contrário do que se ouve, se vê e se lê diariamente nos meios de comunicação, a água não está acabando.
“Essa é uma discussão séria. Estão vendendo essa ideia pra gente, mas é importante que vocês saibam que a água é, a todo instante, reciclada; dentro do ciclo hidrológico, toda água que evapora, volta. Então, a resposta para essa pergunta é: não, a água não está acabando”, disse ele, fazendo uma clara distinção entre ciclo hidrológico e disponibilidade hídrica.
Os professores mantiveram o interesse dos jovens ao explicar que os problemas da chamada crise hídrica decorrem do mau uso e da má distribuição dos recursos naturais disponíveis, que geram problemas como desmatamento e excesso de impermeabilização do solo, sobretudo nas grandes metrópoles, afetando profundamente os processos hidrológicos.
A água é um recurso que se renova através do ciclo hidrológico, mas problemas como o crescimento populacional, a má gestão e distribuição dos recursos e, sobretudo, os desequilíbrios e exageros dos padrões de consumo, principalmente nos grandes centros, contribuem para produzir seca em locais onde antes não existiam, como, por exemplo, em São Paulo.
Segundo eles, o desmatamento gerado, entre outras atividades, pela pecuária, para a expansão das pastagens, bem como as indústrias, seriam os grandes vilões da chamada crise hídrica. “Para a produção de um único quilo de carne bovina são consumidos 15 mil litros de água”, afirmou Marcelo, explicando assim o conceito de consumo virtual.
Segundo os professores, biomas brasileiros importantes como a Mata Atlântica e o Cerrado, considerado a caixa d'água do Brasil, estão sofrendo as consequências desses processos predatórios. Eles criticaram o Código Florestal Brasileiro, de 2012, que reduziu as áreas de nascentes para favorecer grandes agricultores e pecuaristas, e afirmaram que, no futuro, isso vai gerar consequências ecológicas, sociais e até mesmo econômicas. E criticaram também a lógica econômica dominante nos grandes centros, bem como a especulação imobiliária.
Na parte final da aula, o professor Wladimir Coelho traçou um panorama mundial da economia, falou resumidamente sobre a campanha “O Petróleo é Nosso”, iniciada nos anos 40 e que garantiu a criação da Petrobras em 1953, buscando a autossuficiência do Brasil em matéria de petróleo. Ele alertou os jovens para ficarem atentos quando ouvirem críticas à estatal brasileira, destacando que, por trás do discurso político, podem estar ocultos interesses econômicos em disputa no mercado internacional.