Teatro amador pede políticas públicas específicas
Demandas apresentadas em audiência na ALMG incluem uso de prédios abandonados para atividades culturais no interior.
23/09/2015 - 20:28 - Atualizado em 24/09/2015 - 11:32O uso de prédios públicos abandonados para atividades culturais no interior; a realização de editais específicos para o teatro amador; a criação de vagas para grupos de teatro do interior dentro do Conselho Estadual de Cultura e a elaboração de leis para apoiar viagens de intercâmbio teatral entre as cidades mineiras. Essas foram as principais demandas discutidas durante audiência pública da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quarta (23/9/15), que teve como tema políticas públicas para o teatro amador no interior do Estado.
O coordenador do Festival Nacional de Teatro de Araguari, Nassim Pereira Guerra, foi quem apresentou as propostas, compiladas em documento produzido a partir de seminários realizados no Triângulo Mineiro e na Zona da Mata. Organizadora do Festival Nacional de Teófilo Otoni e Vale do Mucuri, Vanessa Juliana da Silva foi quem sugeriu o uso de prédios públicos abandonados. Ela frisou que em Teófilo Otoni não há nenhum equipamento cultural, mas a antiga cadeia pública do município está sem uso e poderia ser reformada para se transformar num teatro.
Autor do requerimento para realização da reunião, o deputado Glaycon Franco (PTN) disse que a iniciativa poderia beneficiar não apenas as companhias de teatro, mas toda a área cultural, já que os espaços seriam usados também para outras atividades. O deputado Professor Neivaldo (PT) citou dois teatros de Uberlândia - o Grande Otelo e o Rondon Pacheco -, que são históricos e precisam ser revitalizados e mais bem aproveitados pelas companhias de teatro amador.
O secretário de Estado de Cultura, Angelo Oswaldo, se mostrou adepto da ideia e prometeu fazer um levantamento dos espaços que poderiam ser aproveitados. Ele agradeceu também aos representantes dos grupos teatrais pelas demandas. “Agora temos uma pauta de trabalho nesse campo. Vivemos um momento de dificuldades financeiras, mas isso não nos desanima; ao contrário, nos encoraja a lutar”, disse.
Secretaria quer mudar leis de incentivo
O secretário adjunto de Estado de Cultura, Bernardo da Mata Machado, falou dos esforços da pasta para a mudança da Lei Estadual de Incentivo à Cultura e da Lei do Fundo Estadual de Cultura. O objetivo é fazer a junção dos dois instrumentos e equilibrar o incentivo fiscal e os recursos do fundo. “Vamos mudar as leis para que elas contemplem todas as regiões do Estado e todos os segmentos culturais. Para isso, precisamos do apoio de vocês, não atendidos pelo modelo atual. Para que a nova legislação possa tramitar, vocês devem se mobilizar”, disse.
O presidente da comissão, deputado Bosco (PTdoB), falou dos esforços que a Assembleia tem feito para valorizar todos os segmentos culturais. “Temos um Plano Estadual de Cultura que foi entregue na ALMG e realizaremos fóruns regionais para debatê-lo. Contamos com a participação de todos”, afirmou.
A atriz e presidente da Cia. de Artes Asa do Invento de Governador Valadares, Nazza Amaral, destacou a burocracia enorme das atuais leis da cultura e a dificuldade de, quando aprovados, captar recursos para os projetos junto às empresas. “Fazemos eventos no peito e na raça, que para beneficiam o Estado inteiro”, disse.
O diretor da Casa de Teatro de Conselheiro Lafaiete, Geraldo Lafaiete, também relatou dificuldades para captar pela Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), e o coordenador do Festival de Teatro de Ubá, Lucas Menezes, reclamou que muitas empresas não cumprem seu papel de incentivadoras da cultura regional. “Elas precisavam se conscientizar da importância do teatro para as comunidades em que estão. Neste ano, com todas as dificuldades, recebemos 30 espetáculos, um deles de Angola. A falta de estrutura nos impossibilita de fazer coisas ainda melhores”, disse.
Representando o Festival de Teatro de São João Nepomuceno (Nepopó), Josiane Faria de Figueiredo falou da necessidade de reconhecimento dos artistas do teatro amador. “Não visamos ao lucro, mas queremos ser vistos e respeitados”, cobrou. A presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões (Sated-MG), Maria Magdalena Rodrigues da Silva, reforçou a necessidade de melhores condições de trabalho e de políticas públicas voltadas para o segmento. “Não é porque vocês são amadores, exercendo outras atividades profissionais, que não merecem atenção voltada para a sua arte”, defendeu.
O superintendente de Interiorização e Ação Cultural, João Batista Miguel, ressaltou a necessidade de uma mobilização coletiva do segmento teatral mineiro. “Estamos com a proposta de criação de um portal com informações sobre todos os teatros e companhias teatrais mineiros. Por favor, enviem os dados de vocês para nós os cadastrarmos. Acreditamos que ter um site colaborará em que conheçamos uns aos outros e onde podem ser feitas apresentações, ofertas de espetáculos. Vamos fazer também um levantamento dos festivais. Pecamos pela falta de intercâmbio e isso também contribui para que não tenhamos visibilidade”, disse.