Foi apresentado em reunião da Comissão de Meio Ambiente um resumo dos resultados das ações de fiscalização do Governo do Estado contra o desmatamento
Segundo Heitor Soares (à direita), desde 2011, operações especiais resultaram em mais de 87 milhões de penalidades aplicadas

Governo diz que há fiscalização contínua contra desmatamento

Até agosto de 2015, 344 hectares de mata haviam sido suprimidos de maneira legal e 17 mil hectares, de modo irregular.

07/10/2015 - 16:00 - Atualizado em 07/10/2015 - 17:42

O Governo do Estado apresentou, em reunião na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quarta-feira (7/10/15), um resumo dos resultados das ações de fiscalização contra o desmatamento. A audiência pública foi promovida pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, a pedido do deputado Cássio Soares (PSD), presidente da comissão.

O superintendente de Fiscalização Ambiental Integrada da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad), Heitor Soares Moreira, disse que há um “monitoramento contínuo” sobre o desmatamento. Ele contou que, até agosto de 2015, 344 hectares da cobertura vegetal do Estado haviam sido suprimidos de modo legal e cerca de 17 mil hectares, de maneira irregular. Em 2104, foram 1.267 hectares de modo regular e aproximadamente 29 mil hectares de maneira irregular.

O representante da Semad explicou como se dá o processo de conhecimento sobre os desmatamentos irregulares. “São identificados primeiramente pelo IEF (Instituto Estadual de Florestas), que encaminha os dados para a Semad. As fiscalizações estratégicas são, então, feitas pelos nossos técnicos, enquanto as de rotina são realizadas pela Polícia Militar do Meio Ambiente. Tudo isso é feito mensalmente”, disse.

Heitor Soares contou que há, atualmente, 11 núcleos de fiscalização no Estado. “É no Norte de Minas onde mais ocorrem os desflorestamentos regularizados e os irregulares”, afirmou. Ele falou que, em todo o Estado, são feitas “operações especiais” de fiscalização ao desmatamento, que demandam ajuda de parceiros como o Ministério Público, as Polícias Civil e Rodoviária Federal e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). “Este ano, já foram feitas seis dessas operações. Em quatro delas, foram aplicadas, no total, multas no valor de R$ 16 milhões e foram fiscalizados 153 empreendimentos”, ressaltou.

Segundo o superintendente da Semad, desde 2011, as operações especiais resultaram em mais de 87 milhões de penalidades aplicadas; 18 mil hectares embargados; e 1.440 empreendimentos/empreendedores fiscalizados. Ele contou que são vários os motivos para os desmatamentos. “A simples retirada de lenha para venda e o desflorestamento para pastagem e silvicultura são alguns deles”, destacou.

Ambientalista diz que fiscalização não é suficiente

A superintendente executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas, disse que a fala de Heitor Soares transmitiu um “quadro muito otimista”, mas que, infelizmente, não corresponderia à realidade. Para ela, a Semad, sozinha, não conseguirá reverter, apenas por meio de fiscalização, o processo de desmatamento, que seria a base de todos problemas ambientais que o planeta enfrenta hoje em dia, como a escassez de água e as mudanças climáticas.

Segundo a ambientalista, Minas Gerais é frequentemente apontado como o Estado que mais desmata a mata atlântica. Em sua opinião, as regras para autorizar o desmatamento são extremamente flexíveis. “A legislação tem que ser a favor do meio ambiente, e não de iniciativas privadas”, criticou. Ela argumentou que não considera investimento o empreendimento econômico que parta do princípio de que seja preciso “jogar mata nativa no chão”. A representante da Amda falou ainda que há um “estoque” de áreas desmatadas abandonadas e não utilizadas no Estado. “Portanto, não precisamos continuar desmatando”, pontuou.

Sobre as multas aplicadas, ela questionou se elas são realmente recolhidas. “Qual é o aparato para recolhê-las? É importante para saber a efetividade da fiscalização, pois a impunidade representa continuidade dos crimes ambientais”, ponderou.

O subsecretário de Estado de Controle e Fiscalização Ambiental Integrada, Marcelo da Fonseca, respondeu que essa questão os preocupa muito. “Estamos em um esforço muito grande para tornar as multas efetivas de fato e também para promover ações de recuperação de áreas desmatadas irregularmente”, afirmou. Segundo ele, após a lavratura dos autos de infração, o processo é enviado ao Ministério Público, para que sejam adotadas providências na esfera criminal. “Essa articulação tem dado efetividade às punições”, acredita.

Política florestal mais efetiva – A diretora de Desenvolvimento e Conservação Florestal do IEF, Fernanda Teixeira Silva, disse que o Sistema Estadual de Meio Ambiente tem muito a avançar em termos de estrutura, pessoal, orçamento e, ainda, na construção de uma política florestal mais efetiva e mais voltada para pequenos produtores.

Já o analista da Assessoria de Meio Ambiente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Carlos Alberto de Oliveira, falou que gostaria de ver a Semad e o IEF dando mais atenção à educação ambiental.

Para o gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Wagner Soares Costa, “a burocracia excessiva para se obter o licenciamento para desmatamento acaba levando à marginalidade".

O consultor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetaemg), Eduardo Nascimento, por sua vez, acredita que o patamar de desmatamento atual vai continuar. Para tentar reduzi-lo, ele apresentou propostas. “Sugiro que o governo crie um grupo de gestão, que inclua todos órgãos relacionados ao meio ambiente, para sistematizar práticas sustentáveis e também que sejam estabelecidos cinco territórios para atuação prioritária na aplicação de políticas públicas, práticas sustentáveis e fiscalização”, propôs.

O consultor da Fetaemg também sugeriu, para diminuir o desmatamento, que se aumente a interlocução da Semad com a sociedade. “Nos dez municípios mineiros onde ocorre mais desmatamento, seria importante fazer reunião com prefeitura, vereadores, entidades ambientais e Ministério Público para construir alternativas econômicas, aplicação de políticas públicas e regularização fundiária”, argumentou. Por fim, ele ainda afirmou que seria importante uma reunião na ALMG para que fossem apresentadas ações no Orçamento do Estado já encaminhado à Assembleia, com objetivo de se explicar o que consta no documento sobre o assunto debatido.

Deputados manifestam preocupação com o desmatamento

Os deputados Inácio Franco (PV), Carlos Pimenta (PDT), Dilzon Melo (PTB) e Cássio Soares manifestaram suas preocupações em relação à questão. Para o deputado Inácio Franco, a burocracia excessiva é um obstáculo para as soluções necessárias. “Há muita burocracia e pouca ação para sanar os problemas ambientais. O momento exige ação concreta e também a destinação de verbas para efetivar projetos que solucionem as demandas”, ponderou.

O deputado Carlos Pimenta disse ver seriedade nas ações da Semad e manifestou esperança de que a secretaria consiga concretizar ações que corrijam possíveis distorções em relação à fiscalização do desmatamento. O parlamentar falou, ainda, sobre afluentes do Rio São Francisco, no Norte de Minas, que estariam secando. Ele entregou ao presidente da comissão uma cópia do Plano Diretor que propõe a recuperação da Bacia do Médio São Francisco.

O deputado Cássio Soares destacou a importância de haver fiscalização contra desmatamentos e de promover educação ambiental no Estado. Já o deputado Dilzon Melo (PTB) mostrou-se pessimista. “Já vi, ao longo dos anos, planos e projetos ambientais sendo lançados e poucos são executados”, ressaltou. Para ele, é preciso uma reestruturação na Semad, com a criação de objetivos claros.

Ao final da reunião, foram aprovados requerimentos dos deputados endereçados a órgãos de meio ambiente do Estado, solicitando providências, informações e ações contra o desmatamento. Também foi acatado requerimento para a realização de reunião para avaliar licenciamentos ambientais, seus entraves administrativos e os obstáculos à celeridade dos trâmites.

Consulte o resultado da reunião.