Moradores do bairro reclamaram de barulho e insegurança, já os atendidos pelo albergue defenderam a continuidade do espaço

Albergue incomoda moradores do bairro Floresta

Instituição, que funcionava na Pedreira Prado Lopes, atende 400 pessoas em situação de rua por dia.

17/06/2015 - 22:47 - Atualizado em 18/06/2015 - 11:29

Moradores do bairro Floresta, em Belo Horizonte, questionaram as razões da instalação de um albergue para pessoas em situação de rua na região e reclamaram do aumento de violência e do barulho. Albergados e o administrador do local defenderam a permanência das atividades. A reunião foi realizada na noite desta quarta-feira (17/6/15) pela Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) no auditório da Faculdade Estácio de Sá.

O foco das reclamações diz respeito ao albergue localizado na Rua Conselheiro Rocha, 321, que atende diariamente cerca de 400 pessoas. O local é gerenciado pela Associação Espírita Grupo Consolador com o apoio do Governo do Estado e da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e se instalou no bairro Floresta em 2010, transferido da Pedreira Prado Lopes. O prédio em que a instituição funciona seria do Governo do Estado, mas a fiscalização e a autorização para funcionamento caberia à PBH.

O major Renato Federici, do 1º Batalhão da Polícia Militar, apresentou alguns números e disse que alguns delitos aumentaram no bairro, enquanto outros diminuíram. Furtos e danos materiais teriam diminuído; lesões corporais e consumo de drogas, por sua vez, teriam aumentado. “Não estamos alheios à situação. Tentamos tipificar, definir dia, horário, local onde os delitos acontecem, mas o que ocorre é que eles migram”, disse.

Alguns moradores da Floresta reclamaram do barulho do albergue até meia-noite e da bagunça já às 5 horas da manhã. Outros relataram situações de insegurança. Também foi motivo de insatisfação a falta de envolvimento dos moradores na decisão de instalar o albergue no bairro.

A presidente da Associação de Moradores do Bairro Floresta, Elizabeth Pestana, disse que o desejo dos moradores é de que o albergue seja transferido para outra região e o prédio seja aproveitado para a instalação de um centro de saúde. A vice-presidente da entidade, Eliana Kondon, também reclamou das Centrais de Flagrantes da Polícia Civil. "O bairro virou um depósito. Estamos vivendo um terror aqui, estamos com medo de sair às ruas”, disse.

Albergados reclamam de preconceito

O representante do albergue, Gladston da Silva Laje, falou sobre as dificuldades do trabalho, mas defendeu sua continuidade. “O serviço é de altíssima rotatividade e é inglório porque, nos casos em que temos sucesso na promoção social da pessoa, não a vemos mais”, disse. Ele descreveu as várias categorias das pessoas atendidas e disse que é feita uma triagem para que o atendimento seja direcionado.

Segundo ele, o albergue recebe desde pessoas que chegaram à cidade e, assaltados, teriam ficado sem documentos e dinheiro até pessoas com transtornos mentais e egressos do sistema prisional. Muitos, segundo ele, efetivamente buscam chances de emprego, e outros precisam de atendimento médico. A instituição, segundo ele, faz essa triagem e tenta encaminhar os casos.

“Os problemas são críticos: drogas, bebidas e muita coisa por trás. É muito fácil apontar para o albergue e dizer que ele é a causa dos problemas. Não é. A sociedade está tentando esconder as reais causas de tudo isso. Podem mudar o albergue de lugar, mas isso vai só fazer o problema migrar e não vai resolver nada”, disse um dos albergados, Leonardo.

“Não é só porque somos usuários do albergue que somos ruins. Ali tem muita gente com profissão, muita gente que quer mudar de vida. Tem alguns que não querem, que se infiltram, mas não são todos. Vocês têm o direito de reivindicar, mas olhem o nosso lado também. Fiquem um dia na rua com a gente e vocês verão como é”, disse outro albergado, Jaime.

Fiscalização - O deputado Fred Costa (PEN) questionou a ausência na reunião de representantes da PBH, que, segundo ele, é responsável pela fiscalização e pelo bom funcionamento desse tipo de instituição. Ele elogiou o trabalho do albergue e disse que o problema é que é um tipo de instituição que todos admiram, mas que ninguém quer ter perto de casa. O parlamentar também afirmou que a legislação penal no País é fraca e atribuiu parte dos problemas a ativistas de direitos humanos que acabam, segundo ele, defendendo bandidos. Também criticou a posição da imprensa de divulgar ações nas quais policiais acabam atirando e gerando vítimas.

Consulte o resultado da reunião.