Comissões da Assembleia debateram a situação do sistema prisional e as condições de trabalho dos rodoviários de Ipatinga e região
Deputados cobraram um plano metropolitano de segurança e ações interdisciplinares entre os órgãos de defesa

Vale do Aço reclama de superlotação de presídios

Falta de estrutura adequada para acolher os detentos foi uma das principais causas de rebelião no Ceresp de Ipatinga.

24/09/2015 - 19:40

Uma rebelião no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) de Ipatinga no mês de agosto resultou na morte de um detento e na troca do comando da unidade prisional. Quatro ônibus do transporte público foram incendiados por ordem de um grupo de presidiários e a sensação de insegurança se instaurou na região. A polícia e a Justiça agiram prontamente, mas um longo caminho ainda precisa ser percorrido para resolver problemas estruturais como a superlotação dos presídios e a falta de estrutura das forças de segurança.

Essa foi a conclusão dos participantes de audiência pública conjunta das Comissões de Segurança Pública e do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) promovida nesta quinta-feira (24/9/15) no município do Vale do Aço.

Os líderes do motim alegavam ser vítimas de maus-tratos e reclamavam do excesso de presos no Ceresp, que, apesar de ter capacidade para receber 183 detentos, acolhia 681 pessoas à época. Também circularam nas redes sociais vídeos e áudios dos presos, nos quais ameaçavam novos ataques, que acabaram não ocorrerendo.

A Polícia Militar refutou a veracidade de algumas gravações supostamente feitas dentro da unidade e anunciou medidas, em conjunto com a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), para tranquilizar a população, como a escolta temporária do transporte público e o aprofundamento das investigações sobre a rebelião. “No momento oportuno iremos apresentar os autores. A polícia está trabalhando intensamente para elucidar o caso”, informou o delegado Alexsander Esteves Palmeira.

“A PM está prendendo quem deve ser preso. Prisão é prevenção. No entanto, mesmo com o problema de superlotação, não foi organizado nenhum mutirão para julgar os processos”, afirmou o comandante da 12ª Região da Polícia Militar, coronel Edvanio Rosa Carneiro. Ele cobrou uma parceria maior entre a polícia e órgãos da Justiça para evitar o acúmulo de detentos nas unidades prisionais.

Na mesma linha, o assessor-chefe do gabinete da Subsecretaria de Estado de Administração Prisional, Zuley Jacinto de Souza, defendeu que os membros de facções criminosas sejam transferidos para o presídio de Francisco Sá (Norte de Minas), que trabalha com um regime disciplinar diferenciado. “Para isso, precisamos da anuência do Ministério Públio e do Judiciário”, pontuou.

Por decisão judicial, o Ceresp de Ipatinga tem autorização para receber hoje o limite de 549 presos – atualmente, são 555. Para se chegar a esse número, houve a transferência de detentos para outras unidades. “A situação no momento está controlada”, garantiu Zuley de Souza, que ainda anunciou que o Governo do Estado pretende criar, no mínimo, mais 3 mil vagas no sistema penitenciário.

Superlotação não é exclusividade do Ceresp de Ipatinga

As dificuldades do Ceresp de Ipatinga ganharam mais publicidade com a manifestação dos presos, mas são semelhantes às das outras unidades prisionais da região, localizadas em Timóteo, Ipaba e Coronel Fabriciano. Segundo o deputado Celinho do Sinttrocel (PCdoB), que solicitou a audiência em conjunto com o deputado Sargento Rodrigues (PDT), cerca de 2 mil pessoas estão presas no Vale do Aço, número ao menos três vezes maior do que a capacidade ideal das instituições locais. “As condições do sistema prisional são degradantes. Os presídios são caldeirões prestes a explodir”, alertou.

Ele cobrou um plano metropolitano de segurança e ações interdisciplinares e abrangentes compartilhadas entre os órgãos de defesa. “Não temos como continuar com essa realidade. Queremos um olhar da Secretaria de Defesa Social para a região e investimentos do governo”, complementou.

O deputado Sargento Rodrigues foi mais um a defender o trabalho integrado dos órgãos de segurança e a transferência de presos perigosos para a penitenciária de Francisco Sá, mais preparada para recebê-los. O parlamentar ainda cobrou o pleno funcionamento do serviço de inteligência da polícia, para prever com antecedência ataques como os ocorridos em Ipatinga, e repasses do Governo do Estado para investimentos e o custeio das polícias e do Corpo de Bombeiros.

“Houve uma redução drástica nos investimentos em segurança pública no atual governo. Para se ter uma ideia, a Polícia Civil recebeu R$ 36 milhões nos oito primeiros meses de 2014, enquanto no mesmo período deste ano esse valor chega a R$ 185 mil. Também houve contingenciamento das verbas para custeio, essenciais para o funcionamento das corporações”, ressaltou.

O deputado Sargento Rodrigues enfatizou, ainda, que aguarda até novembro para comprovar se o secretário de Estado de Defesa Social, Bernardo Santana, vai cumprir a promessa feita em audiência da Comissão de Segurança Pública, em maio, de criar 4 mil novas vagas nas penitenciárias mineiras.

Consulte o resultado da reunião.